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sábado, 13 de janeiro de 2018

O temperamento conservador e o temperamento revolucionário




O conservadorismo, para muitos religiosos, e até pensadores do tema como o britânico Roger Scruton (talvez um dos maiores representantes desta corrente na filosofia) é encarado como uma ideologia ou uma mera doutrina política sem nenhuma relação com a religião. No entanto, o conservadorismo é antes de tudo, um temperamento humano, que se contrapõe ao temperamento revolucionário. Num livro que estou preparando para publicar ainda este ano, O manifesto conservador, analiso estes dois temperamentos, de uma fora mais aprofundada. Por ora, deixo aqui um trecho do livro aos leitores deste blog.

                                                                            Erick Ferreira  





        Uma das primeiras características observadas no temperamento conservador é a indisposição à utopias. Por isso, Michael Oakeshott – um dos máximos expoentes do pensamento conservador –, assim define o ser conservadorismo: “Ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, o fato ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, a felicidade presente à utópica”. Por certo, nesta definição muitos verão uma postura comodista diante da existência, mas tal não procede, pois o que há no ser conservador é antes de tudo uma postura responsável diante da existência. Responsabilidade que o existe no temperamento revolucionário e na sua disposição fatal à utopia. Por isso, os conservadores são os últimos a serem culpados pelas tragédias que se desencadeiam na história protagonizados pelos homens, pois eles não esperam um mundo melhor, tão pouco prometem uma sociedade ideal; são antes os revolucionários que prometem tais coisas, e são os últimos a assumirem a culpa por suas consequências trágicas. Os conservadores estão bem convencidos da natureza corrompida do homem e da instabilidade da vida terrena; os conservadores estão certos de que todas as utopias sempre se converterão em pesadelos ao saírem do campo mental e entrarem no terreno da realidade.
Já que foram os revolucionários e utópicos que proclamaram o advento de um mundo melhor, da fraternidade universal, da sociedade perfeita; que fizeram promessas que estavam acima de suas capacidades, e quando o sonho utópico se tornou um pesadelo, estes deveriam ser os únicos a serem culpados pela irresponsabilidade de suas utopias, por ignorarem verdades que todo conservador está convencido milhares de anos. A primeira delas: que todo homem está indistintamente inclinado ao mal, e que esta triste condição humana tornará sempre vã qualquer tentativa de implantar uma sociedade perfeita na terra.

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