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domingo, 20 de setembro de 2015

O Esplendor da Verdade



Não há manjar mais saboroso para a alma do que conhecer a verdade
(Lactâncio, de fals. rel., lib. I, Cap 1)


              A verdade é o nosso impulsor e nosso tesouro. Trazê-la no coração é nossa honra; espalhá-la, nossa alegria. Pois, conforme ensinou o doutor angélico: “levar os homens ao conhecimento da verdade é o maior benefício que podemos lhes prestar”. E fazermos desta afirmação nosso lema.

A nada, os homens buscam com mais ardor, do que este tesouro imperecível que vem do alto. O homem busca com ardor a verdade porque a verdade constitui a felicidade de sua alma. "Ultima felicitas hominis est in cxontemplatione veritatis". [1]

Todo homem tem desejo natural de conhecer a verdade, e uma das provas incontestáveis disso, ensina Sto Agostinho, é que “embora haja muitos homens que gostam de enganar, nenhum deles gosta de ser enganado”. [2]

O que faz os homens investigarem os oceanos, o universo e as profundezas da terra, senão a busca pela verdade!
Portanto, a busca pela verdade, constitui uma a aspiracao mais intima do homem. Mas, esta busca é drasticamente afetada pelo fato de o homem trazer em si a grave consequência do pecado original, chamada “patologia do conhecimento”.
E esta patologia espiritual afetou no homem a capacidade de ver, e conhecer claramente, as coisas como de fato elas são. 
A visão é ofuscada por um egoísmo delirante, de modo que, o homem, ao invés de ver as coisas como elas são, as vê como ele é!

Por isso, a otimista Pollyanna, -- ilustre personagem de Eleanor Porter --, via o mundo todo cor de rosa, enquanto o pessimista Scrooge, -- de Charles Dickens --, o via todo cinzento. Porque viam conforme seus corações. 
Portanto, filosoficamente falando, a patologia do conhecimento é uma distorção da análise objetiva, e às vezes conflita com a realidade subjetiva, gerando assim as graves distorções de conhecimento que legou tantos erros filosóficos. E exemplos não nos faltam: Marx, Descartes, Kant, Foucault, Freud, Sartre etc.

Apesar desta visão turva, o homem nunca perdeu a nostalgia interior de conhecer o que é verdade, de modo que, o que não é verdadeiro o inquieta e insatisfaz, e o leva a buscar algo além. Assim passa a perseguir a verdade em seus reflexos, e convencidos de haver encontrado a verdade, confundem o vulto com a presença. 

A verdade só pode ser encontrada no interior do homem!

Em nenhum lugar se pode chegar mais perto da verdade do que no interior do homem. In interiore homine habitat veritas [3]

Neste sentido continua o doctor máximus: “Os homens saem para fazer turismo, para admirar o pico das montanhas, o barulho das ondas, o fácil e copioso curso dos rios, as revoluções e o giro dos astros, mas nunca olham para dentro de si mesmo”. [4]
Sim, os homens ignoram o seu interior e anseiam conhecer a verdade. Investigam o universo, e desconhecem a si mesmos.

A primeira questão que deveria nos envolver é esta: "quem somos?".

Era esta a interrogação esculpida no mítico templo dos delfos: “Nosce te ipsum?” – conhece-te a ti mesmo?  --Para assinalar que os homens, desde os estados primitivos se inquietavam com o profundo mistério que habitava em suas almas.

Como pretende o homem chegar ao conhecimento da verdade se desconhece a si mesmo? A verdade se encontra no interior e somente o homem interior a pode encontra-la!

A oração é o caminho que Deus dispôs para o homem mergulhar em si, e encontrar-se com o mistério inefável de sua existência.
No recinto sagrado de seu ser, onde arde a chama sagrada da verdade, o homem ao encontrar-se consigo, encontra-se com Deus, e Deus é a verdade!

Como encontrará tal verdade o homem dissipado e sensual do século XXI? Que vive imerso na confusão das metrópoles?  

O barulho lancinante das cidades não satisfaz a alma; o coração tem sede do infinito que se oculta em seu interior. Às vezes, no inquietante cotidiano, o ser sente os frêmitos da alma clamando: ‘‘Precisa encontrar-te’’.

Eis o que é a oração, primeiramente, um encontro consigo. 
Portanto, estar longe da oração e da meditação, é estar longe de si mesmo. E quão angustiante, é andar perdido!                                                        
No mundo há centenas de intelectuais frustrados, porque conhecem tantas coisas, mas desconhecem seus interiores. 

Lembra piedosamente das páginas da Imitação: ‘‘Por certo, agrada mais a Deus, o humilde camponês que serve a Deus, do que o filosofo soberbo que observa o curso dos astros, mas se descuida de si mesmo’’ [5].


Verdades Modernas


     O mundo moderno segue uma estranha concepção de verdade. Ou melhor, de verdades, que em suma não existem. Esta é a loucura que o subjetivismo causou no ser, uma desordem ontológica, diríamos.

O subjetivismo Kantiano, que postula não haver verdade objetiva, mas unicamente “Verdades” subjetivas, lançou a humanidade nas mais densas trevas, ao abolir certezas, criou a ditadura das incertezas. Conforme a máxima sofista, "o homem passou a ser a medida de todas as coisas”.

A verdade na definição tomista é a adequação da ideia do sujeito ao objeto, mas para Kant é o inverso: A verdade é a adaptação do objeto a ideia do sujeito. Portanto, cada um é dono de sua própria verdade!

Tal subjetivismo criou a Babel dos tempos modernos, onde muitas verdades figuram sem a universalidade da verdade. Este subjetivismo foi objeto de grande preocupação de João Paulo II expresso em sua encíclica Splendor Veritatis:

“Em algumas correntes do pensamento moderno, chegou-se a exaltar a liberdade até ao ponto de se tornar um absoluto, que seria as fontes dos valores [...] atribuíram-se à consciência individual as prerrogativas de instância suprema do juízo moral, que decide categórica e infalivelmente o bem e o mal. À afirmação do dever de seguir a própria consciência foi indevidamente acrescentada aquela outra de que o juízo moral é verdadeiro pelo (simples) fato de provir da consciência [...] tende-se a conceder à consciência do individuo o privilegio de estabelecer autonomamente os critérios do bem e do mal”. [6]

A verdade subjetiva de Kant é a autentica tradução do alarido insano dos hospícios, onde todos falam, mas ninguém se entende.

Sobre a verdade, não podemos opinar. Assim como a morte é uma verdade inexorável, onde, aceitando ou não, ela jamais deixará de existir. Assim, os fatos não depende do que cada um acha. A verdade está além do querer dos homens. A existência de Deus, por exemplo, é uma verdade experimental. ‘‘Ex nihil, nihilo fiat’’ – do nada, nada se faz. 
Mas, como o subjetivismo não se apoia em fatos, mas na consciência individual, cada um pode criar sua própria verdade. Logo, desta triste confusão do pensamento humano (o subjetivismo) só se conclui uma verdade: não há verdade!

O que é a verdade?

A mesma pergunta que ecoou dos lábios de Pilatos há mais de dois milênios: O que é a verdade? (Jo 19, 38) ressoa ao longo dos séculos em tantas filosofias vãs e efemeras. “Ego sum veritas”, - responde o Divino Mestre ao longo dos séculos à estas filosofias.

A verdade não é uma ideia... É uma pessoa!  Uma pessoa pela qual, milhares de homens e mulheres não temeram renunciar tudo e até abraçar a morte. 
S. Justino, mártir dos primeiros séculos, com toda a convicção e ardor de sua alma professou a verdade pela qual viveu e morreu: ‘‘Só no cristianismo encontrei a única filosofia segura e vantajosa.’’ [7] 

O cristianismo não é uma efêmera corrente filosófica, é uma ciência eterna e inesgotável. Foi a mesma doutrina que abrasou o coração de Pedro, o humilde pescador da Galiléia,  a morrer na cruz há mais de dois mil anos, e Maximiliano Kolbe, a se imolar num campo de concentração nazista do século XX. 
20 séculos distanciam o humilde pescador da Galiléia, do humilde frade polonês, mas a mesma verdade os impeliu ao martírio. 
Este é o cristianismo, uma verdade eterna e imutável que gerou milhares de doutores, virgens e mártires, e que está de pé há mais de dois mil anos porque foi edificado sobre a firme rocha da verdade, que não é uma ideia, mas uma pessoa: Jesus Cristo.


Notas:

1. Sto Tomás de Áquino. Suma contra os gentios, III, 37
2. Sto Agostinho. Confissões, C, 23, 33.
3. Sto Agostinho. De vera religione, XXXIX, 72
4. Sto Agostinho. Confissões. Livro X, cap. VIII.
5. Imitação de Cristo. Cap. I, I
6. S. S João Paulo II. Veritatis Splendor, n. 32.
7. S. Justino, mártir. Diálogo com Trifão, 8, 2.


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