Erik von Kuehnelt-Leddihn (1909-1999) |
O nome chega a assustar os menos afeitos à língua germânica: Erik von Kuehnelt-Leddihn. Apesar do nome escabroso, Kuehnelt-Leddihn é um daqueles homens encantadores que a natureza costuma produzir raramente. Seu amigo William Buckley o definia como "o homem mais fascinante do mundo". Apesar do exagero da definição, Dr. Kuehnelt-Leddihn realmente era um homem excepcional. Intelectual de alta envergadura, falava oito línguas e conseguia ler em outras onze; historiador e jornalista; doutorou-se em ciências políticas pela universidade de Budapeste, e em Teologia pela universidade de Viena. Começou a publicar seus primeiros artigos ao 16 anos para um jornal de sua cidade.
Apesar de toda sua bagagem intelectual, Kuehlt-Leddihn é quase desconhecido no cenário acadêmico brasileiro. E não somente ignorado, diria até que seu pensamento fora banido pela intelligentzia, por representar um grande golpe a muitas de suas falácias.
Um outro ponto marcante na vida do Dr. Kuehlt-Leddihn, que também não pode ser deixado de lado em qualquer coisa que se escreve a seu respeito, foi sua exuberante fé católica, Embora, esta fé tenha se eclipsado em partes por sua debandada ao liberalismo, (Dr. Kuehlt-Leddihn chegou a se auto proclamar
“arqui-liberal”). A pesar disso, Dr. Kuehnelt-Leddihn sempre conservou devotado respeito à Igreja, chegando a defendê-la diversas vezes, especialmente em suas obras. Uma destas obras em que defende a Igreja de certas desonestidades intelectuais, é Liberty or equality: the challenge of our time (Liberdade ou igualdade: o desafio de nosso tempo), livro pouco conhecido em nosso país, com pouca, ou nenhuma edição brasileira (realmente desconheço se exista alguma), que ora apresentamos.
disponibilizamos um trecho da obra a nossos leitores.
disponibilizamos um trecho da obra a nossos leitores.
Capítulo VI
HUS, LUTERO E O NACIONAL SOCIALISMO
A gênese de um movimento totalitário
Introdução
“Do
ponto de vista da história das ideias, estamos convencidos de que Jan Hus1
exerceu alguma influência sobre Lutero, Mussolini, e sobre o partido Socialista
Tcheco3 (o social-democrata). (Nós nos referimos aos precursores de
Hus de forma muito superficial, já que quase todas as linhas da história
conduzem a ele)
Lutero,
por sua vez, junto com Calvino, através de um longo processo dialético,
estimulou o crescimento da democracia moderna. A Revolução Francesa tem raízes
que vão de Calvino, e talvez, também a Jansênio3. O Socialismo
Tcheco gerou o Nacional Socialismo, que também assume alguma herança Hussita4
(Taboritas). Hus também inspirou o nacionalismo alemão do século XIX, e o
nacionalismo alemão produziu Jahn5; Jahn influenciou Miroslav Tyrš6;
Tyrš é a figura mais importante do nacionalismo tcheco. A democracia e o
nacionalismo étnico operou na Europa mais rigorosamente.
Lutero é também um
precursor de Hegel; Hegel é o mentor de Marx e Treitschke7, eis os
inspiradores do socialismo, nacionalismo e estatismo.
Marx deu sua doutrina à
Alemanha, a Áustria, e de certo modo, ao Socialismo Tcheco. Treitschke, por
outro lado, influenciou Schönerer8, e Schönerer influenciou Hitler.
Marx também está por
trás do socialismo francês, que produziu Sorel9, que por sua vez, é
admitidamente o pai espiritual do jovem socialista Mussolini, o admirador de
Hus. E Mussolini influenciou Hitler.
O Nacional Socialismo Tcheco (inspirado por Hus) provocou
na Boêmia e na Moravia uma organização política Nacional Socialista entre os
alemães destas duas províncias (O assim chamado Sudeto Alemão)10.
Hitler, longe de ser o fundador do nazismo, apenas entrou em um pequeno, mas
bem estabelecido movimento (até então)11.
Quase todas estas
ideologias – socialismo, nacionalismo étnico, fascismo, nacional socialismo
dos tchecos, assim como dos alemães –, assumiram ser democráticas; mas nenhuma delas assumiu ser liberal. Todas foram hostis, de formas variadas, ao
catolicismo. Todas tinham ancestrais em comum. Uma influenciou a outra
intensamente, e sua pré-história não é senão uma repetição interminável e
incessante de uma aliança incestual e endogâmica.
Todas estas filosofias
são anti-católicas, anti-monárquicas, e anti-tradicionais; elas se lançam
unicamente para o futuro, querem construir uma nova sociedade, e se proclamam
“iluminadas”. Elas se opõe à liberdade individual e são coletivistas; dividem
os seres humanos em categorias especificas, e todas elas favorecem o surgimento
de um Estado onipotente; elas são materialistas e se declaram “progressistas”.
Tudo nelas tem afinidades com a Revolução Francesa. A maioria das lutas amargas
que se travam entre elas é desesperada e impiedosa por conta de sua natureza
fratricida. Elas não vêem no outro um estranho oponente. Mas, heresias se
enfrentando com uma origem em comum”.
Notas:
1. Jan Hus
(1369-1415) Reformador religioso
tcheco. Um dos precursores de Lutero e Calvino. Foi excomungado oficialmente em
1410, e entregue ao braço secular que o condenou a fogueira.
2.
Partido Socialista Tcheco ou Partido Social-democrata (Česka Strana Sociálně
Demokratická) é um partido socialista fundado em 1878, inspirado na figura de Jan
Hus, e que identifica como “centro-direita”.
3. Jansenius. (1585-1638)
foi um heresiarca holandês. Fundador da heresia jansenista, que pregava uma moral
rígida e ao mesmo tempo ineficaz, já que, para eles não importava o que se fizesse,
os homens sempre serão incapazes de alcançar a misericórdia divina.
4. Hussitas, ou Igreja
Hussita, foi o movimento reformador e revolucionário que surgiu na Boêmia no
século XV (Antes da rebelião de Lutero) inspirada por Jan Hus (1372-1452). O
movimento mais tarde juntou-se as fileiras luteranas. Posteriormente, os
Hussitas sofreram uma subdivisão interna em: Taboritas (radicais) e Utraquistas
(moderados). Estes primeiros, seguidores radicais das ideias de Hus, causaram
uma série de revoltas chamadas Guerras Hussitas (1419-1436). Que só foram
debeladas quando os Utraquistas se uniram aos católicos para enfrenta-los.
5. Friedrich Ludwig
Jahn (1778-1852), foi um pedagogo e nacionalista alemão. Por ter sistematizado
e transformado a ginástica em modalidade esportiva, é considerado o “pai da
ginástica”. Criou a Associação Turnwerein,
um clube de ginástica que acabou tornando-se centro de discussões políticas e abrigo dos nacionalistas alemães.
6. Miroslav Tyrš
(1832-1884) filosofo tcheco, historiador da arte, organizador e fundador do
movimento Sokol autor de Hod Olympický 1868 (A festa olímpica) O zákonech kompozice v umění výtvarněm, 1873 (A Lei da composição na arte) O zákonu konvergence při tvoření uměleckém,
1880 (A lei da convergência na criação artística) entre outras obras sobre arte.
7. Heinrich von
Treitschke (1834-1896) foi um historiador, escritor e político, e acima de tudo,
nacionalista alemão. Membro do Reichstag
durante o Império Alemão.
8. Georg Ritter von Schönerer
(1842-1921) foi um nacionalista radical, antissemita, e político que
influenciou o pensamento de Adolf Hitler. Fundou o Partido Pangermânico na Áustria.
9. Georges Sorel
(1847-1922) teórico francês do sindicalismo revolucionário, marxista, e com algumas
influencias anarquistas. É considerado a maior influência de Benito Mussolini.
10. Região que
correspondia na época a 30.000 km2 da então Checoslováquia
(atualmente República Tcheca e Eslováquia). Nesta região nasceu o Partido Alemão
dos Sudetos, que reivindicou a adesão ao terceiro Reich. Acontecimento que culminou
na chamada “Crise dos Sudetos” em 1938. Um dos acontecimentos que precederam a
ascensão do Nacional Socialismo na Alemanha.
11. Hitler assumiu o
controle do NSDAP em 1920, mas antes de sua ascensão, o nazismo já existia como
ideologia de caráter nacionalista, eugenista e antissemita no pensamento dos
supracitados autores, como expõe Kuehlt-leddihn.
KUEHLT-LEDDIHN, Erik von.
Liberty or equality: the challenge of our time.
Caldwell: The Caxton Printers, LTD, 1952.
Cap.
6, p. 209-211.
Tradução
e Notas:
Erick
Ferreira
Esplêndido!
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