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quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Santidade Moderna

 


    É inegável que muitos católicos sentem um certo "desconforto" com a ideia de um santo trajando calça jeans ou boné, portando seu smartphone ou Iphone, ou passeando em um Shopping Center... Santidade e modernidade parecem algo levemente revestido de antagonismo. 

Há algum tempo, um livro intitulado "Santos de Calça Jeans", supostamente inspirado em discursos de João Paulo II, trouxe à tona essa questão. Embora o texto possua suas graves imperfeições, ele possui uma razão importante em seu cerne. 

Alguns elementos da contemporaneidade se tornaram irreversíveis em nossa vida. E um santo também é filho de seu tempo. Ainda que se tenha uma preferência pelo modelo tradicional de santo, que estão muito bem representados nas figuras de S. Francisco de Assis, Sta Teresa de Ávilla, Dom Bosco, São Bento, Sto Agostinho e Sto Atanásio... No entanto, imagine que Francisco de Assis, tivesse a ventura de ser filho de nossos tempos? Seria sacrílego pensar que ele portaria seu smartphone, como tantos de nossos jovens? Ou fosse ao cinema, ou ao shopping? Evidentemente, não.

No entanto, essa incapacidade em fazer uma leitura adequada da realidade, tem sido um entrave terrível no horizonte de tantos jovens católicos que compreendem o chamado comum à santidade. 

A princípio, importa dizer o que é um santo e dizer o que ele não é. Um santo, não é apenas um bom cristão, ele faz mais do que um bom cristão. Alguém não é elevado as honras dos altares apenas por ir à Missa todos os domingos, ser batizado, crismado, confessar-se regularmente e participar de algum movimento. Isso é o básico da vida de um bom católico. Um santo vai além, ele contrária a própria natureza, confronta o mundo pelo bem, por Deus... Um santo é alguém que pratica as virtudes que todo católico deve praticar de um modo heroico. Ele não apenas vai à missa as domingos e dias de guarda, mas aquele cuja vida eucarística nunca encerra. E estava disposto a ajoelhar diante do Senhor, até mesmo quando ninguém mais o fazia. Ele não era simplesmente o sujeito que se confessava regularmente, mas que levava tão a sério tal sacramento, que fazia dele a preparação para seu juízo particular. Não apenas era batizado, mas lutava com denodo para manter suas vestes batismais intactas. Não apenas recebeu a confirmação, mas confessava Cristo com sua vida, e lutava para viver continuamente em estado de graça até o dia de seu comparecimento perante o tribunal divino. Em um espírito de fé, esperança e caridade, extremados. O coração ardendo com tais virtudes, a ponto de ver o próprio Cristo unido a si. Só compreenderemos melhor isso com a vida dos santos. Seus atos, por vezes, beiram o inacreditável. 

No entanto, alguns elementos são comuns a todos eles: ódio mortal ao pecado, porque sabem que ele os afasta de seu amor. Amor ardente a Eucaristia. Compaixão para os que sofrem. Humildade profunda, sabendo que nada possuíam senão o que Deus lhes dera. E uma oração continua, porque sabiam que não importavam seus esforços, a perseverança só ocorreria por graça divina. Por isso tantas penitências, mortificações e piedade. Tal como um Francisco de Assis flagelando-se até o sangue. Ou um Padre Pio rezando cerca de 15 a 20 rosários por dia. Ou uma Sta Catarina de Siena, devotando cuidados sobre-humanos a uma enferma de quem ninguém suportava o mau cheiro das feridas e a aspereza do caráter. Ou humildes, como Vicente de Paulo, humilhado, e ainda feliz por participar dos sofrimentos de seu Senhor. Todos viam-se como miseráveis, e necessitados extremos do amor de Deus.

Todos estes extremos de santidade podem ser praticados em qualquer época. Porém, considerado, sabiamente, as circunstâncias. Ser um santo moderno não quer dizer um santo duvidoso, mas um santo que vive na realidade, não fora dela. Que não se reclusou do mundo, como um anjo puro e intocável. Mas que entendeu que, o mundo é o seu campo de apostolado, onde a luz de Cristo deve brilhar.  

Já não é possível fugir da configuração dos tempos. Se você tem internet, a use com vistas a um fim elevado; se vais ao Shopping, que este passeio seja para ti uma missão... Deus espalha em cada canto uma missão a desempenhar. O pedinte a sua porta; o carente da visão de Deus que em ti poderá contemplar a imagem da religião esquecida; o funcionário estressado que precisa de um sorriso encorajador e radiante; o desesperado que encontra em ti um sinal de esperança... Enfim, conforme as palavras de nosso inesquecível Papa Bento XVI, "O Senhor lhes tem concedido viver neste momento da história para que, graças à vossa fé, seu nome continue a ressoar por toda a terra". Não és filho destes tempos por acaso... 


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