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segunda-feira, 13 de junho de 2016

As origens das ideologias totalitárias segundo Erik von Kuehnelt-Leddihn



Erik von Kuehnelt-Leddihn
(1909-1999)


       O nome chega a assustar os menos afeitos à língua germânica: Erik von Kuehnelt-Leddihn. Apesar do nome escabroso, Kuehnelt-Leddihn é um daqueles homens encantadores que a natureza costuma produzir raramente. Seu amigo William Buckley o definia como "o homem mais fascinante do mundo". Apesar do exagero da definição, Dr. Kuehnelt-Leddihn realmente era um homem excepcional. Intelectual de alta envergadura, falava oito línguas e conseguia ler em outras onze; historiador e jornalista; doutorou-se em ciências políticas pela universidade de Budapeste, e em Teologia pela universidade de Viena. Começou a publicar seus primeiros artigos ao 16 anos para um jornal de sua cidade.

Apesar de toda sua bagagem intelectual, Kuehlt-Leddihn é quase desconhecido no cenário acadêmico brasileiro. E não somente ignorado, diria até que seu pensamento fora banido pela intelligentzia, por representar um grande golpe a muitas de suas falácias. 

Um outro ponto marcante na vida do Dr. Kuehlt-Leddihn, que também não pode ser deixado de lado em qualquer coisa que se escreve a seu respeito, foi sua exuberante fé católica, Embora, esta fé tenha se eclipsado em partes por sua debandada ao liberalismo, (Dr. Kuehlt-Leddihn chegou a se auto proclamar “arqui-liberal”). A pesar disso, Dr. Kuehnelt-Leddihn sempre conservou devotado respeito à Igreja, chegando a defendê-la diversas vezes, especialmente em suas obras. Uma destas obras em que defende a Igreja de certas desonestidades intelectuais, é Liberty or equality: the challenge of our time (Liberdade ou igualdade: o desafio de nosso tempo), livro pouco conhecido em nosso país, com pouca, ou nenhuma edição brasileira (realmente desconheço se exista alguma), que ora apresentamos.

disponibilizamos um trecho da obra a nossos leitores.





Capítulo VI

HUS, LUTERO E O NACIONAL SOCIALISMO
A gênese de um movimento totalitário



Introdução


“Do ponto de vista da história das ideias, estamos convencidos de que Jan Hus1 exerceu alguma influência sobre Lutero, Mussolini, e sobre o partido Socialista Tcheco3 (o social-democrata). (Nós nos referimos aos precursores de Hus de forma muito superficial, já que quase todas as linhas da história conduzem a ele)
Lutero, por sua vez, junto com Calvino, através de um longo processo dialético, estimulou o crescimento da democracia moderna. A Revolução Francesa tem raízes que vão de Calvino, e talvez, também a Jansênio3. O Socialismo Tcheco gerou o Nacional Socialismo, que também assume alguma herança Hussita4 (Taboritas). Hus também inspirou o nacionalismo alemão do século XIX, e o nacionalismo alemão produziu Jahn5; Jahn influenciou Miroslav Tyrš6; Tyrš é a figura mais importante do nacionalismo tcheco. A democracia e o nacionalismo étnico operou na Europa mais rigorosamente.
Lutero é também um precursor de Hegel; Hegel é o mentor de Marx e Treitschke7, eis os inspiradores do socialismo, nacionalismo e estatismo. 

Marx deu sua doutrina à Alemanha, a Áustria, e de certo modo, ao Socialismo Tcheco. Treitschke, por outro lado, influenciou Schönerer8, e Schönerer influenciou Hitler.
Marx também está por trás do socialismo francês, que produziu Sorel9, que por sua vez, é admitidamente o pai espiritual do jovem socialista Mussolini, o admirador de Hus. E Mussolini influenciou Hitler.
          O Nacional Socialismo Tcheco (inspirado por Hus) provocou na Boêmia e na Moravia uma organização política Nacional Socialista entre os alemães destas duas províncias (O assim chamado Sudeto Alemão)10. Hitler, longe de ser o fundador do nazismo, apenas entrou em um pequeno, mas bem estabelecido movimento (até então)11.
       Quase todas estas ideologias – socialismo, nacionalismo étnico, fascismo, nacional socialismo dos tchecos, assim como dos alemães –, assumiram ser democráticas; mas nenhuma delas assumiu ser liberal. Todas foram hostis, de formas variadas, ao catolicismo. Todas tinham ancestrais em comum. Uma influenciou a outra intensamente, e sua pré-história não é senão uma repetição interminável e incessante de uma aliança incestual e endogâmica.

        Todas estas filosofias são anti-católicas, anti-monárquicas, e anti-tradicionais; elas se lançam unicamente para o futuro, querem construir uma nova sociedade, e se proclamam “iluminadas”. Elas se opõe à liberdade individual e são coletivistas; dividem os seres humanos em categorias especificas, e todas elas favorecem o surgimento de um Estado onipotente; elas são materialistas e se declaram “progressistas”. Tudo nelas tem afinidades com a Revolução Francesa. A maioria das lutas amargas que se travam entre elas é desesperada e impiedosa por conta de sua natureza fratricida. Elas não vêem no outro um estranho oponente. Mas, heresias se enfrentando com uma origem em comum”.


Notas:

1. Jan Hus (1369-1415) Reformador religioso tcheco. Um dos precursores de Lutero e Calvino. Foi excomungado oficialmente em 1410, e entregue ao braço secular que o condenou a fogueira.
2. Partido Socialista Tcheco ou Partido Social-democrata (Česka Strana Sociálně Demokratická) é um partido socialista fundado em 1878, inspirado na figura de Jan Hus, e que identifica como “centro-direita”.
3. Jansenius. (1585-1638) foi um heresiarca holandês. Fundador da heresia jansenista, que pregava uma moral rígida e ao mesmo tempo ineficaz, já que, para eles não importava o que se fizesse, os homens sempre serão incapazes de alcançar a misericórdia divina.  

4. Hussitas, ou Igreja Hussita, foi o movimento reformador e revolucionário que surgiu na Boêmia no século XV (Antes da rebelião de Lutero) inspirada por Jan Hus (1372-1452). O movimento mais tarde juntou-se as fileiras luteranas. Posteriormente, os Hussitas sofreram uma subdivisão interna em: Taboritas (radicais) e Utraquistas (moderados). Estes primeiros, seguidores radicais das ideias de Hus, causaram uma série de revoltas chamadas Guerras Hussitas (1419-1436). Que só foram debeladas quando os Utraquistas se uniram aos católicos para enfrenta-los.

5. Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852), foi um pedagogo e nacionalista alemão. Por ter sistematizado e transformado a ginástica em modalidade esportiva, é considerado o “pai da ginástica”. Criou a Associação Turnwerein, um clube de ginástica que acabou tornando-se centro de discussões políticas e  abrigo dos nacionalistas alemães.

6. Miroslav Tyrš (1832-1884) filosofo tcheco, historiador da arte, organizador e fundador do movimento Sokol autor de Hod Olympický 1868 (A festa olímpica) O zákonech kompozice v umění výtvarněm, 1873 (A Lei da composição na arte) O zákonu konvergence při tvoření uměleckém, 1880 (A lei da convergência na criação artística) entre outras obras sobre arte.

7. Heinrich von Treitschke (1834-1896) foi um historiador, escritor e político, e acima de tudo, nacionalista alemão. Membro do Reichstag durante o Império Alemão.

8. Georg Ritter von Schönerer (1842-1921) foi um nacionalista radical, antissemita, e político que influenciou o pensamento de Adolf Hitler. Fundou o Partido Pangermânico na Áustria.

9. Georges Sorel (1847-1922) teórico francês do sindicalismo revolucionário, marxista, e com algumas influencias anarquistas. É considerado a maior influência de Benito Mussolini.

10. Região que correspondia na época a 30.000 km2 da então Checoslováquia (atualmente República Tcheca e Eslováquia). Nesta região nasceu o Partido Alemão dos Sudetos, que reivindicou a adesão ao terceiro Reich. Acontecimento que culminou na chamada “Crise dos Sudetos” em 1938. Um dos acontecimentos que precederam a ascensão do Nacional Socialismo na Alemanha.

11. Hitler assumiu o controle do NSDAP em 1920, mas antes de sua ascensão, o nazismo já existia como ideologia de caráter nacionalista, eugenista e antissemita no pensamento dos supracitados autores, como expõe Kuehlt-leddihn. 




KUEHLT-LEDDIHN, Erik von. 
Liberty or equality: the challenge of our time. 
Caldwell: The Caxton Printers, LTD, 1952.
Cap. 6, p. 209-211.

Tradução e Notas:
Erick Ferreira

Um comentário:

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