Recordar o passado é comprometer-se com o futuro!
João Paulo II, 25 de
fevereiro de 1981
Há 71 anos, Hiroshima e Nagasaki eram completamente varridas do mapa através de duas explosões nucleares. O episódio passou na história como o marco da rendição japonesa e o fim da II Guerra Mundial. Mas há um aspecto ignorado desta tragédia que nos deixa perplexos: Por que exatamente a região mais católica do Japão foi destruída? Que razões especiais motivaram esta escolha?
Com a explosão atômica em Hiroshima e Nagasaki, dois terços dos católicos japoneses foram dizimados. Isto, passados apenas 72 anos de liberdade religiosa instaurada no país após quase três séculos de intensa perseguição.
Em 1928, segundo o “manual da história das missões católicas” de Giuseppe Schmidlin, dos 94.096 católicos japoneses, 63.698 eram de Nagasaki.
1. Nagasaki, a "Roma do oriente".
A história do catolicismo no Japão confunde-se com a história do catolicismo em Nagasaki. Nesta cidade, ao sudoeste do Japão, o catolicismo alcançou seus maiores êxitos na região asiática. De Nagasaki veio um número surpreendente de santos e beatos que nações com mais tradição católica como Brasil, Argentina, e outros países reconhecidamente católicos, não conseguiram produzir.
Em 27 de julho de 1549 aportava na Ilha de Kyuchu (onde está localizada Nagasaki), São Francisco Xavier, trazendo consigo a semente do evangelho que logo germinaria em solo japonês, regada com sangue de mártires. Rapidamente a fé difundiu-se em Nagasaki, tornando-a uma eloquente expressão da fé católica em um império pagão. Por esta razão, Nagasaki dignamente fora chamada "Roma do Oriente".
Com a ascensão ao trono de Toyotomi
Hideyoshi entre 1536 a 1598, uma terrível perseguição desencadeou-se sobre a
fervorosa comunidade católica de Nagasaki, culminando no martírio de 26 bravos
católico em 1597 na colina de Megumi No Oka (Nagasaki).Aqueles eram os
primeiros frutos de uma “rica messe de mártires” que nos séculos seguintes
aumentaria com a chegada ao poder dos shoguns (senhores da
guerra).Durante o shogunato (ditadura dos shoguns) estima-se que
pelo menos 35 mil cristãos foram martirizados em Nagasaki. Daí por diante, a
sucessão de martírios se sucedeu incessantemente ao longo de dois séculos e
meio até o final do século XIX.Apos a intensa perseguição promovida por daymiôs e shoguns,
em 1873, na era Meiji, a fragilizada comunidade católica do Japão experimentou
um breve período de paz, que iria durar apenas 72 anos. Mas, do outro lado do
mundo, em Los Alamos (EUA), se preparava um novo flagelo para os católicos de
Nagasaki: a bomba atômica... Que em um dia, sob as ordens de Harry Truman
(presidente dos EUA), infligiria aos católicos japoneses um golpe devastador
que não foram capazes de perpetrar, em quase três séculos de implacável
perseguição, a ditadura de daymios e shoguns.
Explosão de Nagasaki
2. A devastação de Hiroshima e Nagasaki
Em uma manhã de agosto de 1945, (6), às 8h15, o Japão era surpreendido com a mais devastadora das armas de guerra já vista. Um bombardeiro despejava 60 kg de urânio-235 sobre Hiroshima, exterminando instantaneamente 75 mil pessoas, e mais 70 mil nos dias seguintes em decorrência dos ferimentos e da radiação.
O Japão mal recuperava-se da indescritível tragédia em Hiroshima quando três dias depois, em outra manhã de agosto (11h02, horário de Tokyo), eram lançados sobre Nagasaki, (a 423 km de Hiroshima), 6, 4 kg de plutônio-239, que se convertiam em impressionante cogumelo de fogo, vitimando 80 mil pessoas nos primeiros instantes da explosão, -- 200 mil nas duas cidades.
Mas um detalhe particular desta tragédia nos chama a atenção. A fat man (como fora chamada a bomba de Nagasaki) caia exatamente sobre a mais expressiva região católica do Japão, o distrito de Urakami, em Nagasaki, -- há poucos metros da catedral de Urakami. E inevitáveis questionamentos nasciam daquele episódio escabroso, que somados a outros fatores, conduziam a emblemática questão: por que exatamente a região mais católica do Japão fora destruída? Excogita-se que Hiroshima tenha sido escolhida por diversos motivos estratégicos, entre eles, o fato de ser sede de uma importante divisão do exército japonês, e também deposito de suprimentos militares, e quartel general da marinha.
Mas quando pensamos em Nagasaki não encontramos nenhuma razão especifica que motive sua destruição. Conforme as próprias forças americanas, Nagasaki não era o alvo daquela operação, ela fora escolhida em cima da hora por conta das péssimas condições de voo sobre Kokura, a cidade escolhida para a explosão da fat man. Este empecilho fora comunidade ao centro de comando em Washington, que optou por desviar a rota para Nagasaki.
Mas se formos analisar esta escolha do ponto de vista geográfico, Nagasaki estava à aproximadamente 210 km de Kokura, e os pilotos dispunham de muitas outras opções, até mais justificáveis naquela ofensiva do que Nagasaki, o que fortalece a hipótese de Nagasaki ter sido escolhida por razões especiais.
Após a hedionda façanha em Hiroshima e
Nagasaki, em Washington, um festim se erguia para comemorar a rendição
japonesa. Conta-se que Robert Oppenheimer, o líder do projeto Manhattan, -- que
desenvolveu as bombas atômicas --, recitava festivamente os versos do Baghavad
Gita: "agora eu me tornei o destruídos da morte". Alguns
afirmam que Oppenheimer possuía fortes ligações com o ocultismo satânico.
A trama torna-se ainda mais intrigante
quando analisamos outro importante personagem desta história, o presidente
Harry Truman, o grande mandatário por trás daquela escolha. Truman, era um
ferrenho anticlerical, grau 33 na maçonaria, e grão-mestre em Beiton Lodge, no
Missouri.
Este detalhe nos faz pensar que a destruição de Nagasaki não foi uma simples escolha ao acaso. A este respeito escreveu o Cardeal Giacomo Biffi em suas memorias:
“Vamos supor que as bombas atômicas não tivessem sido jogadas ao azar.
Essa pergunta se torna inevitável: por que foi escolhida para a segunda bomba,
entre todas, precisamente a cidade do Japão onde o catolicismo, além de ter a
história mais gloriosa, estava mais difundido e afirmado?”.(Cardinale
Giacomo Biffi. Memorie e digressioni di un italiano cardinale. Cantagalli,
2007. p, 640)
Se razões anti-católicas motivaram esta
escolha, não o sabemos, mas o fato é que metade dos católicos do Japão foram
dizimados em um dia.
P.S
*João Paulo II
visitou Nagasaki em 1981, visitou a colina dos martíres (Megumi No Oka,
Nagasaki)
**O ultimo senso sobre a Igreja no Japão estima que atualmente existam 444.441 católicos no Japão.
**O ultimo senso sobre a Igreja no Japão estima que atualmente existam 444.441 católicos no Japão.