O conservadorismo, para muitos religiosos, e até pensadores do tema como o britânico Roger Scruton (talvez um dos maiores representantes desta corrente na filosofia) é encarado como uma ideologia ou uma mera doutrina política sem nenhuma relação com a religião. No entanto, o conservadorismo é antes de tudo, um temperamento humano, que se contrapõe ao temperamento revolucionário. Num livro que estou preparando para publicar ainda este ano, O manifesto conservador, analiso estes dois temperamentos, de uma fora mais aprofundada. Por ora, deixo aqui um trecho do livro aos leitores deste blog.
Erick Ferreira
Uma
das primeiras características observadas no temperamento conservador
é a indisposição à
utopias.
Por isso, Michael
Oakeshott – um
dos máximos expoentes do pensamento conservador –,
assim define o ser
conservadorismo:
“Ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, o fato ao
mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo
ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao
perfeito, a felicidade presente à utópica”. Por
certo, nesta definição muitos verão
uma postura comodista diante da existência, mas tal
não procede, pois
o que há no
ser conservador é antes
de tudo uma postura
responsável diante da existência. Responsabilidade
que não
existe no temperamento revolucionário e na sua disposição fatal
à utopia.
Por isso,
os conservadores são
os últimos
a serem culpados
pelas tragédias que se
desencadeiam na história
protagonizados pelos
homens, pois
eles não esperam um mundo melhor, tão pouco prometem uma sociedade
ideal; são antes os revolucionários que prometem tais coisas, e são
os últimos
a assumirem a culpa
por
suas consequências
trágicas. Os
conservadores estão bem convencidos da natureza corrompida do homem
e da instabilidade da vida
terrena; os conservadores estão certos de que todas as utopias
sempre se converterão em pesadelos ao saírem do campo mental e
entrarem no terreno da realidade.
Já
que foram os revolucionários e utópicos que proclamaram o advento
de um
mundo melhor, da fraternidade universal, da sociedade perfeita; que
fizeram promessas que estavam acima de suas capacidades, e quando o
sonho utópico se tornou um
pesadelo, estes deveriam
ser os únicos a serem culpados pela
irresponsabilidade
de suas utopias,
por ignorarem verdades que todo conservador está convencido há
milhares de anos.
A primeira delas: que todo homem está indistintamente
inclinado ao mal, e que esta triste condição humana tornará sempre
vã qualquer tentativa de implantar uma sociedade perfeita
na terra.
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