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sexta-feira, 8 de julho de 2016

O que é o conservadorismo?


Conservador é o individuo que ama os valores culturais sob os quais foi criado, e se recusa a rejeitá-los, não por medo da mudança, mas porque ele tem “consciência de que as coisas admiráveis, -- como belamente expressa Roger Scruton --, são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas”; sabe que cada parte da sociedade em que vive é o resultado de séculos de contemplação e esforços humanos, e que não se pode descarta-las do dia para noite em detrimento de alternativas irrealistas e hipotéticas de uma nova sociedade. 

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     Muito se tem falado em conservadorismo nas últimas décadas, porém, na maioria das vezes, de forma imprecisa e pejorativa. O termo, antes restrito aos círculos intelectuais, passou a fazer parte do vocabulário comum, -- assim como aconteceu com muitas outras expressões --, e tornar-se confuso pelo excesso de usos indevidos.
Tão grande foi a confusão criada em torno deste termo, que na maioria das vezes ele é encarado como uma nova ideologia, uma religião, um partido ou um dogma; coisas que não fazem nenhum sentido em face da atitude conservadora. 

A principio, podemos dizer que o conservadorismo é uma característica natural do temperamento humano.1 Observa-se este temperamento em quase todas as sociedades, do ocidente ao oriente. 
Conservador é o individuo que ama os valores culturais sob os quais foi criado, e se recusa a rejeitá-los, não por medo da mudança, mas porque ele tem “consciência de que as coisas admiráveis, -- como belamente expressa Roger Scruton --, são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas”. (SCRUTON 2015, p. 9); sabe que cada parte da sociedade em que vive é o resultado de séculos de contemplação e esforços humanos, e que não se pode descarta-las do dia para noite em detrimento de alternativas irrealistas e hipotéticas de uma nova sociedade. Em outras palavras, o conservador não está disposto a trocar o certo pelo duvidoso.

A definição do conservadorismo como um “temperamento natural humano” é unanime entre os maiores nomes do pensamento conservador, (Hearnshaw, Burke, Kirk, Scruton et cetera) Oakeshott define o conservadorismo como uma conduta natural humana, não diferindo muito do sentido aqui exposto. Diz ele: “Nem uma crença, nem uma doutrina, mas uma forma de ser e estar”. No mesmo sentido, Russell Kirk define o conservadorismo como "um estado de espírito, um tipo de caráter, um modo de ver a ordem cívil e social" que está sustentada sobre um "conjunto de sentimentos, e não em um sistema de dogmas ideologicos". Portanto, antes de haver manuais sobre o conservadorismo ou mesmo uma definição precisa do termo, ele já existia no caráter das pessoas.

A origem deste termo (conservadorismo) é comumente atribuída ao filosofo irlandês Edmund Burke (1729-1797), que o definiu como referência a atitude natural de um povo em resposta a uma destruição radical de seus valores, como acontece em uma revolução. 
Ao cunhar o termo, Burke nada mais fez que conceituar um comportamento presente há milênios na humanidade. O próprio povo chinês respondeu as mudanças advindas da revolução maoísta, com claras amostras de conservadorismo. Onde quer que se instaure a revolução, se manifesta imediatamente em resposta o espírito conservador.

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O conservadorismo, dizia Roger Scruton, é um sentimento que quase todas as pessoas maduras compartilham com facilidade (Scruton, 2015, p. 9) 
Neste sentido se pode dizer que o conservadorismo exige uma certa dose de maturidade para ser abraçado. Não à toa, o conservadorismo é mais comum em pessoas adultas do que em adolescentes.

O que o conservadorismo quer conservar?

Antes de tudo, valores! Valores que conduzem a um fim, o sumo bem! Tudo o que compõe e caracteriza a civilização ocidental nasceu tendo em vista este fim.

Contrapondo-se a atitude conservadora, está a atitude revolucionária, que é, antes de tudo, uma revolta contra a realidade natural, por encontrar nela, empecilhos para a plena satisfação dos instintos egoístas e sensuais do homem. Dessa torrente de orgulho e sensualidade nascem as várias ideologias que ameaçam a ordem social. 

Se a revolução tem como causa profunda o orgulho, o primeiro inimigo a ser derrotado será qualquer autoridade que esteja estabelecido na sociedade e imponha algum limite ao pleno gozo das bestialidades humanas. No encalço de satisfazer estas pulsões delirantes, três revoluções, -- a que ouso chamar "revoluções mater" --, se desencadearam na sociedade, gerando uma série de mudanças na visão e personalidade do homem ocidental: A pseudo-Reforma Protestante (1517), a Revolução Francesa (1789) e a Revolução Comunista (iniciada por Marx no final do século XIX e levada avante até os nosso dias).
Primeiro, Lutero rebelou-se contra a autoridade do Papa, Robespierre contra a autoridade do Rei, e Marx, num único passo, contra todas as autoridades estabelecidas na sociedade, em nome de uma nova sociedade plenamente igualitária.

Estas revoluções modificaram profundamente a mentalidade ocidental. A começar pelo fim a que estava ordenada a ordem social desde os templos clássicos: a busca por um sumo bem. O homem passou a não busca mais um fim sublime, um sentido na existência, mas a satisfação plena de seus instintos, inclusive os mais bestiais. 
Daí nasce a sociedade bestializada em que vivemos. Por conta de um grave acidente de percurso que nos confinou no ambiente caótico moderno. A busca desenfreada pelo prazer que caracteriza nossa sociedade foi consequência direta das revoluções.

Se arrancando sua mascara, pergunta-se à Revolução: quem és tu? (...) Ela vos dirá: sou o ódio por toda a ordem social e religiosa que não tenha sido estabelecida pelo homem e na qual ele não seja rei e deus ao mesmo tempo.

A revolução é o grande inimigo da civilização ocidental. E Poucos souberam defini-la tão bem como Mons. Jean-Joseph Gaumé, que assim escreve a seu respeito:

“Se arrancando sua mascara, pergunta-se à Revolução: quem és tu? Ela vos dirá: eu não sou o que pensam. Muitos falam de mim e bem poucos me conhecem. Não sou o carbonarismo, nem motim, nem troca de monarquia por república, nem substituição de uma monarquia por outra, nem a perturbação momentânea da ordem pública. Não sou nem os latidos dos jacobinos, nem os furores da Montagne, nem a guerrilha, nem a pilhagem, nem o incêndio, nem a reforma agrária, nem a guilhotina, nem as execuções. Não sou nem Marat, nem Robespierre, nem Babeuf, nem Mazzini, nem Kassut. Esses homens são meus filhos, mas não sou eu. Essas coisas são minhas obras, mas não sou eu. Esses homens e essas coisas são passageiras, mas eu sou um estado permanente. Sou o ódio por toda a ordem social e religiosa que não tenha sido estabelecida pelo homem e na qual ele não seja rei e deus ao mesmo tempo. Sou a proclamação dos direitos do homem sem respeito aos direitos de Deus; sou a filosofia da revolta; a política da revolta; a religião da revolta; sou a negação armada; sou a fundação do estado religioso e social sobre a vontade do homem, em lugar da vontade de Deus; em uma palavra, sou a anárquia, porque quero ver Deus destronado e o homem em seu lugar. Eis porque me chamo Revolução, ou seja, subversão, porque eu coloco em cima, aquele que segundo a lei eterna deveria star em baixo, e ponho a baixo Aquele que deveria estar em cima”.
(GAUME, 1856. p. 16-17)

E de fato, este é o significado mais preciso da Revolução: subversão. Subversão de toda ordem que não tenha sido estabelecida pelo homem. 
Neste sentido, o conservadorismo apresenta-se como uma resposta ao espírito revolucionário.  
O conservadorismo despreza a tresloucada pretensão revolucionaria de criar um paraíso na terra, pois esta experiência geralmente culmina em novos infernos.

PS: 

Se nossa civilização nasceu com o fim de elevar o homem a um fim sublime, a nova civilização idealizada pelos revolucionário tem por objetivo final, satisfazer todos os instintos do homem, reconduzindo-o ao estado bárbaro. Eis porque todas as bestialidades humanas passam a ser legitimadas pelos revolucionários: Porque a Revolução é fundada sobre as perversões do coração humano.


Notas:


SCRUTON, Roger.  Como ser um conservador. 1. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. 
GAUME, Jean-Joseph. La Révolution, Recherches Historiques. I Tomo, Révolution Française. Paris, Librairees-éditeurs, 1856. 

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