O
primeiro dever de um homem apaixonado é portar-se como um idiota,
escrevera Gilbert Keith Chesterton, um homem cuja sensatez estava
acima de qualquer suspeita, mas que em determinado momento de sua
existência, – como qualquer outro mortal – também sucumbiu ao estado
que descreveu em sua frase: de idiota. Em
uma divertidíssima carta dirigida à esposa de um amigo, Chesterton
narrava os absurdos que cometia sob efeito do dardo flamejante da
paixão.
Escreve
ele:
Querida Mildred,
Quando levantei esta manhã, lavei cuidadosamente minhas botas com água e engraxei meu rosto. Então, vestindo o casaco com graciosa facilidade com os botões virados para as costas, eu desci para o café da manhã e alegremente coloquei café nas sardinhas e levei meu chapéu ao fogo para fritar.
Estas atividades irão dar-lhe uma ideia de como estou. A minha família, vendo-me sair de casa através da chaminé e colocar a grelha da lareira debaixo do braço, pensaram que alguma coisa preocupava meu espírito. E era verdade!
G. K Chesterton
Frances Blogg |
E
a autora deste notável feito, capaz de tirar o sossego de um homem
que se conservava imperturbável perante as intempéries de uma vida
agitada, fora uma tímida inglesa do final do século XIX, Frances
Alice Blogg, que vivia em um bairro boêmio da Londres, frequentado
por intelectuais e militantes políticos de todos os naipes. Frances cresceu naquela inebriante atmosfera de debates que se
verificava em sua comunidade, e acabou por
envolver-se na juventude, em parte, com os problemas discutidos pela comunidade
intelectual do lugar.
Em 1884, junto com alguns amigos, criava a
“IDK Sociedade de Debates”. Lá, ela e suas irmãs encontraram um
estimulante ambiente de discussões e amizade.
Em
1896, um novo membro é convidado ao clube, Lucien Oldershaw, amigo
de Chesterton, e que viria a se casar com uma das irmãs de Frances,
Ethel. Entusiasmado com a visita, contou a seu amigo Chesterton, “as
garotas do clube são extraordinariamente lindas”. O que estimulou
Chesterton a ir lá na próxima vez.
No
outono de 1896, Chesterton e Frances finalmente se encontraram. Ele
caiu instantaneamente apaixonado, como viria a confessar mais tarde.
“Amor à primeira vista”, dizia ele.
Frances
era bela, inteligente e modesta, um grande atrativo a qualquer homem
sensato e idealista. Mas, uma coisa em Frances o
atraiu particularmente, sua fé! Frances tornara-se uma devota
católica, no período em que frequentara o St Stephen’s College, e
agora tornava-se o grande objeto das afeições de Chesterton. Não
afeições desordenadas, mas as mais puras afeições que qualquer homem espirituoso poderia nutrir por uma mulher.
Chesterton aos 17 anos |
Chesterton,
impressionara-se profundamente, com o fato de Frances conservar sua
fé intacta, como um raio de luz, em um ambiente degradado e sombrio como aquele em que vivia. Muitos dos membros do clube que participavam eram fascinados por espiritismo e ocultismo. Chesterton, não muito
diferente deles, trilhava caminhos parecidos. Até 1896, se
proclamava agnóstico. Isso até conhecer aquela encantadora
inglesinha de Bedford Park [1], que virava do avesso aquele homem imponente.
Frances
fora a “pedra do tabernáculo”, como a chamara Chesterton, que o atraiu à belezas e verdades supremas, que este passaria
o resto da vida a perseguir devotamente. E de um bobo apaixonado,
tornara-se o “apóstolo do senso comum” e da sensatez em um mundo
confuso e doente.
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1.
Bairro em que vivia Frances Blogg
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