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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Uma Igreja em crise





          
               Em todos os seus séculos, a barca da Igreja jamais navegou em mares tranquilos. Sempre teve que enfrentar mares revoltos. As perseguições sempre foram sua herança terrena. Foi isto que o mundo legou a seu Divino Fundador, e não poderia ser outra herança legada a seu copro místico: a Igreja.
A Igreja, nestes tempos modernos, nestes mesmos mares, entre novas tempestades, exclamará enfadonha aquela clássica frase de Cícero: "Alios ego vidi ventos; alias prospexi animo procellas"  (já vi outros ventos e enfrentei outras tempestades) (cf. Cícero, Familiares, 12, 25, 5).
Em todos os séculos da Igreja, em cada crise que se abatia sobre ela, sempre houve aqueles que anunciavam festivamente o seu fim; sempre existiram aqueles que em cada crise viam um sinal evidente de seu perecer, mas, estupefatos, viam-na sempre reerguer-se triunfantemente e prosseguir seu peregrinar na História. E uma crise sucede outra crise, e a Igreja avançava, imponente e gloriosa “entre as aflições dos homens e as consolações de Deus”. Os fatos que iremos narrar, evidenciam com muita clareza isso.



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UMA IGREJA EM CRISE




            Do final do século XVIII ao início do século XIX, a Igreja enfrentou uma de suas maiores crises. 
Toda a Europa estava tomada pelos nefandos ares da Revolução Francesa, que há pouco tempo havia estourado na França de onde difundiu para o resto da Europa sua fumaça maligna. Os bens da Igreja eram confiscados; sacerdotes e fiéis eram guilhotinados.. Junto a estes terríveis males, no seio da Igreja vingava e prosperava a terrível heresia jansenista, que arrastava numerosos membros do clero às fileira da apostasia. 

A situação se agrava a cada dia, quando em 1796 as forças republicanas francesas, sob o comando de Napoleão Bonaparte (1769-1821), invadiram os Estados Pontifícios, e dois anos depois, em 1798, levam cativo o Santo Padre Pio VI (1775-1799) o enviando a um degradante exílio na França, – onde o pontífice faleceu em 1799.

Diante deste quadro desesperador, os inimigos da Igreja não hesitaram em proclamar o seu iminente fim. Os jornais iluministas estampavam festivamente em suas primeiras páginas le fin de l’Église
Nenhuma instituição humana poderia resistir a tantas adversidades! Mas a Igreja não era uma instituição humana, e iria provar isso no desenrolar daquele nebuloso período. 

Com Roma ocupada e o Papa morto, os cardeais precisavam eleger um novo pontífice, e isto, fora de Roma, por conta dos diversos perigos que ameaçavam o transcorrer daquele processo. Por conta deste perigo, foi escolhida como sede do conclave, uma ilha escondida, chamada San Giorgio Maggiore, em Veneza.

O Conclave durou um ano, e curiosamente, elegeu um cardeal com o mesmo nome da ilha em que acontecia o conclave. Giorgio, Giorgio Chiaramonti. E em ato de homenagem a seu sofrido predecessor, adota o nome de Pio VII.

Mas a alegria da cristandade com o novo papa dura apenas 8 anos.

Em 1809, o Papa recém eleito teria que enfrentar novamente a fúria do prepotente Napoleão Bonaparte, agora Imperador da França, que num ato tirânico, incorporava os estados pontifícios ao Império Francês. 
Em resposta, Pio VII emitiu nota de excomunhão ao tirano.
Ao ser comunicado da excomunhão, o Imperador respondeu sarcasticamente ao Cardeal Caprara: ‘‘Por causa disso, acaso irão cair as armas das mãos de meus soldados?’’.

Conforme narra o Conde de Ségur, durante a fracassada Campanha Napoleonica na Rússia, em 1812, os soldados de Napoleão se deram com um fato extraordinário. Suas armas tornaram-se demasiadamente pesadas para seus braços, de modo que era quase impossível carregá-las. (cf. SÉGUR, conde de, apud HERION, barón. Historia general de la Iglesia. 2º ed. Madrid: Ancos, 1854, t. VIII, p. 153).
Ainda em represália à excomunhão recebida, Napoleão – tal como fez a Pio VI –, mandou prender Pio VII em Savona, onde o Santo Padre permaneceu por quatro anos, até 1813, quando foi transferido para Fontainebleau, onde passou seu último ano de exílio.

Em 1813 acontecia a grande reviravolta. Napoleão sofre uma vergonhosa derrota em Leipzig, e no ano seguinte, é deposto, e – ironicamente –, exilado por dois anos na ilha de Elba, tal como fez a Pio VI. Após dois anos de exílio em Elba, Napoleão consegue fugir, e encetar um retorno ao poder, mas é definitivamente derrotado em 1815 na célebre batalha de Waterloo, e exilado em Fontainebleau, onde passou seus últimos seis anos de vida – o mesmo local onde exilou Pio VII.

Esta extraordinária reviravolta causou grande temor no povo francês perante a figura do Papa, de modo que se convencionou dizer na época: “Quem põe as mãos no Papa morre!”

O impiedoso Napoleão passou seus últimos anos no exílio onde morreu. Pio VII, seguiu avante na chefia da Igreja e reinou até 1823. E o prepotente grito de Napoleão: Je detruirai votre Église (Eu destruirei vossa Igreja), se perdeu no tempo, e a Igreja prosseguiu em seu peregrinar – tal como escreveu Santo Agostinho, “através da impiedade dos tempos, vivendo cá em baixo pela fé. E com paciência, espera a estabilidade da eterna morada, quando a justiça for restabelecida” (cf. De Civitate Dei, 18, 15, 2) – chegando aos sombrios dias do século XXI, novamente sacudida por duros golpes desferidos de todos os lados pelo mundo moderno, filho da Revolução Francesa.

Mas, o que são os golpes e as críticas de um mundo decadente à uma Igreja que há mais de dois mil anos é criticada e golpeada? O que são as perseguições para uma Igreja que há mais de dois mil anos é perseguida? O que são os anúncios de crise que se alardeiam sobre ela? Que crise é esta que se anuncia há mais de dois mil anos? Há mais de dois mil ameaçam destruí-la; há mais de dois mil anos anunciam o seu fim. O que vemos após estes presságios pessimistas do mundo? Uma Igreja que sempre ressurge imponente, enaltecida e gloriosa. Afinal, quem está em crise: a Igreja ou o mundo que a combate?
E por quê esta força e esta imponência? Porque a Igreja é divina! Porque é sustentada por seu Divino Fundador: Jesus Cristo.

Pode a Igreja vacilar? interroga Santo Agostinho, e responde: “A Igreja vacila se seu fundador vacilar, como Cristo não vacila, logo a Igreja há de durar até o fim dos tempos’’ (cf. Enarrat. in Psal. 103, ser. 2, n. 2). Verdade expressa há mais de dois mil anos e facilmente comprovada nestes mais de dois mil anos de História.

A Igreja foi gerada no calvário, e tal como seu fundador, sempre haverá de provar o seu cálice amargo e o traiçoeiro beijo de Judas, mas ao final, sempre ressuscita gloriosa com seu fundador.
O problema é saber se estaremos nela quando então triunfar.

O pérfido Voltaire com seu ódio abrasado ao cristianismo costumava dizer: ‘‘Estou cansado de ouvi dizer que bastaram doze homens para implantar o cristianismo no mundo, e quero provar que basta um para destruí-lo’’. O grito ameaçador de Voltaire se dissipou no vento da História, assim como o de Napoleão e tantos outros inimigos da religião que hoje encontram-se sepultados no tempo, enquanto a Igreja prossegue seu peregrinar rumo a eternidade.
O grande autor inglês G. K Chesterton escreveu que ‘‘os inimigos da Igreja já perderam a esperança de ver o seu fim’’. De fato, porque a Igreja é invencível, pois Cristo semper vincit! Onde estão os que pretenderam destruir a Igreja? Sepultados no silêncio.

Para encerrar, deixo uma verdade de fé, que nunca podemos esquecer.

Escreve S. Pio X:
‘‘A Igreja pode ser destruída ou perecer?
Não -- responde o pontífice --, a Igreja Católica pode ser perseguida, mas não pode ser destruída ou perecer. Ela há de durar até o fim do mundo, porque até o fim do mundo Cristo estará com ela’’.
(cf. Catecismo Maior de São Pio X, n. 176)



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