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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

50 Anos de Vaticano II


Com a silenciosa convocação do ano da fé em comemoração aos 50 anos de abertura do Concílio Vaticano II (1962-1965), desencadeou-se  na Igreja – mas que nos anos anteriores – sérias impugnações ao referido concílio. E tais impugnações, na maioria das vezes, partem de bons católicos que, naturalmente, sentem-se perplexos ante o turbilhão de mudanças que se seguiu na Igreja após o Vaticano II e a dessacralização e relaxamento da vida espiritual.



Mas, estas impugnações não nos revelam um fato novo na história da Igreja. Épocas semelhantes de contestação já se viram na história.

Vale lembrar a terrível crise que assolou a Igreja após o concílio de Nicéia (325). O período de crise foi tão avassalador que S. Basílio Magno chegou a comparar a situação da Igreja na época à uma batalha naval: 

‘‘Ao que se assemelha a situação atual? Assemelha-se à um combate naval". (cf. Tratado sobre o Espírito Santo, 75, p. 182-183). E em outro lugar, comparou o mesmo santo a Igreja pós-conciliar ‘‘à um barco em alto mar... Navegando a esmo, sem rumo, sacudida pela violência das ondas’’.

O mesmo se deu no ápice do grande cisma do ocidente, onde três papas reinavam, gerando grande confusão entre a cristandade. Santos taumaturgos chegaram a escolher o lado errado e combater o Papa legítimo. 

1688 anos nos separam do concílio de Nicéia mas, a situação atual da Igreja não é muito diferente da situação descrita por S. Basílio no século IV. 

A situação da Igreja do século XXI pode ser comparada à uma barca em mar revolto, sacudida pela violência das ondas. E este mar revolto, com toda justiça, pode ser associado ao modernismo dessacralizador que impera no seio da igreja. 

O filosofo Jean Guitton, amigo de Paulo VI, expressa com muita clareza, o sentimento que acomete a todos os bons católicos que leem os documentos conciliares: 

‘‘Quando leio os documentos concernentes ao modernismo, tal como ele foi definido por São Pio X, e os comparo com os documentos do Vaticano II, não posso deixar de ficar desconcertado. Porque, o que foi condenado como heresia em 1906, foi proclamado como sendo e, devendo ser, doravante a doutrina e o método da Igreja’’. (cf. GUITTON, Jean. Portrait du père Lagrange. Éditions Robert Laffont, Paris, 1992, p. 55-56). 

Como Jean Guitton, quem não sente tal desconcerto? 

Bento XVI  vê o problema de outra forma, não  no concílio, mas em uma perigosa interpretação feita dele, ao que o Santo Padre chamou sabiamente de ‘‘hermenêutica da descontinuidade (ou da ruptura)’’. 

Estaria o erro no Concílio ou na sua interpretação? Os textos conciliares deixaram margens para esta perniciosa interpretação? 

Não nos presumimos a autoridade adequada para julgar tal questão, mas de uma coisa estamos certos: atentar contra o concílio pode significar, atentar contra o Papa, afinal, já foram sete papas a aprová-lo, e atentar contra o Papa, como bem afirmou um certo pensador argentino, 'seria como cortar o galho em que se está sentado'. 

E se muitos se perguntam: como encarariam os grandes santos, se vivessem no século XXI, tais mudanças na Igreja advindas do Concílio? Creio que certamente se lamentariam bastante, mas, com mais certeza, creio que se lamentariam mais ainda com os que rompem com a Igreja e afrontam com duros golpes a pessoa do Papa.  

Pecam por desespero, por acharem a crise maior que o poder de Deus. Pecam por soberba, por acharem-se auto-suficiente o bastante para prescindir de toda a autoridade. Mesmo que a situação seja caótica, e até desesperadora, devemos sempre pensar em como os mestres de virtude, os santos, encararam esses momentos. 

Celebre é a frase de Sta Teresa de Ávilla, em que a grande mística expressa sua descomedida obediência à Igreja: ‘‘Em tudo me submeto ao que professa a Santa Igreja Católica’’. E Sto Inácio de Loyola vai mais longe em sua obediência filial. Escreve  o santo em seus Exercícios Espirituais: ‘‘Eu acredito que o branco que eu vejo é negro, se a hierarquia da Igreja assim o tiver determinado’’. 

Muito mais lamentável que os erros que se abatem sobre a Igreja é a postura cismática. Não é mais fácil expelir a fumaça de satanás, que como disse Paulo VI, "penetrou no templo de Deus", de dentro da Igreja do que de fora dela? 

Uma heresia faz grande mal à Igreja, um cisma não deixa de ser um mal menor. 

Entre afrontas e discordâncias internas e externas, a Igreja segue neste mar tempestuoso do século XXI, sob os braços sempre firmes do alvo timoneiro, guiado pelo Espírito Santo. 

Entre as milhões de vozes  que se erguem no mundo, emitindo tantas opiniões sobre a crise, continuo a ouvir aquele sobre o qual foi dito: ‘‘Tu és Pedro e sobre ti edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela’’. 

Portanto, Indubitavelmente a opinião mais significativa neste contexto sempre será a do Santo Padre, e sua visão sobre a crise em nada perde para os tantos críticos incisivos do concílio. 

Diz o Santo Padre: 

‘‘Surge a pergunta: por que a recepção do concílio em grandes partes da Igreja, até agora teve lugar de modo tão difícil? Pois bem, tudo depende da justa interpretação do concílio ou como diríamos hoje, da sua correta hermenêutica, da justa chave de leitura e de aplicação. 

Os problemas da recepção derivam do fato de que duas hermenêuticas contrarias se embateram e disputaram entre si [...] por um lado, existe uma interpretação que gostaria de definir como ‘‘hermenêutica da descontinuidade e da ruptura’’; não raro, ela pode valer-se da simpatia da mass media e também de uma parte da teologia moderna [...] a hermenêutica da descontinuidade corre o risco de terminar numa ruptura entre a Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar’’. (cf. S. S Papa Bento XVI, discurso de 22 de dezembro de 2005). 

Embora muito se critique os textos dos documentos conciliares, o que foi aplicado em nossas igrejas não foi o Concílio Vaticano II, mas uma caricatura mal feita dele. 

Querer conter os ventos inovadores, saindo da Igreja é como abandonar o barco no meio do oceano. 

Assim encerra (Bento XVI) sua reflexão sobre o concílio: 

‘‘Se  o lemos e recebemos (o Vaticano II) guiados por uma justa hermenêutica, ele pode  ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a sempre necessária renovação da Igreja’’. (Discurso 22/12/05). 

Um fato simples e memorável na história da Igreja, mas de grande significância para a nossa consciência, foi um grito que ecoou dos lábios de milhões de jovens na praça de S. Pedro em abril de 1869 em audiência com o Papa Pio IX

‘‘Sim, até a morte’’, dizia o entusiasmado coro de jovens da Ação Católica em obediência as palavras de Pio IX. 

Façamos nosso este lindo brado: ‘‘até a morte!’’, ‘‘sempre com o Papa!’’. 

Sabemos  que em tempos de crise só está seguro quem está com  Papa.



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