Infinitas páginas narram a incompatibilidade da fé católica com os ideais materialistas do comunismo, todavia, o comunismo ainda é uma ideologia que arrasta numerosos membros da Igreja para as suas fileiras. Este texto não pretende ser mais eficaz ou mais eloquente do que tudo que já foi dito sobre essa ideologia nefasta. Ele busca simplesmente fazer coro a esta condenação que a Igreja repete desde o despontar desta ideologia no mundo.
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Há um único sonho a embalar o sangrento percurso revolucionário na história: a diabólica pretensão de criar uma civilização sem Deus. Mesmo que seus ideólogos neguem peremptoriamente essa intenção.
Sob a foice e o martelo do comunismo e a custa de muito sangue, este "sonho" funesto esteve diversas vezes na iminência de se concretizar no mundo. Em uma destas ocasiões, no final dos anos 40, o comunismo soviético, que já havia se estendido por quase um terço da terra, tentou erguer, concretamente, uma cidade sem Deus. E a pedra angular daquele insano projeto foi lançada no coração da Polônia -- um dos países mais católicos do mundo --, em um distrito operário nos arredores de Krakóvia chamado Nowa Huta.
Alí, parecia, aos olhos comunistas, o cenário ideal para erguer esta nova civilização; arquitetada há tanto tempo pelos revolucionários. A civilização sem Deus, sem igreja, sem culto, sem sacerdotes e sem fé.
Mas, para a surpresa do Partido, os próprios operários que habitariam Nowa Huta ergueram em seu centro uma imponente cruz, e a seus pés, estabeleceram um fervoroso culto a Deus.
Como era esperado, as autoridades comunistas trataram logo de levar ao chão aquele "incoveniente" simbolo e reprimir o culto que se fazia em torno dele.
Por conseguinte, a derrubada da Cruz ocasionou uma onda de protestos pelo país, que durou três dias e deixou muitos mortos e feridos. Alí, o comunismo aprendeu que não seria tão fácil erguer uma cidade sem Deus no mundo.
* A pretensa "cidade sem Deus" estava dentro da circunscrição eclesiástica de uma das figuras mais importantes na luta contra o comunismo na época, o arcebispo Karol Woytiła (futuro João Paulo II), que viria a ter papel determinante nos rumos daquele projeto.
Cruz de Nowa Huta |
Daí por diante, uma luta continua se travava em torno da cruz de Nowa Huta.
Na impotência de vencer a força da fé, a polícia comunista permitiu que a cruz permanecesse no local, mas sem a presença de fiéis em torno dela. Assim, não haveria quem a preservasse das intempéries do tempo, ou a substituísse quando estivesse deteriorada. Com o tempo, a cruz acabou ruindo, e a guarda passou a vigiar o local para que uma nova cruz não fosse erguida em seu lugar.
Porém, no dia do trabalhador (1 de maio), quando a guarda responsável por vigiar a cruz estava fora de seus postos, os fiéis corajosamente tomaram o local e ergueram uma nova cruz, e a partir daquele dia, a resistência tornou-se vez mais forte.
Em 1963, na noite de Natal, debaixo de forte chuva, uma multidão não se intimidou com o frio e a presença da polícia, e compareceu em peso sob a liderança de seu arcebispo para celebrar aos pés daquela cruz a Missa do Galo.
O ato suscitou, inicialmente, alguns atritos, mas nada que impedisse o transcorrer do Santo Sacrifício.
No mesmo ano, vencendo todas as imposições, a cruz de Cristo é definitivamente fincada em "solo ateu" e, a pretensa cidade sem Deus torna-se um eloquente sinal da invencibilidade da religião no mundo.
* Em 1977 uma igreja começa a ser construída em Nowa Huta.
A resistência que nascia em Nova Huta fora o inicio do vertiginoso efeito dominó que se desencadeou sobre toda a cortina de ferro erguida no leste europeu, levando a grande derrocada do comunismo bolchevique.
Ante o inevitável declínio comunista no leste Europeu, uma importante figura do PC, o general Wojciech Jaruzelski, reconheceu a principal responsável por aquela derrota: a Igreja.
Uma sociedade sem fé
Mas o sonho comunista de construir uma sociedade sem Deus não morreu em Nowa Huta, tão pouco no desmoronar na cortina de ferro soviética, ele amadureceu com seus novos teóricos, Lukasz e Gramsci e toda a influente escola de Frankfurt deram nova roupagem aquela ideologia e novos planos de ação, mais inteligentes e eficazes. E a Igreja que um dia dera golpes fatais no bolchevismo, era, mais uma vez, vista como um grande empecilho para a realização da sociedade comunista no mundo.
Assim, a estratégia leninista de iniciar a revolução com a tomada do Estado, deu lugar a uma nova estratégia mais meticulosa e eficaz, de "transformação das consciências" por meio da possse dos meios de produção cultural. Conquistar primeiro as mentes e os corações para depois conquistar o Estado, er ao plano.
Atualmente vemos as estratégias Gramsciana e Lukacziana em pleno curso dentro de todas as instituíções da sociedade, inclusíve a Igreja, ou dir-se-ia, principalmente dentro da Igreja, que nas ultimas décadas tornou-se caixa de ressonância das ideias comunistas.
O comunismo encheu nossos púlpitos, nossas escolas, nossos rádios e jornais de discursos marxistas. Aprendeu com o tempo que transformar é muito mais vantajoso que perseguir.
* O comunismo, dito ocidental, viu a religião crescer com a perseguição armada, a estratégia mudou. Não há mais domínio armado, há domínio psicológico. Não se conquista territórios... Se conquista corações.
A Doutrina Comunista
A doutrina comunista postula que a vida é produto de forças cegas e ocultas, e que todos os princípios que regem nossa sociedade não são produtos de forças naturais ou superiores, mas foram forjados por uma classe que se sobressaiu na história (a burguesia) e deu origem a sociedade capitalista dominante.
Para Marx, o homem nasceu livre e sem classe, a sociedade nasceu sem empregados e patrões; família, ou qualquer forma de contrato social... O modo de produção capitalista transformou isso, e o Manifesto Comunista de 1848 classificou os homens entre "oprimidos e opressores", que vivem em constante oposição.
A opressão começa quando alguém toma posse do que é de todos, dando origem a propriedade privada, que consequentemente gera a relação de poder entre os homens, e daí por diante, a sociedade passa a ser uma continua luta de classes, entre opressores e oprimidos, que se digladiam constantemente em torno do Capital.
Esta luta só terá fim, pensava Marx, mediante a revolução do proletariado, que inaugurará a sociedade igualitária e livre, abolindo todas as divisões de classes e por conseguinte, toda autoridade. Porém, quando a utopia saiu do papel para o terreno prático, o resultado foi catastrófico.
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Todo este ideal é inviável por ir contra a ordem natural das coisas... Mas, para Marx, não existe uma ordem natural, tudo é convenção social e passível de intervenção humana.
Mas a desigualdade é um fator natural que faz parte da criação; querer nivelar todas as coisas, colocá-las no mesmo patamar é insano e inviável. Prova-nos todas as tentativas que culminaram em grandes tragédias: A China de Mao, a Cuba dos irmãos Castro, o Camboja de Pol-Pot, a Russia de Lenin e Stalin, são exemplos do que é a sociedade comunista... Terror, opressão, desigualdade e muito sangue derramado. O total oposto do que propõe a teoria comunista.
Apesar da tragédia que foi o comunismo na história, nos livros didáticos ele ainda é representado como o cândido ideal de uma sociedade sem classes, sem posses, onde tudo é de todos. Embora, por trás destes nobres ideais oculta-se a mais cruel tirania.
A tragédia do comunismo é resultado mais que previsível dos preságios cínicos de Marx.
Porém, aos comunistas sempre resta o velho subterfúgio de afirmar que o comunismo não foi interpretado corretamente, tão pouco bem aplicado. Mas aí surge a mais natural das perguntas: onde o comunismo deu certo? Se não deu certo em lugar nenhum, esta não é a prova mais segura de que ele é um grande erro?
Sobre as fajutas promessas do comunismo escreveu Mons. Fulton Sheen: “O comunismo entorpece os pobres, prometendo-lhes o que não lhes pode dar, a saber, um paraíso na terra”. (cf. SHEEN, Fulton. Comunismo: O ópio do povo)
Um sistema ateu
Em 1905 Lenin fez a seguinte afirmação: ‘‘O nosso programa comunista inclui a propaganda do ateísmo’’ (cf. Novoya Zhizn n. 28). E em sua carta a Gorki foi mais incisivo: "Deus é o inimigo pessoal da sociedade comunista".
O Bezbojnik, jornal comunista, em 1934 assim se manifestava: ‘‘a educação comunista das crianças requer explicitamente a educação anti-religiosa’’.
Não esqueçamos que para Marx, o grande mentor desta catástrofe, ‘‘a religião é o ópio do povo’’ (cf. MARX, Karl. A Crítica da filosofia do direito de Hegel). Logo, para o comunismo a religião precisa ser extirpada do mundo, mas antes disso, deve ser extirpada do coração do homem.
A Igreja em face do comunismo
Por estes e tantos motivos, o comunismo, desde suas origens, é reiteradamente condenado pela Igreja: de Pio IX à Bento XVI. A antinomia dos princípios é tão gritante que o Santo Padre Pio XI afirmou que "ninguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro comunista" (cf. Quadragesimo anno). E o motivo é óbvio: O materialismo intransigente, que é um de seus princípios básicos, não se coaduna de nenhuma forma com as verdades eternas do Evangelho.
Mas o ponto mais condenável deste sistema é sua visão hedionda do ser humano. O comunismo proclama que há uma só realidade universal: a matéria, e tudo deve ser explicado somente por este critério. Logo, tudo que não se explica materialmente, deve ser negado e combatido.
Para o comunismo o único fim do ser humano é o fim econômico. Assim, simplifica o homem a uma simples molécula do organismo social, como tão bem observou João Paulo II:
"O erro fundamental do socialismo é de caráter antropológico. De fato ele considera cada homem, simplesmente como um elemento e uma molécula do organismo social’’ (cf. Centessimus annus, n. 13).
Para o comunismo, o homem é ainda "Um macaco que se humanizou pelo trabalho" (cf. Friedrich Engels. Sobre o trabalho na transformação do macaco em homem).
Com visão tão odiosa do ser humano, como não combater esta doutrina?
Portanto, não é em nome do capitalismo, da democracia, da religião ou de qualquer outro sistema que a Igreja condena e combate o comunismo, mas em nome da dignidade humana que ele ameaça.
O principio da ‘‘igualdade absoluta’’, destrói a personalidade individual de cada homem e nega sua dignidade, colocando o na mesma posição de qualquer outra criatura. Como sua dignidade poderá ser respeitada por um sistema que de antemão decretou e o nivelou a uma mera molécula do sistema?
Bento XV o classificou como o inimigo mais implacável dos princípios cristãos. (cf. Bento XV. Enc. Bonum sane). Sua essência é tão grave que o chamou Leão XIII de "peste mortífera que invade a medula da sociedade humana e a conduz a um perigo extremo" (cf. Enc. Quo Apostolici Muneris, 1878). E por sua constituição maléfica, o comunismo é intrinsecamente mau em seus princípios e em seus métodos, não pode ser conciliado com a fé cristã. Por isso, todo aquele que adere a este nefando sistema, conforme decretou S. S Pio XII, no Decretum contra Communismum de 1949, está excomungado latae sententiae.
Tristes páginas deste regime: Resultados fatais da ideologia
Em sua história, o comunismo legou as páginas mais cruéis que já viveu a humanidade. Após a queda do muro de Berlin com a abertura dos arquivos dos países comunistas, foi revelado o horrendo pesadelo por trás daquele insinuante ideal.
De baixo da cortina de ferro, penavam populações inteiras sob a mais cruel tirania. Na obra monumental "le livre noir du comunisme: crimes, terreur et répression" (1997), organizada por vários historiadores, de esquerda, (Stéphanie Courtois, Nicolas Werth, Jean-Louis Pannée, Andrzej Paczkowski, Karel Bartozek, Jean-Louis Margolin), afirma-se, com uma vasta documentação, que o comunismo em sua história fez mais de cem milhões de vítimas.
Não houve país em que este sistema se implantasse, sem que o direito a liberdade não fosse suprimido e a discordância brutalmente reprimida.
O comunismo é minunciosamente opressor, o que unicamente importa é o lucro, obtido sob todas as formas, inclusive as mais desumanas. Por esta razão, chamou o Santo Padre João Paulo II a este sistema de um simples "capitalismo de estado" (cf. Centesimus annus, 35). Pois, se no capitalismo as riquezas ficam concentradas nas mãos de poucos, no comunismo ela fica toda nas mãos de um partido.
Casos revoltantes eram corriqueiros na sociedade comunista. A injustiça predominava na União Soviética e em seus congêneres. De 1930 a 1933 o partido comunista mandou 35 funcionários para o fuzilamento por causa de um fracasso na colheita. Em 1932 o Partido Comunista na União Soviética publicou uma nota advertindo os agricultores das fazendas coletivas que o roubo de uma simples espiga seria punido com a morte: “O culpado deve ser fuzilado e seus bens confiscados” (cf. Izvrtia, 8 de Agosto de 1932).
Em 1935 o partido ordenava as crianças a partir dos 8 anos guardar as colheitas: “guardarão os campos mesmo durante a noite, desde que tenham oito anos” (cf. Moldaia Guardia, 17 de agosto de 1935). Estes são alguns exemplos para ilustrar a condição em que viviam os povos sob domínio comunista.
Diante de tanta opressão, qualquer um que ousasse erguer-se contra o funesto sistema, podia ser no mínimo, enviado aos terríveis gullags (campos de trabalho forçado), -- grande símbolo da sociedade comunista, que ficavam nas regiões mais inóspitas da terra sem qualquer condição de sobrevivência aos seus condenados.
Os horrores daqueles infernos brancos foram retratados esplendidamente por Danzig Baldaiev em suas mais de duzentas gravuras.
Prisioneiros em Gullag Soviético |
Sabe-se que até crianças eram enviadas aos gullags. Qualquer manifestação contra o governo era reprimida com violência, como aconteceu em 1989 na praça da paz celestial (Tian´anmen, China) em que mais de sete mil (segundo os sobreviventes) foram enviadas literalmente para a paz celestial, antes, é claro de ter passado pelo inferno comunista.
De 1932 a 1933 o Partido Comunista condenou a fome a Ucrânia, no famoso genocídio conhecido como “Holodomor”, onde pelo menos cinco milhões de pessoas morreram de inanição, por conta da supressão de alimentos feita pelo governo soviético.
Ucranianos sob o Holodomor |
O el paredon de Fidel Castro em Cuba até o ano de 1960 já havia mandado mais de 14.000 pessoas para o fuzilamento.
Durante o Holodonor, até o canibalismo foi praticado como forma de sobrevivência |
Na Romênia durante o sangrento regime do ditador Nicolas Ceausescu, além do número exorbitante de mortes promovidas pelo regime, um fato macabro marcou o despótico período. O ditador que sofria de leucemia, mandava exanguir os corpos de suas vítimas para fins terapêuticos. (cf. NBR-HANDELSBADLAD, Raymond Van de Boogard. Massagaf in Timisoara werd kerkhof van betrovwbaarheid). Cenas macabras como estas tornaram-se comuns debaixo da cortina de ferro comunista.
Na Lituânia, o comunismo matou e mandou prender milhares de sacerdotes e fiéis leigos e todos quantos defendessem a liberdade. Estas tristes páginas encontram-se até hoje registradas simbolicamente nas milhares de cruzes e objetos sacros que se encontram na famosa ‘‘colina das cruzes’’ localizada no norte do país.
Na Polônia, o terrível massacre de Katyn (1939-1941) deixou marcas indeléveis na alma daquele povo.
O comunismo foi o maior flagelo que já se abateu sobre a terra. Causou mais mortes que todos os furacões, tempestades, terremotos e outros desastres naturais juntos... No entanto, ainda é sumamente louvado em nossas escolas e universidades, e tenebrosamente, é a ideologia mais propagada pelo mundo.
Conclusão
As tristes páginas do regime comunista na história, também nos revelam belos capítulos da resistência heróica do povo cristão. Vale lembrar a esplendorosa resistência espanhola no Alcácer, contra as nefandas forças comunistas que devastavam a Espanha. Igualmente, no México, o exuberante exemplo dos cristeros, que bradavam valorosamente contra os inimigos da fé. E em tantos países em que a nefasta ideologia comunista verteu sangue inocente, sempre existiu os mais belos exemplos de heroísmo e coragem, provando que o bem semre triunfa sobre o mal.
O comunismo tentou de todas as formas suprimir a religião, e com seu materialismo provar que não há Deus, mas só o que conseguiram, como esplendidamente afirmou Fulton J. Sheen, foi nos provar que há demônios.
Vimo-los (os comunistas) proscreverem a religião na Rússia, desterrarem o seu clero e matarem o seu povo. Vimo-los fecharem as Igrejas do México. Vimo-los crucificarem os padres na Espanha, abrirem os túmulos de religiosas e espalhar-lhes os restos mortais diante das portas da catedral. Vimos os seus museus anti-religiosos. Lemos sua literatura anti-Deus mas, tudo que o vimos e ouvimos fazerem contra a religião não nos convenceu de que não há Deus. Eles apenas nos convenceram que existem demônios.
(Mons. Fulton J. Sheen, in Comunismo: o ópio do povo)
(Mons. Fulton J. Sheen, in Comunismo: o ópio do povo)
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