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Muito
se tem falado em conservadorismo nas
últimas décadas, porém, na maioria das vezes, de forma imprecisa e pejorativa.
O termo, antes restrito aos círculos intelectuais, passou a fazer parte do
vocabulário comum, -- assim como aconteceu com muitas outras expressões --, e
tornar-se confuso pelo excesso de usos indevidos.
Tão
grande foi a confusão criada em torno deste termo, que na maioria das vezes ele
é encarado como uma nova ideologia, uma religião, um partido ou um dogma; coisas
que não fazem nenhum sentido em face da atitude conservadora.
A
principio, podemos dizer que o conservadorismo é uma característica natural do
temperamento humano.1 Observa-se este temperamento em quase todas as sociedades, do ocidente ao oriente.
Conservador é o individuo que ama os valores
culturais sob os quais foi criado, e se recusa a rejeitá-los, não por medo da
mudança, mas porque ele tem “consciência de que as coisas admiráveis, -- como belamente expressa Roger Scruton --, são
facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas”. (SCRUTON 2015, p. 9); sabe
que cada parte da sociedade em que vive é o resultado de séculos de contemplação
e esforços humanos, e que não se pode descarta-las do dia para noite em
detrimento de alternativas irrealistas e hipotéticas de uma nova sociedade. Em
outras palavras, o conservador não está disposto a trocar o certo pelo
duvidoso.
A
definição do conservadorismo como um “temperamento natural humano” é unanime
entre os maiores nomes do pensamento conservador, (Hearnshaw, Burke, Kirk, Scruton et cetera) Oakeshott define o conservadorismo como uma conduta natural humana, não diferindo muito do sentido aqui exposto. Diz ele: “Nem uma crença, nem
uma doutrina, mas uma forma de ser e estar”. No mesmo sentido, Russell Kirk define o conservadorismo como "um estado de espírito, um tipo de caráter, um modo de ver a ordem cívil e social" que está sustentada sobre um "conjunto de sentimentos, e não em um sistema de dogmas ideologicos". Portanto, antes de haver manuais sobre o conservadorismo ou mesmo uma definição precisa do termo, ele já existia no caráter das pessoas.
A origem deste termo (conservadorismo) é comumente atribuída ao filosofo irlandês Edmund Burke (1729-1797),
que o definiu como referência a atitude natural de um povo em resposta a uma
destruição radical de seus valores, como acontece em uma revolução.
Ao cunhar o termo, Burke
nada mais fez que conceituar um comportamento presente há milênios na humanidade. O próprio povo chinês respondeu as mudanças advindas da
revolução maoísta, com claras amostras de conservadorismo. Onde quer que se instaure a revolução, se manifesta imediatamente em resposta o espírito conservador.
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O conservadorismo,
dizia Roger Scruton, é um sentimento que
quase todas as pessoas maduras compartilham com facilidade (Scruton, 2015, p. 9)
Neste sentido se pode dizer que o conservadorismo exige uma certa dose de maturidade para ser abraçado. Não à toa, o conservadorismo é mais comum em pessoas adultas do que em adolescentes.
Neste sentido se pode dizer que o conservadorismo exige uma certa dose de maturidade para ser abraçado. Não à toa, o conservadorismo é mais comum em pessoas adultas do que em adolescentes.
O que o conservadorismo quer
conservar?
Antes
de tudo, valores! Valores que conduzem a um fim, o sumo bem! Tudo o que compõe e caracteriza a civilização ocidental
nasceu tendo em vista este fim.
Contrapondo-se
a atitude conservadora, está a atitude revolucionária, que é, antes de tudo,
uma revolta contra a realidade natural, por encontrar nela, empecilhos para a
plena satisfação dos instintos egoístas e sensuais do homem. Dessa torrente de orgulho
e sensualidade nascem as várias ideologias que ameaçam a ordem social.
Se a
revolução tem como causa profunda o orgulho, o primeiro inimigo a ser derrotado
será qualquer autoridade que esteja estabelecido na sociedade e imponha algum limite ao pleno gozo das bestialidades humanas. No encalço de satisfazer estas pulsões delirantes, três revoluções, -- a que ouso chamar "revoluções mater" --, se desencadearam na sociedade, gerando uma série de mudanças na visão e personalidade do homem ocidental: A pseudo-Reforma Protestante (1517), a Revolução Francesa (1789) e a Revolução Comunista (iniciada por Marx no final do século XIX e levada avante até os nosso dias).
Primeiro, Lutero rebelou-se contra a autoridade do Papa, Robespierre contra a autoridade do Rei, e Marx, num único passo, contra todas as autoridades estabelecidas na sociedade, em nome de uma nova sociedade plenamente igualitária.
Primeiro, Lutero rebelou-se contra a autoridade do Papa, Robespierre contra a autoridade do Rei, e Marx, num único passo, contra todas as autoridades estabelecidas na sociedade, em nome de uma nova sociedade plenamente igualitária.
Estas revoluções modificaram profundamente a mentalidade ocidental. A começar
pelo fim a que estava ordenada a ordem social desde os templos clássicos: a busca
por um sumo bem. O homem passou a não busca mais um fim sublime, um sentido na
existência, mas a satisfação plena de seus instintos, inclusive os mais bestiais.
Daí nasce a sociedade bestializada em que vivemos. Por conta de um grave acidente
de percurso que nos confinou no ambiente caótico moderno. A busca desenfreada
pelo prazer que caracteriza nossa sociedade foi consequência direta das
revoluções.
A
revolução é o grande inimigo da civilização ocidental. E Poucos souberam defini-la
tão bem como Mons. Jean-Joseph Gaumé, que assim escreve a seu respeito:
“Se
arrancando sua mascara, pergunta-se à Revolução: quem és tu? Ela vos dirá: eu
não sou o que pensam. Muitos falam de mim e bem poucos me conhecem. Não sou o carbonarismo, nem motim, nem troca de
monarquia por república, nem substituição de uma monarquia por outra, nem a
perturbação momentânea da ordem pública. Não sou nem os latidos dos jacobinos,
nem os furores da Montagne, nem a guerrilha, nem a pilhagem, nem o incêndio,
nem a reforma agrária, nem a guilhotina, nem as execuções. Não sou nem Marat,
nem Robespierre, nem Babeuf, nem Mazzini, nem Kassut. Esses homens são meus
filhos, mas não sou eu. Essas coisas são minhas obras, mas não sou eu. Esses
homens e essas coisas são passageiras, mas eu sou um estado permanente. Sou o
ódio por toda a ordem social e religiosa que não tenha sido estabelecida pelo
homem e na qual ele não seja rei e deus ao mesmo tempo. Sou a proclamação dos
direitos do homem sem respeito aos direitos de Deus; sou a filosofia da
revolta; a política da revolta; a religião da revolta; sou a negação armada;
sou a fundação do estado religioso e social sobre a vontade do homem, em lugar
da vontade de Deus; em uma palavra, sou a anárquia, porque quero ver Deus destronado
e o homem em seu lugar. Eis porque me chamo Revolução, ou seja, subversão,
porque eu coloco em cima, aquele que segundo a lei eterna deveria star em baixo,
e ponho a baixo Aquele que deveria estar em cima”.
(GAUME, 1856. p. 16-17)
E
de fato, este é o significado mais preciso da Revolução: subversão. Subversão de
toda ordem que não tenha sido estabelecida pelo homem.
Neste sentido, o conservadorismo apresenta-se como uma resposta ao espírito revolucionário.
O conservadorismo despreza a tresloucada pretensão revolucionaria de criar um paraíso na terra, pois esta experiência geralmente culmina em novos infernos.
PS:
Se nossa civilização nasceu com o fim de elevar o homem a um fim sublime, a nova civilização idealizada pelos revolucionário tem por objetivo final, satisfazer todos os instintos do homem, reconduzindo-o ao estado bárbaro. Eis porque todas as bestialidades humanas passam a ser legitimadas pelos revolucionários: Porque a Revolução é fundada sobre as perversões do coração humano.
Notas:
SCRUTON,
Roger. Como ser um conservador. 1. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.
GAUME, Jean-Joseph. La Révolution, Recherches Historiques. I Tomo, Révolution Française. Paris, Librairees-éditeurs, 1856.
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