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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A Marcha da Insanidade


A grande marcha da destruíção mental prossegue. 

Tudo será negado. Tudo se tornará um credo. 
É razoável negar a existência das pedras na rua; será um dogma religioso declará-lo. 
É uma tese racional dizer que vivemos um sonho; será sanidade mística dizer que estamos acordados. 
Velas serão acesas para atestar que dois mais dois são quatro. (1)


G. K Chesterton


...As correntes de pensamento merecem adequada atenção. Segundo algumas delas, de fato, o tempo das certezas teria irremediavelmente passado, o homem deveria finalmente aprender a viver num horizonte de ausência total de sentido, sob o signo do provisório e do efemero. (2)



João Paulo II





A Marcha da Insanidade

O grande pai do monaquismo ocidental, Sto Antão, vaticinou em tempos muito remotos que "chegaria um tempo em que os homens enlouqueceriam, e quando vissem alguém são, se voltariam contra ele, dizendo: tu és louco!".
O século XXI mostrou-se digno de ser visto como este tempo descrito por Sto Antão. Uma regressão brusca de mentalidade acometeu os homens. A verdade foi negada, ou melhor, tornou-se obsoleta... Como de fato o é para os loucos, pois, se existe alguém que faz pouco caso da verdade, este alguém é o insano!
A verdade é acessório de homens sensatos.

A marcha da insanidade segue em nossos dias com ares de douta erudição. Se os loucos outrora eram confinados nos hospícios, hoje ocupam as catédras e ditam normas de conduta.
Os homens do século XXI vivem o barbarismo na radicalidade.

Constatamos, tristemente, que as mentes estão fora dos trilhos... Descarrilharam dos trilhos da razão e da justiça, por um desvio brusco na rota, e seguem sem rumo na iminência de uma colisão fatal.

Este trem em rota de colisão, já se aproxima de seus quilometros finais e, por isso, um desespero maior acomete seus passageiros. E muitos, antes da colisão fatal, se lançam do trem, num ato impensado de desespero. 

Enquanto o óbvio é negado e até ridicularizado, o absurdo é enaltecido e dogmatizado.
Tornou-se razoável crêr nem nada 'irracional' crer em algo. Tudo é negado, inclusive o que se vê e se toca. 
Será perigoso dizer que existimos... Será natural afirmar o contrário.

Os sãos serão reclusados nos sanatórios por afirmar a mais radical das realidades: a verdade dos fatos, que está acima das opiniões insanas... Enquanto os loucos serão coroados.

O existencialismo


Perceber a insanidade coletiva é fácil. Basta ler as tantas idéias que surgem por aí, e atraem a grande massa. O veneno mortífero é sorvido até a borda, e os primeiros a experimentarem seus efeitos letais, são seus próprios formuladores.

Que triste e solitário foi o fim de Foucauld, Nietzsche, Marx et caterva!  
De Voltaire, conta seu amigo Trouchon: "Se um demônio pudesse morrer, morreria como Voltaire". (3)

Passamos tragicamente de um mundo católico para um mundo caótico, -- e são estas as únicas escolhas da humanidade perante a fatalidade da existência: a luz da fé ou o caos da descrença. (4)

Vivemos em um mundo caótico, onde ninguém mais sabe dizer o que é certo ou errado; e se ninguém sabe distinguir estes dois elementos fundamentais da existência. Ninguém se entende. E se ninguém se entende, a confusão está generalizada.

A verdade não é mais o fim comum para onde convergem todos os discursos, mas exatamente o seu oposto... A verdade não é mais um fim, mas um instrumento para se alcançar um fim, pois, -- conforme afirmamos acima --, a verdade já não importa para o homem moderno.

O homem moderno vive um triste jogo de enganos. Grita-se escandalosamente: não há verdade! Não há mais aquele fato acima de tudo pelo qual tantos deram a vida.

O homem moderno passou a desejar o modo de vida dos animais, a considerá-lo melhor que o comportamento humano. A vida irracional e primitiva passou a ser vista como um ideal. 
Cair ébrio nas calçadas, contrair doenças em decorrêcia da vida tresloucada, irrefletida e sem controle, é a consequência mais que natural desta derrocada forjada. 
Mas antes destes efeitos trágicos no corpo... Veio os trágicos efeitos na alma. 

A Revolução nas almas foi feita sob o nome de existencialismo.
Um insano desvio do pensamento que proclamou "o absurdo da existência" e que a vida não passa de "um insignificante produto acidental de algumas moléculas de proteínas" e que não há nenhum sentido no viver. 
Tudo é pura evolução natural sem causas, -- criação do acaso --; o sentido da vida é o homem quem lhe dá.
Em outras palavras, o homem é um nada, que veio do nada, vive um nada e vai para o nada. 
Que bela perspectiva da existência! 
Como não esperar desta perspectiva a mais dolorosa crise existencial, a depressão, o suícidio?

O existencialismo legou à nossa sociedade uma terrível revolta contra todo sentido: na arquitetura, na música, na literatura, na pintura etc... 
Em todas as manifestações pseudos-culturais da modernidade exprimem esta revolta. 
A ordem natural das coisas foi drasticamente invertida, ou melhor, negada.
A filosofia existencialista roubou do homem aquilo que poderia fazê-lo sobreviver na mais intempérie condição: "Um sentido para viver".

"O homem pode suportar tudo... Menos a falta de um sentido". Afirmou o Dr. Frankl. E é exatamente este sentido que impede o homem de se autodestruir, pois, se não há um sentido, para quê viver?

Como descrever a caminhada errante e angustiosa de um homem que não vê sentido em nada?

** * **

Traçarei aqui o paralelo entre duas iminentes figuras do século passado, o Dr. Viktor Frankl (1905-1997) e Jean-Paul Sartre (1905-1980). 
Curiosamente, ambos nascidos no mesmo ano. 
Compartilharam quase a mesma realidade, porém, tiveram conclusões diferentes diante da vida.


Jean-Paul Sartre

Sartre viu a ascensão de Hitler na europa; Viktor Frankl também.

Sartre bebeu festivamente com os nazistas, enquanto Frankl empreendia contínuas fugas dos amiguinhos de bebedeira de Sartre.


Dr. Viktor Frankl

Não obstante a invasão nazista, a vida de Sartre transcorria na sua habitual tranquilidade; enquanto a de Frankl, tornara-se um inferno.
Ao ser capturado pelos nazistas, Dr. Frankl experimentou na pele o ódio que corrói os demônios. Sofria espancamentos e constantes humilhações em Teresienstadt.
Enquanto Sartre gozava os prazeres das noites parisienses ao lado de sua fiel companheira de farras: Simone de Beauvoir.

Nestas condições tão contrárias, nasceram duas teses sobre a existência; duas percepções da realidade; duas visões do mesmo mundo.

Sartre concluiu na comodidade de seu escritório, -- e na confusão de sua mente -- que "a existência não tem sentido".
Ao mesmo tempo, nos horrores de Auschwitz, Frankl, compreendia que a vida tem sentido e na mais abissal condição, o homem pode encontrar mil razões pra viver.

Estas duas conclusões serviram de base para duas correntes de pensamento tão opostas que nasceram no século XX: O existencialismo e a Logoterapia.

Uma nasceu da experiência, a outra da mera intuíção.
Com quem ficamos? Com a prática ou com a teoria?

A teoria de Sartre não passou pelo crivo da experiência, nasceu da insanidade de sua mente e de sua percepção distorcidae vaidosa da realidade. 
Frankl no horror da guerra, percebia que a vida tinha sentido, e que no mais obscuro desespero, o homem pode encontrar um sentido que o faz prosseguir no espinhoso caminhar. Porque tudo está ordenado para um fim que supera todo o mal presente.

Dr. Frankl viu sua tese se comprovar na prática.
Onde homens e mulheres na mais desumana condição, encontravam um motivo para luta pela vida. 
Porque viam algo a mais na vida do que era capaz de ver o sr. Sartre na comodidade de seu lar. 
Não viam o homem como um produto de forças cegas e ocultas, não viam a vida como um delírio. Viam em tudo um sentido, algo trascendente! 
E este pensamento os fez emergirem  de sua pequenez e encontrar um  infinito por trás dos panos de fundo do aparente absurdo existencial. 

Por outro lado, Sartre foi pequeno diante da existência.
No sofrimento Frankl descobriu um sentido maior para viver e amar. Sartre encontrou um motivo para odiar a existência.

É assim que se portam grandes homens como Frankl. E é assim que se portam homens pequenos como Sartre diante da vida.
Isto nos lembra dos prisioneiros da famosa frase de Santo Agostinho que das grades da prisão viram coisas diferentes: Um, viu as estrelas, o outro, a lama.
Das grades da existência, cada um vê diferente. Frankl do horror de Theresienstadt viu as estrelas. Sartre da obscuridade de sua mente e da comodidade de seu lar, viu a lama.

A descoberta de Frankl serviu para classificar a doença que acometia as tristes figuras que são os existencialistas: "Neuróticos Noogênicos". Ou simplesmente, "desesperados".
Pois que desesperador é olhar para a existencia com esses olhos fatalistas! Que vê unicamente um amontoado de cores, sons e sensações sem qualquer sentido. Tudo fruto de um absurdo sem causa e efeito ou razão de ser.

Frankl foi ao cume do desespero. Voltou e concluíu: "o sentido da vida é uma experiência ontologica, não uma criação cultural". 

Para Frankl, a vontade humana não se move unicamente pelo prazer, como acreditava Freud (vontade do prazer), nem pelo desejo de poder, como acreditava Adler (Vontade do poder). 
O homem move-se em busca de um sentido na existência, ao que Frankl chama: Vontade de sentido.

A logoterápia, ou análise existêncial, mostrou-se em poucas décadas de aplicação mais eficaz que a psicanalise em quase um século de aplicação. Mostrou-se um excelente antidoto para a doença que o existencialismo semeou nas mentes.


Notas

1. cf. CHESTERTON, Gilbert Keith. Heretics. Tradução do original em inglês:
"The Great march of mental destruction will go on. Everything will be denied. Everything will become a creed. It is a reasonable position to deny the stone in the streets, it will be a religious dogma to assert them. It is a rational thesis that we are all in a dream; it will be a mytical sanity to say that we are awake. Fire will be kimdled to testify that two and two make four".

2. cf. João Paulo II, Fides et Ratio, 9,

3. cf. Apud TÓTH, Tihámer. A Religião e a Juventude. 2 ed. Taubaté: Editora SCJ, 1951. p. 121.

4. A Europa que bania seus crucifixos de locais públicos, agora, vê-se obrigada a curvar-se perante a meia lua do islã.


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Revendo a Inquisição



            Em nossos dias, quando se fala em Inquisição, a imaginação popular é imediatamente povoada por cenas horripilantes dos “terríveis” tempos medievais com suas fogueiras e vítimas inocentes sendo condenadas injustamente à morte por uma instituição opressora chamada Igreja Católica. Neste contexto, figuravam os religiosos impiedosos e cruéis com seus variados instrumentos de torturas prontos a esfolar qualquer um que lhe cruze o caminho despreocupadamente.
Assim, a maioria das pessoas acostumou-se a pensar em Inquisição, sem no entanto, possuir dela qualquer conhecimento aprofundado, ou mesmo certificar seriamente se o que aprendeu na escola corresponde fielmente aos fatos.

É público e notório que esta visão hedionda que povoa a imaginação popular foi forjada maliciosamente há séculos, especificamente na Renascença; ganhou força e notoriedade entre os “iluministas” – embora estes, tenham conservado um certo limite no repertório de mentiras elencadas contra esta instituição – e se impregnou nas mentes através de repetições exaustivas ao longo de mais de cinco séculos.

Mas, foram de fato a crueldade e a intolerância as forças motrizes deste tribunal tão odiado chamado “Santa Inquisição”? Eis uma pergunta que deveria nos deter nos umbrais desta questão, antes de repetir tantos chavões que nascem antes da ignorância do que de qualquer conhecimento real do assunto. A vida de tantos inquisidores da estatura moral de um São Domingos de Gusmão; um São Luís Bertran; um S. Pio V e tantos outros nos mostram um outro lado da inquisição que foi omitido nas aulas de história.


São Domingos de Gusmão, Santo
Inquisidor, fundador dos dominicanos


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O espírito da Inquisição nasceu de nobres ideais e de uma preocupação legitima da época (que veremos mais adiante). E um destes ideais, tão caro ao homem medieval, era o amor à verdade. Foi este ideal que animou a conduta de muitos destes homens tão difamados, que no entanto, mereceram a honra dos altares.

Os inquisidores não agiam impulsivamente, condenando a torto e a direito qualquer um. Havia uma regra de conduta fundada na lei evangélica e nos ensinamentos dos santos a guiá-los, e quaisquer transgressões destas regras, acarretavam graves punições ao inquisidor. Uma síntese destas regras de conduta se encontra no Manual do Inquisidor de Bernard de Gui (considerado um dos mais rígidos inquisidores, viveu séc. XVI). Nele se diz:

“O inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zelo pela verdade religiosa, pela salvação das almas e pela extirpação da heresia. Em meio as dificuldades permanecerá calmo. Nunca cederá à cólera, nem à indignação. Deve ser intrépido, enfrentar o perigo até a morte; todavia, não precipite as situações por causa da audácia irrefletida. Deve ser insensível aos rogos e às propostas daqueles que o querem aliciar; mas também não deve endurecer o seu coração a ponto de recusar adiamentos e abrandamentos das penas, conforme as circunstâncias. Nos casos duvidosos, seja circunspecto; não dê fácil crédito ao que parece provável e muitas vezes não é verdade; também não rejeite obstinadamente a opinião contrária; pois o que parece improvável, frequentemente acaba por ser comprovado como verdade. O amor da verdade e a piedade que devem residir no coração de um juiz, brilhem nos seus olhos, a fim de que suas decisões jamais possam parecer ditadas pela cupidez e crueldade”.(cf. Prática VI, Douis 232s).

Estas exigências de que fala acima “o manual do inquisidor” foram marcantes na vida dos verdadeiros símbolos do espírito que guiou a inquisição, tal como: S. Domingos de Gusmão (a personificação dos verdadeiros ideais da Inquisição) S. Pio V, S. Pedro de Verona, S. Raimundo de Peñafort, S. Pedro Arbués, S. Turíbio de Mongrovejo, S. Luis Bertran e tantos outros homens santos que integraram estas egrégias fileiras, além de outras figuras notaveis da cristandade, que apoiaram a Inquisição como Sto Antônio de Pádua, S. Boaventura, Sto Tomás de Áquino, S. João de Capistrano, S. Roberto Belarmino, S. Fidelis de Sigmaringen e a lista vai longe.
Evidente que, como em todas as instituições humanas a Inquisição teve seus pontos falhos, mas querer reduzir a conduta de toda uma classe a partir de uma pequena parcela de seus membros corrompidos é absurdo! Não se faz isso com a medicina, apesar de seus maus médicos; não se faz isso com a arquitetura, apesar de seus maus arquitetos e, não se faz isso com o direito apesar de seus maus juristas. Se por um lado, a Inquisição teve as figuras perversas de Torquemada, Conrad de Marburg, Bernard de Gui, por outro lado, teve as figuras angelicais de S. Domingos de Gusmão, S. Pio V, S. Pedro de Verona, S. João Capistrano, e tantos outros santos cujos nomes são omitidos da lista de inquisidores, para se lembrar só dos maus. É como se contassem a história dos apóstolos a partir da biografia de Judas Hiscariotes.

Mas, felizmente, a nuvem negra que paira sobre a história da inquisição começa a se dissipar. Em 1998, no Vaticano, ocorreu o grande Simpósio Internacional sobre a Inquisição, reunindo 30 renomados historiadores sob a direção do autorizado pesquisador Agostino Borromeo, para o maior estudo sobre a Inquisição já feito. O resultado do simpósio nos legou um documento de quase 800 páginas, que é leitura obrigatória para todo aquele que se põe a pontificar a respeito deste tema.

O simpósio descobriu uma realidade bem diferente do que nos foi ensinado em tantos séculos de deturpação ideológica. Segundo os dados sobre o mais caluniados dos tribunais da Inquisição: o espanhol, abolido em 1834. Os registros dos processos indicam que de 1540 a 1700, foram celebrados 44.674 juízos por tribunais inquisitoriais, sendo condenados apenas 2% (mais precisamente, 1,8%) das pessoas julgadas; outros 1,7% foram condenados em contumácia, ou seja, não foram justiçados pessoalmente, mas em lugar delas foram queimados ou enforcados fantoches. Um número “insignificante” perto dos estragos perpetrados por comunistas e jacobinos em suas revoluções.

Porém, contrapondo-se a conclusão unânime deste grande Simpósio, muitos, obstinados no ódio à Igreja, desprezam suas conclusões, e continuam a crer piamente nas fontes duvidosas dos séculos XVI, XVII, que nunca passaram por um exame apurado. Questionam a conclusão dos especialistas, mas são incapazes de questionar as versões históricas infundadas que absorveram passivamente.

A necessidade da Inquisição

Antes de analisar o tribunal da Santa Inquisição, deve-se analisar a justiça penal que a antecedeu. Assim como, antes de se analisar um fato histórico se analisa o contexto e a mentalidade que a gerou. Se não, corre-se o risco de julgar o passado à luz do presente, e assim, cair em grave anacronismo.
No mais, outros valores regem nossa sociedade, totalmente opostos aos que regiam a Idade Média. Em nossa época, impera nas mentes e nos corações o materialismo, o hedonismo, o relativismo etc. Enquanto, na Idade Média o povo tinha fé num Deus onipotente, justo e amoroso. Portanto, lida-se com fatos de outra natureza mental, totalmente estranhos a nossa mentalidade. Logo, para compreender tal universo cultural, devemos nos inserir num clima religioso, caso contrário, não se poderá julgar adequadamente os fenômenos da época. O mesmo ocorrerá com os historiadores do futuro que julgarem a nossa época. Deverão se transportar a nossos valores e nossa cosmovisão para nos entender.

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O advento da Inquisição representou um grande avanço para a justiça criminal da época. Uma visada sobre a Europa pré-cristã, onde predominava a barbárie dos costumes, nos faz entender o porquê desta afirmação.
Um dos exemplos de diversões dos povos romanos era o circo, não o circo nos moldes atuais, mas o circo em que se exibiam como atração principal: pessoas sendo trucidadas por feras. Outro exemplo de espetáculo da época, era a crudelíssima luta de gladiadores que atraía multidões às arenas. Isso fazia parte do contexto anterior a cristianização da Europa.
Entre os germânicos, tais episódios ainda eram mais escabrosos. De modo, que não mencionaremos para não ser demasiadamente chocantes, embora – tais episódios, sejam bem conhecidos. Se uma sociedade se divertia através de selvagerias, imaginemos como punia seus criminosos!

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Naqueles tempos, todos os crimes tinham punições severas – na maioria dos casos, penas físicas –, que eram aplicadas em praça pública para o deleite das turbas insandecidas, principalmente quando se tratava de prostitutas e ladrões.

Os blasfemadores, por exemplo, tinham os lábios superiores ou inferiores cortados, ou a língua arrancada; os ladrões tinham as mãos decepadas ou queimadas. Mas isso tudo não se comparava a uma pena aplicada na Itália, onde o condenado sofria um suplício hediondo por quarenta dias. Neste suplício, a cada dia, o condenado tinha uma parte do corpo arrancada até seu definitivo expirar. Além dos terríveis e injustos ordálios que vigoravam na cultura germânica.
Penas como estas predominavam naqueles tempos da Europa pagã e, naturalmente, no caráter daquele povo estava impresso uma insensibilidade insensata que não se comovia com os suplícios dos condenados, antes se compraziam em assisti-los. Em suma, a lei de Talião vingava e prosperava na Europa.
Sem falar da clássica “justiça com as próprias mãos” que no mais das vezes, era a forma mais comum de se fazer justiça naqueles tempos. Imaginemos o caos em que estava imersa aquela sociedade!
O cristianismo sendo um fator de unidade do Estado, teve a incumbência de colocar ordem naquele caos. Porém, esta intervenção demorou a ocorrer.
E a desordem se generalizou quando o direito romano consagrou os crimes contra a fé, como crimes de lesa-majestade divina, que daí por diante, passaram a ser punidos com todo o rigor da lei civil.
O imperador Frederico II, também promulgou uma série de penas contra os hereges – entre elas, a condenação à fogueira – que muito agravava a condição dos acusados de heresia. E isto, não porque Frederico fosse um zeloso católico, mas porque via na heresia um grave distúrbio da ordem social.

Também não havia naquela época a prisão para os criminosos, esta pena foi inicialmente aplicada pela Igreja para salvar da crudelíssima morte muitos inocentes. Os cárceres eram as celas dos mosteiros, onde o criminoso ficava recluso para pensar suas culpas e fazer penitências por elas.
Após esta rápida visada pelo contexto medieval que antecedeu a Inquisição, nos perguntamos: Como se pode falar da Inquisição e ignorar todo este contexto hediondo que a precedeu? A brutalidade que o Império Romano e os povos germânicos puniam seus criminosos? Como ignorar esta realidade tão cruel que a Inquisição veio extirpar?

Analisar um episódio de um longínquo passado, e ignorar o ambiente e a situação que a motivou é um despautério imperdoável a um historiador, no entanto, foi assim que se ensinou a história em nossos dias. Ensinou-se com o mesmo ódio anticlerical com que se deturpou a História. Ora, porque a justiça do Império Romano, e mesmo a justiça germânica, tão atrozes, são isentas destas afrontas que sofre injustamente a Inquisição?

Portanto, é imprescindível lembrar que a Inquisição foi produto de um tempo muito diferente da nosso. E na época, significou o maior avanço do Direito Penal. De forma muito sucinta, o historiador protestante, e inimigo declarado da Igreja, Henry Charles Lea, analisou desta forma o tribunal da Santa Inquisição:

“A inquisição não foi uma organização arbitraria concebida e imposta sobre o sistema judicial da Cristandade pela ambição e o fanatismo da Igreja. Foi antes o produto natural – poder-se-ia dizer inevitável – da evolução das diversas forças de ação do século XIII […] Os inquisidores se preocupavam muito mais em converter os hereges do que em fazer vítimas”.(LEA, Henry Charles. A History of the Inquisition of the Middle Ages. Vol. I, New York: Harper & Brothers Franklin Square, 1887)

Esta afirmação tem uma importância singular, tanto pela imparcialidade do autor – que foi um ferrenho anticlerical – e por sua indiscutível autoridade no assunto, um dos maiores especialistas em Inquisição de todos os tempos.
Até a anticlericalíssima Enciclopédia Iluminista de Diderot e D'Alembert, reconhecia a desonestidade com que se tratava a Inquisição:

“Sans doute qu’on a imputé à un tribunal, si justement détesté, des excès d’horreurs qu’il n’a pas toujours commist: mais c’est être maladroit que de s’élever contre l’inquisition par des faites douteux, et plus encore, de chercher dans le mensonge de quoi la rendre odieuse”
(Sem dúvida, imputamos a um tribunal, tão justamente detestado, excesso de horrores que ele mesmo nem sempre cometeu; é incorreto que se levante contra a Inquisição fatos duvidosos e mais ainda, procurar na mentira o meio de torná-la odiosa).(Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, Tomo VIII edição de 1765, p. 775)

De fato, como bem diz a Enciclopédia Iluminista, os inimigos da Igreja se apoiaram incondicionalmente na mentira como forma de demonizar a Igreja e suas instituições.

***

Após esta síntese sobre o caótico cenário do sistema criminal antes da instauração da Inquisição, vamos ao fato que a motivou – já que além de omitirem o ambiente selvagem que a precedeu, com muita frequência se omite o que a motivou.

***

Uma das características dos povos bárbaros que habitavam a Europa nos tempos medievais, era a fidelidade total a um líder, de modo que, ao se converter um rei bárbaro ao cristianismo (como aconteceu com Clóvis) todo o seu povo o seguia nesta adesão; embora, não acontecia uma adesão formal, mas uma adesão meramente simbólica, sem que os súditos sigam fielmente os ensinamentos da religião do monarca.
Inclusive, o supracitado, Rei Clóvis, a despeito de sua conversão ao cristianismo, ainda conservou por muito tempo o típico temperamento que caracterizava os bárbaros.
Conta-se que certa ocasião lhe narravam a Paixão de Nosso Senhor e, enquanto descreviam os escárnios e suplícios sofridos por Jesus; Clóvis, indignado, exclamava cheio de fúria: “Ah, se eu estivesse lá com os meus francos!”

Assim aconteceu, durante a conversão dos francos. Que colocaram a disposição da Igreja seus dotes guerreiros; e desta forma, entravam em ação sempre qualquer ameaça se apresentava contra a Igreja. Portanto, para aquele povo brutalizado, qualquer um que atentasse contra a fé do seu líder, era visto como um grande inimigo, digno da mais severa punição.

A Igreja não aprovava tais atitudes e até as repreendia duramente. Tanto que excomungou os autores de um livro que se afamou na época, o Malleus Maleficarum, pregando a violência a supostos hereges. Leão X excomungou Torquemada por seus excessos, e o VI Concílio de Toledo proibiu terminantemente aos clérigos participarem dos juízos de sangue, ou seja, aos que implicassem a pena de morte. Mas era impossível para a Igreja ter um controle sobre o povo a fim de evitar excessos em defesa da fé.

Os cátaros

Passemos agora ao punto saliens da questão: Os cátaros.
Todos estes pontos supracitados, se agravaram em proporções catastróficas no século XIII com o despontar de uma estranha e terrível heresia que provocou grandes distúrbios na sociedade da época.
Eram os cátaros (do grego Khatarós, puros), mais conhecidos como albigenses por situarem sua sede na cidade de Albi, no Lanquedoc (sul da França).
Os cátaros sustentavam uma estranha cosmologia, onde dois deuses travavam uma ferrenha batalha pelas almas. Na crença catara, Cristo teria sido um espírito, semelhante a um anjo, e sua missão seria conduzir a humanidade ao mundo espiritual. Por outro lado, havia um Deus mau, criador da matéria, que eles chamavam demíurgo, conforme a tradição grega; e a este cabia o papel de fazer as pessoas viverem e amarem a matéria, para assim se perderem nela, sem jamais encontrar o mundo espiritual.
Neste universo dualista, o corpo e a matéria seriam o cárcere da alma, que lutava por se libertar do mundo material a todo custo, e só assim, alcançar a bem-aventurança eterna no mundo espiritual. Logo, tudo que era material e tudo que favorecesse a matéria, significava um triunfo do demiurgo no mundo. Por isso, os cátaros, eram contra a propriedade privada; o casamento; o sexo e a gravidez. Em suma: eram contra a própria vida biológica, fonte de onde emanava os males da humanidade. E neste desvario pseudo-teológico, muitos cátaros praticavam suicídio em massa, através de jejuns suicidas (endura). Outra prática revoltante dos cátaros, era o assassinato de mulheres grávidas e a destruição de plantações inteiras. Isso, segundos os hereges, para conter o crescimento do reino do demiurgo no mundo.
Os cátaros, portanto, eram um perigo não só para a fé, mas, para toda a humanidade – como eram contra a vida biológica – seu triunfo no mundo significaria um desastre irreparável ou até mesmo a extinção da civilização ocidental.
Naturalmente, esta insana heresia, provocou muitas revoltas no medievo e, muitos faziam justiça com as próprias mãos diante de tão odiosas práticas.
A situação tornara-se tão caótica, que tiveram que recorrer ao Papa, a autoridade máxima da época, para apaziguar a questão.
O Papa optou pelo lado diplomático, enviando ao Lanquedoc o bem-aventurado Pierre Castelnau (1170-1208) para negociar com os hereges.
Estas negociações duraram cerca de 20 anos, sem nenhum resultado, até que Pierre de Castelnau foi brutalmente assassinado pelos cátaros em 1208, o que veio a desencadear uma incontrolável revolta, culminando em uma cruzada contra os albigenses (1209 e 1244) convocada pelo Papa Inocêncio III. A Cruzada contra os cátaros durou cerca de 20 anos, e neste clima de revolta, era comum, simples suspeitas de heresia terminarem em justiçamento pelo povo.

Com a situação fora de controle, o Papa Gregório IX (1227-1241) resolveu intervir, criando o Tribunal da Santa Inquisição (Inquisitio Hæreticæ Pravitatis) por volta de 1231, (chamada Inquisição Pontifical) para investigar e apurar as denúncias de heresias que o povo fazia antes de se entregar o acusado ao braço secular, que era encarregado de punir os criminosos.

A Inquisição trouxe abrandamentos e indiscutíveis avanços ao direito penal da época. Como por exemplo, o fundamental direito de defesa ao acusado. O próprio Michel Foucault, autor tão apreciado nos meios anticatólicos reconheceu o papel da Inquisição no desenvolvimento de uma ordem legal. Escreve ele:
"O inquérito foi com efeito a peça rudimentar e fundamental, para a constituição das ciências empíricas; foi a matriz jurídico-política desse saber experimental, que, como se sabe, teve seu rápido surto no fim da Idade Média. É talvez verdade que a matemática, na Grécia, nasceu das técnicas da medida; as ciências da natureza, em todo caso, nasceram por um lado, no fim da Idade Média, das práticas do inquérito. O grande conhecimento empírico que recobriu as coisas do mundo e as transcreveu na ordenação de um discurso indefinido que constata, descreve e estabelece os “fatos” (e isto no momento em que o mundo ocidental começava a conquista econômica e política desse mesmo mundo) tem sem dúvida seu modelo operatório na Inquisição — essa imensa invenção que nosso recente amolecimento colocou na sombra da memória." (Vigiar e Punir)

É aqui que se ergue outro ponto candente desta história, e que é ao mesmo tempo fruto da total ignorância por parte dos detratores desta instituição. Acusa-se a Inquisição de diversos crimes como a tortura e o assassinato, funções exclusivas do braço secular. Portanto, ninguém era morto em “autos de fé” como absurdamente se convencionou afirmar.
A Inquisição, como seu próprio nome sugere (inquérito), era um mero tribunal de investigação de crimes contra a fé, portanto, não era órgão punitivo, mas meramente, investigativo. No mais, em toda a história nunca se viu tribunal mais clemente que este, salvo alguns poucos casos particulares em que o poder eclesiástico foi usurpado pelo poder civil.
O réu da Inquisição gozava de tais indultos que não se veem nem nos tribunais modernos. Um exemplo famoso é o de Alazais Sicrela no ano de 1250, que recebeu licença para passar uns dias fora do cárcere e retornar no dia de todos os santos. Alazais ficou sete semanas longe do cárcere. E isto não foi uma rara excesão, o direito as férias era comum, além do direito que o acusado tinha, chamado propter infirmatatem, em que o réu podia sair do cárcere para tratar-se, caso estivesse enfermo.
Em geral, eram raros os casos em que o tribunal entregava o acusado ao braço secular, geralmente o simples arrependimento do acusado perante o tribunal e a renúncia de seus erros era o suficiente para sua absolvição. No mais, as penas consistiam em peregrinações, jejuns esmolas e outros atos de piedade.

Conclusão

Afirmou-se por muitos séculos que a Inquisição matou milhões, e acreditou-se piamente nisso, mas esta acusação é tão infundada e absurda que não resiste ao mínimo questionamento sério e a uma pesquisa aprofundada. Não resiste as próprias contradições anticlericais, deixadas nos milhares de livros por eles escritos.
É espantoso o número de vítimas que fez o comunismo em sua história, mais de 100 milhões, no entanto esta doutrina é sumamente louvada em nossas escolas e universidades, e tal louvor parte exatamente, das mesmas figuras que detratam a Inquisição. A Revolução Francesa que em um ano matou mais que a Inquisição Espanhola em seis séculos (1478-1834) é incensada nos meios acadêmicos, a própria “Inquisição” protestante, com seus horrores insuperáveis é esquecida pelos livros de história. Por que só se maximiza os erros da Inquisição? Porque se oculta seu lado positivo? Porque os que protagonizaram as revoluções sanguinárias e anticristãs foram os mesmos que escreveram a história.
Assim, há séculos a história é escrita com a tinta do mais puro preconceito. De modo, que não recebemos outra visão dos fatos senão a daqueles que deturparam a história desde a renascença. Mas, qualquer um que resolver exceder os limites desta visão limítrofe e odiosa, entrincheirada com slogans e clichês irrefletidos, descobre uma realidade totalmente diferente do que aprendeu nos livros anticlericais. Descobre algo a mais além das fogueiras e das lendas negras; descobre o direito penal moderno nascendo nos tribunais da Inquisição; descobre santos trajando a toga de inquisidor; descobre a fé de um povo combatendo com denodo os perigos que ameaçavam os rumos de nossa civilização .


domingo, 11 de outubro de 2015

Uma Instituíção Divina





Uma Instituíção Divina

Dois altares sagrados se ergueram na história da humanidade, dos quais jorraram vida: O altar celeste do santo sacrifício de Cristo que se perpetua ao longo dos séculos na Santa Missa e o altar terreno do leito nupcial que perpetua a espécie humana na terra. 
Ambos são movidos pelo amor; um, por um amor mais perfeito, o outro, por um amor ainda imperfeito, mas ambos sagrados.

O matrimônio é um acontecimento que transcende seu limiar terreno. Não é uma mera união de corpos, como insinua o mundo, mas a imagem de uma união mais profunda que se deve consumar na eternidade, como ensina a Igreja.
"A união conjugal, escreve Pio XI, é acima de tudo, um acordo mais estreito que o dos corpos; não é um atrativo sensível nem uma inclinação dos corações o que a determina, mas uma decisão deliberada e firme das vontades" (Casti Connubii, 7). 
Sobre o matrimônio, escrevia ainda São Paulo: "Este mistério é  grande..." (Ef 5, 32). 
Há um mistério tão profundo na união matrimonial que ela é comparada a união de Cristo com a Igreja (cf Ef 5, 22). 
O mistério sublime que se realizou ainda nos tempos da inocência original, onde o primeiro homem sentiu-se misteriosamente só. 
Misteriosamente porque, embora tivesse a companhia do Criador, sentiu necessidade de uma auxiliar! 
Esta solidão que o primeiro homem sentiu, não foi aquela terrível solidão interior -- angústia de uma ausência inexplicável e insuprível consequência do pecado original --, mas uma mera solidão exterior. A solidão natural que sente qualquer criatura sem outros semelhantes.
"Não é bom que o homem esteja só, façamos-lhe uma auxiliar" (Gen 2, 18) disse o Criador. Deus estava longe de ser um semelhante, sendo infinitamente superior ao homem. 

É esta ausência natural que leva o homem a procurar alguém que o complete. Um desejo que transpassa os desejos meramente carnais. Uma centelha da união divina que nossa alma anseia um dia experimentar na eternidade.


O matrimônio nas páginas da Escritura e do Magistério


     O matrimônio marca decisivamente as páginas das Escrituras. Do Gênesis ao Apocalipse a vida terrena é inaugurada e encerrada com um matrimônio. No primeiro caso, a união de Adão e Eva -- nossos primeiros pais --; no segundo, a união de Cristo com a Jerusalém celeste -- a Igreja. 

O matrimônio foi o ambiente em que aconteceu o primeiro milagre de Jesus (cf Jo 2). E ainda narra o evangelista que as bodas em Caná ocorreram no terceiro dia (Jo 2,1) assinalando também, naquelas bodas, uma prefiguração da Paixão que haveria de se suceder ao final da peregrinação terrena de Nosso Senhor. 
Nas bodas de Caná, Cristo trouxe um vinho novo, no entanto, passageiro. Nas bodas do calvário, Cristo concedeu seu sangue como bebida de salvação eterna. 
A união esponsal ainda está analogamente ligada a Paixão de Nosso Senhor, de modo que, o leito nupcial torna-se no ato conjugal um altar, e o casal, os ministros a celebrar este sacramento, no qual podem repetir um ao outro as santas palavras de Nosso Senhor na véspera de sua Paixão: "Isto é o meu corpo que será entregue por vós". Por isso, o apóstolo reforça esta imagem ao dizer: "Maridos, amai vossas esposas como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela" (Ef 5, 25). E como Cristo amou e se entregou pela Igreja? Na Cruz! Assim como os esposos devem entregar-se pelas suas esposas nos espinhosos caminhos do matrimônio, até o fim, conforme prometeram diante de Deus. "Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na alegria  e na tristeza... Para todo o sempre."


A principal finalidade do matrimônio


Que a procriação dos filhos seja a razão do matrimônio"
(Sto Agostinho, De Bono Conj. XXIV, 32)

Os filhos são um dom do Senhor, o frutos das entranhas é uma recompensa.
(Sal 126, 3)


***

Algumas palavras do rito matrimonial nunca devem ser esquecidas pelo casal. A primeira é a de que esta escolha é livre e de todo coração, e que o casal se compromete mutuamente a sempre deverem-se o amor e o respeito. 
E o mais grave destes compromissos: aceitar livremente os filhos que Deus os enviar e criá-los em sua santa vontade.
Digo, que este é o mais grave porque, esta sociedade pagã em que vivemos, vê a maternidade com maus olhos e adota leis ímpias para controlá-la, indo em direta oposição as leis divinas e naturais.

Deus dotou o homem de uma parcela de seu dom criador, por isso um dos compromissos assumidos no altar, antes daquele decisivo sim, foi o de dar posteridade à espécie: 
“Estais dispostos a receber amorosamente da mão de Deus os filhos que Ele lhes enviar e a educa-los...?”, interroga a Igreja no rito do matrimônio. E esta é uma condição, sine qua non, diria, para a consumação do sacramento matrimonial. 

Na modernidade, numerosos casais egoísticamente renunciaram este dom divino que Deus tão amorosamente legou a humanidade, para abraçar a cultura neo-pagã, onde o prazer carnal é mais importante que os filhos; os meios mais importantes que o fim. 
Mas, mesmo assim, o maior dos bens que um casal pode ostentar sempre serão os filhos, e a infecundiade sempre figurará em tons sombrios em todas as épocas.

A infecundidade marca as páginas das Escrituras como um grande infortúnio. Comovente é o drama de Ana por sua infecundidade (cf. I Sam 1, 1-8). A esterilidade é uma condição tão vergonhosa para a mulher hebraica que Sara preferiu ver seu esposo engravidar uma de suas escravas a se ver sem posteridade (cf. Gen 16, 1-6); e a cada filho gerado por Lia, era recebido com grande louvor (cf. Gen 29, 31-35); por outro lado, na mesma casa pairava o sofrimento indizível de Raquel por sua infecundidade, a ponto desta preferir a morte a permanecer nesta triste condição: “Dá-me filhos senão morrerei”. (Gen 30, 1)

Nos tempos modernos, a esterilidade não é algo belo, e longe está de sê-lo, no entanto, a mídia, os governos, e tantos orgãos poderosos, ensinam que o número de filhos deve ser cada vez mais reduzido. Estimula-se assim o hediondo controle de natalidade (também chamado Planejamento Familiar para suavizar a gravidade do ato)
O Santo Padre Pio XII em um discurso dirigido às famílias numerosas, indo na contra mão de tudo o que ensina a sociedade neo-pagã, afirmou categoricamente que as famílias numerosas são as famílias mais abençoadas por Deus:
"...As famílias numerosas, isto é, as que são  mais abençoadas por Deus, queridas e estimadas pela Igreja como os tesouros mais preciosos". (cf. Alocução de 20 de janeiro 1958)
Pio XII ainda condena o controle de natalidade como "uma das aberrações mais prejudiciais da moderna sociedade pagã”.

Nos tempos modernos estas verdades perenes foram reafirmadas pela Igreja com toda ênfase: "Os filhos são o dom mais excelente do matrimônio...", (Gaudium et Spes, 50), diz o Vaticano II. E continuam a ser parte  inalterável do ensinamento da Igreja. Que nunca abrirá mão desta verdade! 


Conclusão


Um dos primeiros sintomas da decadência de uma sociedade se percebe no desvio e desprezo da sacralidade do matrimônio. 
O demônio semeou, ao longo da história, no leito nupcial sua cizânia, causando grandes desordens na humanidade. Antes de se perverter uma  sociedade,  se perverte o leito nupcial. 
Por isso, a Igreja, como mãe e mestra da humanidade, compreendeu o perigo destas desordem e lutou com denodo contra todos os males que ameaçavam a vida matrimonial. 
Quantos pontífices não sofreram duras penas por se oporem aos desvios que ameaçavam o caráter sagrado do matrimônio? 
Basta recordamos de Pio VII que enfrentou a fúria de Napoleão por negar a nulidade do casamento de seu primo. Clemente VII e Paulo III sofreram os duros golpes de Henrique VIII por contrariarem suas desordens. Nicolau II fora perseguido por Lotário; Urbano II e Pascoal II padeceram a ira de Felipe I, rei da França, e tanto Celestino III como seu sucessor Inocêncio III receberam a fúria de Felipe II, príncipe da  França. Mas, nenhum deles se equipara ao maior dos profetas já nascidos de um ventre: João Batista. Morto por Herodes por se opor a seus adultérios.

Todas estas perseguições tiveram como causa, a impassividade da Igreja de Cristo em defesa do matrimônio. Porque é parte de sua missão zelar pela inviolabilidade deste sacramento... Quer agrade ou desagrade os homens. E o dia que um cardeal, bispo ou mesmo o sumo pontifice se opôr a esta ordem divina, sabei que ele não está sob as ordens de Cristo, mas seguindo o próprio ego ou a inspiração do demônio. 


domingo, 4 de outubro de 2015

Um Estranho Pontificado



Em tempos obscuros como estes que enfrentamos, nossos olhos se voltam como bússola para Roma em busca de orientação segura, e de lá voltam mais confusos! 
Suspiramos pela voz infalível do Papa a nos guiar neste vale brumoso do século XXI, e ela simplesmente emudece.

A cristandade segue atonita sem a voz segura de seu pastor. E a ausência desta voz nos faz inevitavelmente olhar com estranheza este pontificado, e até erguer as mãos ao céu e repetir as temerosas palavras dos apóstolos em meio a tormenta do mar da Galiléia: "Mestre, não te importas que pereçamos?"

A triste impressão de que a nau de Pedro vaga sem rumo neste mar tempestuoso é quase unanime. E esta sensação nos faz esquecer o desenrolar daquele episódio que se deu nos tempos evangélicos, e que sempre se repetiu na história. Aquela noite tempestuosa, há dois mil anos, no mar da Galiléia, quando se desencadearam os ventos da tormenta contra a barca dos apóstolos (cf. São Marcos 4, 35-40). 

Na iminência de um naufrágio, e tomados de terror, os apóstolos esqueceram que Deus estava naquela barca, embora "dormisse na popa sobre um travesseiro". 

"Mestre não te importas que pereçamos?", gritaram os apóstolos desesperados, que merecidamente foram repreendidos pelo Divino Mestre: "Homens de pouca fé!".

No meio das tormentas que ameaçam a nau de Pedro nos tempos modernos, novamente nos vem a tentação de repetir a frase temerosa dos apóstolos, mas isto seria uma grave tentação contra a fé.
Por que temer a tempestade, se Cristo está nesta barca, e Cristo vence sempre?
É com esta certeza que analizamos a crise na Igreja, sem nunca titubear ante as ameaças que se desencadeiam neste cenário confuso do século XXI. 

Três anos de Francisco

Este pontificado está sendo marcado por declarações desastrosas, nas quais, com toda justiça se cogita a indole de Francisco.

Durante sua viagem à Manilla, em janeiro deste ano, uma afirmação nada lisongeira sobre as famílias numerosas deixou a cristandade desconfiada: 
"Os bons católicos não devem procriar como coelhos", disse o pontífice. 
Afirmação gravíssima para um católico, que se acentua ainda mais, partindo do próprio Papa. E esta foi uma de muitas declarações que diriamos "infelizes" do pontifice.

Esta insólita debandada do Papa nos surpreende a cada dia. Aqui e acolá surge um ato ou declaração confusa que põe os católico em polvorosa. 
"O que está acontecendo com o Papa?", se perguntam os bons católicos. É inegável a confusão que foi semeada! 
Do outro lado, vemos um mundo pagão, acostumado a desferir seus golpes contra a Igreja e o Papa, profundamente satisfeito com este pontificado. Algo a se estranhar!

Voltando os olhos alguns anos antes ao pontificado de Bento XVI, assistimos o mundo moderno, como de costume,  desferir seus golpes ao pontifice até sua renúncia em 2013.
Os ataques a Bento XVI eram constantes, tanto pela mídia quanto pelos movimentos revolucionários, como é natural!
Bento XVI não era cool; não seguia o politicamente correto...

Esta relação conturbada da Igreja com o mundo não nos surpreende, ela já está prenunciada nas páginas do Evangelho: "Se o mundo vos odeia, sabeis que odiou primeiro a mim" (Jo 15, 18). 

Militante feminista
durante audiência de Bento XVI

"Se fosseis do mundo  o mundo vos amaria". (Jo 15, 19). "No mundo tereis aflições, coragem eu venci o mundo" (Jo 16, 33) "Dei-lhes a tua palavra e o mundo os odiou, porque não são do mundo, como também eu não sou do mundo". (Jo 16, 14).

"Beijaço gay" durante a passagem de Bento XVI

Este ódio do mundo, é um claro sinal de que a Igreja segue os passos de seu Divino Fundador, que deixou muito claro a recompensa dos que o seguem. "Por causa do meu nome sereis odiados por todos" (Mat 10, 22)

Porém, os episódios de ódio que marcaram o pontificado de Bento XVI, não se repetem no pontificado de Francisco, pelo contrário, assiste-se uma onda de simpatia pelo Papa argentino nunca vista antes na história. Só há duas explicações possiveis para esta estranha mudança: ou o mundo se converteu ou a Igreja passou a agradá-lo!  
A primeira explicação podemos descartar de antemão!

'O Sinodo da Família'

A desconfiança em torno do pontificado de Francisco se agravou ainda mais com o aproximar do 'Sínodo da família' que ocorrerá de 4 a 25 de Outubro.

Supostas inovações que contradizem os ensinamentos perenes da Igreja sobre o matrimônio, e que poderiam ser incluidos na pauta do Sínodo, colocaram a cristandade em alerta.

As chamas foram acesas durante as preparações para este sinodo em fevereiro, quando o cardeal Walter Kasper fez declarações escandalosas sobre possiveis alterações no ensinamento tradicional da Igreja sobre o matrimônio, como a possibilidade de se admitir a Eucarístia a divorciados e, até, uma discussão sobre as uniões entre pessoas do mesmo sexo. 
O descalabro do Cardeal Kasper, motivou a indignação particular de cinco influentes cardeais da cúria romana,  respectivamente, os cardeais Walter Brandmüller, Gehrard L. Müller, Carlo Cafarra, Velasio de Paolis e Raymond Leo Burke, que escreveram um livro sobre o assunto, (Remaining in the Truth of Christ), onde reafirmam as verdades escandalosamente questionadas por Kasper e cia. 

O perigo de supostas violações da doutrina imutavel do matrimonio se fortaleceram ainda mais com as constantes declarações dúbias de Francisco sobre a família e a questão "homossexual".

Por conta deste estado de coisas que precedem este evento,  uma petição foi lançada na internet mobilizando influentes personalidades do mundo político, academico e clerical, para pedir do Santo Padre uma postura definitiva sobre as questões postas em discussão.
Contam entre as personalidades que assinaram a petição, o principe D. Duarte de Bragança, D. Bertrand de Orleans e Bragança, o rei exilado de Ruanda, o duque de Oldenburg, os príncipes alemães Alois  e Anastasia, o conde João Filipe e a condessa Maria Isabel, os principes da Belgica e da Itália, entre outros monarcas. Entre o Clero, destacamos os cardeais Medina Esteves do Chile, Leo Burke, Pujats, o bispo auxiliar de Brasilia, D. Aparecido Gonçalves e o bispo emerito D. João Evangelista Martins Terra, o fundador dos Franciscanos da Imaculada, Fr. Stefano M. Manneli... 

A petição, em sua apresentação, expressa muito bem a preocupação de seus signatarios: 
"Nesta situação, diz a filial súplica, uma palavra esclarecedora de vossa santidade será a única via capaz de superar a crescente confusão".

Rezemos para que estas palavras esclarecedoras e definitivas ecoem limpidas e claras dos lábios de Pedro, desfazendo as trevas da confusão, que até aqui nos envolveram.      

A petição encontra-se no site da Associação Internacional Filial Suplica filialsuplica.org/


A inclusão desnecessária de músicas protestantes na Liturgia Católica

  Pe. Marcelo Rossi foi um dos maiores responsáveis pela inclusão de músicas protestantes na Igreja Nas últimas décadas, assistiu-se uma inc...