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sexta-feira, 2 de agosto de 2019

O humilde Cura d'Ars





                Era uma sexta-feira de fevereiro de 1818, uma velha caleça abarrotada de móveis, com seu balançar sonoro seguia pela poeirenta estrada rumo a Ars. A certa altura do caminho, os viajantes sentem-se desorientados. Por graça de Deus, cruza o caminho dos viajantes um pastorzinho de 12 anos. Era Antoine Givré que providencialmente passava por lá naquele momento. O Pe. Vianney aproxima-se dele, e com seu jeito amável, conforme acrescenta a tradição, lhe propõe esta maravilhosa escolha: "Tu me mostras o caminho de Ars; e eu te mostrarei o caminho do céu". Antoine Givré prontamente cumpriu a promessa e o Padre Vianney a sua: mostrou o caminho do céu a Antoine e à toda Ars.


A pequenina Ars


 "Que pequenina é Ars!" foi o primeiro pensamento que veio a mente do padre Vianney - como acrescenta um de seus biógrafos - ao avistar aquele pequeno aglomerado de casinhas graciosamente agrupadas em torno da velha paróquia.
 Em Ars a fé desvanecia e o mundanismo se alastrava impetuosamente na vida de seus moradores. Um padre missionário que passou por aquela região, deixou ao Bispo está grave observação:
"Ensinar o catecismo às crianças é difícil, por causa de sua ignorância e incapacidade; a maior parte delas só tem a distingui-las dos animais o batismo".
Foi isto que o Pe. Vianney encontrou em Ars, um paganismo escancarado. "Deixai uma paróquia vinte anos sem um vigário, dizia o santo, e logo os animais passarão a ser adorados".  Ars já estava prestes a isto.
Um povo que ainda ia à Igreja por tradição familiar, mas no dia-a-dia vivia um ateísmo prático. Os costumes encontravam-se extremamente corrompidos; a frequência aos sacramentos era quase nula; os bailes e serões aos domingos eram o grande atrativo daquele povo.
Antes de ser enviado para Ars, haviam dado este conselho desafiador a Vianney: "Não há muito amor de Deus, nesta paróquia, terei vós, que o despertá-lo". Mas o que o Pe. Vianney encontrou foi a ausência de muito mais do que a caridade, faltava em Ars os elementos morais básicos de uma comunidade minimamente cristã. O santo teria muito que se sacrificar e sofrer por aquela paróquia. A começar, é claro, por despertar o amor naqueles corações endurecidos. E isto o fez prontamente, com a confiança de que ao ser despertado o amor, o resto viria em acréscimo. Despertada a incomensurável força do amor nos corações, dele faria o grande impulsor de seu apostolado.
Às noites passava largas horas ensaiando seus sermões, e no púlpito bradava com fúria divina contra a vida dissoluta de seus paroquianos. No silêncio, intensificava sua vida de penitência e oração. Nas primeiras noites deixou de lado a cama e passou a dormir no chão; privou-se dos prazeres do paladar, contentando-se com batatas cozidas, diminuiu as horas de sono, chegando a dormir três horas por noite, e submetia-se dia após dia as mais extremas mortificações.
"Meu Deus, concedei-me a conversão de minha paróquia, sujeito-me a sofrer o que quiserdes, durante toda a minha vida", tornara-se a sua oração constante.
       Lutou com denodo para extinguir as blasfêmias e a ignorância religiosa: "Este pecado (a ignorância religiosa), dizia ele, condenará mais almas do que todos os outros juntos".
Para vencê-la, intensificou a catequese junto aos moradores. Em pouco tempo, suas catequeses atraiam multidões que vinham até de outras cidades para ouvi-lo.
A ira de Deus, que como diz as Escrituras, se acendia contra toda impiedade (Rom 1, 18) nos lábios de Vianney. Contra os taberneiros vociferava com fúria divina... "Vós vereis arruinados todos aqueles que aqui abrirem tabernas". E de fato, todos os intentos dos taberneiros já não prosperava mais naquela cidade, estes se viram obrigados a procurar outra atividade. Era implacável o santo na reforma dos costumes.

A célebre luta para extinguir os bailes e as danças

Mas, um dos desafios que mais impunha resistência aos ardores daquele incansável cura eram os bailes! E o santo não cessava de bradar em seus sermões contra eles:
"As pessoas que entram num salão de baile - dizia cheio de santa indignação -, deixam à porta o seu Anjo da guarda e o demônio o substitui lá dentro, de modo que há tantos demônios em um baile quanto há dançantes".

Mandara esculpir como epigrafe em um oratório dedicado a S. João Batista a tão sucinta frase: "A sua cabeça foi o preço de uma dança".
Nesta luta, o santo usou de grande argúcia. Tratou de converter as moças - "sabia que não haveria bailes sem elas". Seus fervorosos sermões começaram a incutir um grande temor no coração das mulheres da comunidade e, estas, compungidas pelas candentes palavras do cura, logo abandonariam os bailes e a vida frívola e abraçariam a vida modesta na "Confraria do Rosário", fundada pelo santo.
A decepção dos jovens que frequentavam os bailes foi enorme quando lá chegaram e não encontraram as mulheres. O ódio destes mancebos fogosos logo se acendeu contra o cura, que acabou - literalmente - com suas festas. Mas, logo perceberam sua impotência diante de um santo, e sossegaram. E os bailes... Acabaram, enquanto a paróquia da cidade tornara-se tão atraente quanto eles. Lá estava Deus, a santidade de seu pároco assinalava sua divina presença, e não deixava margens a enganos. Entre um pedaço do paraíso que irradiava daquela paróquia ninguém o trocaria por qualquer prazer mundano.

Porém, o santo notando que muitos jovens sentiam desejo natural de se divertir, implantou na paróquia diversões saudáveis e puras, que ajudavam a mente e o corpo! "Diverti-vos, mas não pequeis", lembrava a máxima do santo educador da juventude: S. Filipe Neri.
O Santo conferiu as festas religiosas, um grande brilho. Com a ajuda de seu amigo, o conde de Garets, a festa de Corpus Christi adquiriu a pompa real que as cerimônias ao Rei do Universo evocam.
A mendacidade do povo estava sendo extirpada, os ímpios sossegaram por um tempo, mas o artífice de todo mal não. O bem que fazia às almas, atraiu a fúria do demônio, que via a cada dia seu reino sofrer duras derrotas.

O cura d'Ars e o demônio


O terror que incutia a santidade do Pe. Vianney nas potências infernais era tamanha que certa ocasião o demônio confessou pela boca de um possesso: "Se houvessem dois padres como o cura d'Ars no mundo, meu reino estaria perdido".

A partir do momento em que o Pe. Vianney, empenhou todas as suas forças para salvar até o ultimo de seus paroquianos, começou a padecer na carne a ira do inferno.

As noites na casa paroquial, a partir de 1823, nunca mais foram as mesmas. O Demônio passou a investir com toda a fúria contra o santo que lá habitava. Tudo começou em uma noite sinistra, quando o relógio marcava dez horas. O cura ouviu fortes batidas na porta da canônica (casa paroquial). Abriu a janela para ver quem era, mas não viu ninguém. O barulho cessou! Por algum tempo, mas recomeçou de forma até mais assustadora à meia noite. Os sinistros acontecimentos persistiram por algumas noites, O santo desceu a escada para saber quem batia, e novamente não havia ninguém. A cena se repetiria nas noites seguintes. O santo a princípio suspeitou de ladrões que tencionavam lhe roubar os ricos paramentos presenteados pelo conde de Garets. Redobrou então a segurança. Após transmitir o estranho ocorrido a seus paroquianos, imediatamente, bravos jovens se ofereceram à vigiar a casa paroquial. O primeiro a se oferecer foi o carpinteiro Andre Verchére, que por conseguinte, testemunhou as horripilantes manobras que o demônio orquestrava contra o cura. À noite, André Verchére, passou em vigília na casa paroquial junto ao cura para surpreender os supostos ladrões. Mas como nada aconteceu, recolheu-se à um quarto providenciado pelo cura. Por volta de uma da manhã, o carpinteiro foi surpreendido por violentas batidas na porta da sala. Imediatamente, Andre, empunhou a espingarda e esquivou-se na janela para surpreender os ladrões, mas, não viu nada. E o barulho continuou, menos forte, porém, mais assombroso. "Minhas pernas começaram a tremer, contou André, e eu fiquei aterrorizado uns oito dias". O cura D'Ars naquele momento veio até o rapaz com uma lâmpada e lhe fez a pergunta óbvia: "ouviu o barulho?", "sim, é claro!",  respondeu Verchére, completamente assustado.
Após aquela noite sinistra, o santo ainda convidou Verchére a passar mais uma noite na casa paroquial, mas o rapaz recusou com um bem humorado basta: "Senhor cura, para mim chega de sustos".
Mas os horrores não cessaram na casa paroquial, até o santo convencer-se de quem estava lhe roubando o sono. Aquele que era o mais prejudicado com suas orações e sacrifícios: o demônio.
A cada noite as ações do demônio contra o cura se intensificavam. Chegando, inclusive, a pôr fogo na casa canônica.


A fama de santidade

O cura d´Ars em vida gozava de tal fama de santidade que toda França acorria a pequena Ars para vê-lo. O sobrenatural tornou-se parcela de seu cotidiano. Acontecimentos extraordinários cercavam sua existência. Diziam que ele podia ler as consciências; que era temido pelo demônio; que levitava; que falava com Nossa Senhora, etc.
"A castidade brilhava em seu olhar", dizia uma testemunha da época. (cf. Arch. Secret. Vat. t. 3897, p. 304) Um advogado que visitara Ars para ver o padre Vianney voltava maravilhado para sua cidade contando a todos: "Vi Deus em um homem".Qual o segredo de tantos prodigios? O santo respondia com simplicidade: "O padre, antes de tudo, deve ser homem de oração" (Ibidem t. 227 p. 33)

Um dia, um pároco veio se lamentar-se ao Cura d'Ars do triste estado em que encontrava-se sua paróquia e das poucas conversões que nela aconteciam. "Já fiz de tudo", dizia o triste pároco.
Eis a resposta desafiadora do padre Vianney:
"Rezastes? Chorastes? Gemestes e suspirastes? Jejuastes? Fizestes vigílias? Dormistes no chão duro? Fizestes penitências corporais? Enquanto não fizestes isso, julgueis que não fizestes tudo". ( t. 227, p, 53)

O santo do confessionário

Em média, o santo passava 15 horas por dia no confessionário, começando pela extrema madrugada, pessoas passavam meses em Ars para confessarem-se com o cura d´Ars. Diante da dureza de um pecador empedernido, as lagrimas corriam rapidamente na face do cura, "Por que chorais?", perguntou um penitente de coração endurecido. "Oh, meu amigo, eu choro porque vós não chorais".

Este foi o grande santo de Ars, cujos feitos jamais poderiam ser contidos em livros. 

S. João Maria Vianney,
Rogai por nós!


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