Com a silenciosa convocação do ano da fé em
comemoração aos 50 anos de abertura do Concílio Vaticano II (1962-1965),
desencadeou-se na Igreja – mas que nos
anos anteriores – sérias impugnações ao referido concílio. E tais impugnações, na maioria das vezes, partem de bons católicos que, naturalmente, sentem-se perplexos ante o turbilhão de mudanças que se seguiu na Igreja após o Vaticano II e a dessacralização e relaxamento da vida espiritual.
Mas, estas impugnações não nos revelam um fato novo na história da Igreja. Épocas semelhantes de contestação já se viram na história.
Vale lembrar a terrível crise que assolou a Igreja após o concílio de Nicéia (325). O período de crise foi tão avassalador que S. Basílio Magno chegou a comparar a situação da Igreja na época à uma batalha naval:
‘‘Ao que se assemelha a situação atual? Assemelha-se à um combate naval". (cf. Tratado sobre o Espírito Santo, 75, p. 182-183). E em outro lugar, comparou o mesmo santo a Igreja pós-conciliar ‘‘à um barco em alto mar... Navegando a esmo, sem rumo, sacudida pela violência das ondas’’.
O mesmo se deu no ápice do grande cisma do ocidente, onde três papas reinavam, gerando grande confusão entre a cristandade. Santos taumaturgos chegaram a escolher o lado errado e combater o Papa legítimo.
1688 anos nos separam do concílio de Nicéia mas, a situação atual da Igreja não é muito diferente da situação descrita por S. Basílio no século IV.
A situação da Igreja do século XXI pode ser comparada à uma barca em mar revolto, sacudida pela violência das ondas. E este mar revolto, com toda justiça, pode ser associado ao modernismo dessacralizador que impera no seio da igreja.
O filosofo Jean Guitton, amigo de Paulo VI, expressa com muita clareza, o sentimento que acomete a todos os bons católicos que leem os documentos conciliares:
‘‘Quando leio os documentos concernentes ao modernismo, tal como ele foi definido por São Pio X, e os comparo com os documentos do Vaticano II, não posso deixar de ficar desconcertado. Porque, o que foi condenado como heresia em 1906, foi proclamado como sendo e, devendo ser, doravante a doutrina e o método da Igreja’’. (cf. GUITTON, Jean. Portrait du père Lagrange. Éditions Robert Laffont, Paris, 1992, p. 55-56).
Como Jean Guitton, quem não sente tal desconcerto?
Bento XVI vê o problema de outra forma, não no concílio, mas em uma perigosa interpretação feita dele, ao que o Santo Padre chamou sabiamente de ‘‘hermenêutica da descontinuidade (ou da ruptura)’’.
Estaria o erro no Concílio ou na sua interpretação? Os textos conciliares deixaram margens para esta perniciosa interpretação?
Não nos presumimos a autoridade adequada para julgar tal questão, mas de uma coisa estamos certos: atentar contra o concílio pode significar, atentar contra o Papa, afinal, já foram sete papas a aprová-lo, e atentar contra o Papa, como bem afirmou um certo pensador argentino, 'seria como cortar o galho em que se está sentado'.
E se muitos se perguntam: como encarariam os grandes santos, se vivessem no século XXI, tais mudanças na Igreja advindas do Concílio? Creio que certamente se lamentariam bastante, mas, com mais certeza, creio que se lamentariam mais ainda com os que rompem com a Igreja e afrontam com duros golpes a pessoa do Papa.
Pecam por desespero, por acharem a crise maior que o poder de Deus. Pecam por soberba, por acharem-se auto-suficiente o bastante para prescindir de toda a autoridade. Mesmo que a situação seja caótica, e até desesperadora, devemos sempre pensar em como os mestres de virtude, os santos, encararam esses momentos.
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