Les prêtres réfractaires exécutés, Victor Livache. Interior da Catedral da Santíssima Trindade (Mayenne, França) |
Diversas vezes, em sua história, a Igreja passou por momentos em que "seu rebanho teve que manter distância do pastor". (1)
Um evento particular se deu no século XVIII para ilustrar essa verdade.
Durante a Revolução Francesa, um duro golpe foi imposto a
fé: a submissão do clero ao Estado revolucionário. Contra isto, se levantaram
os novos confessores da fé, como ocorre em tempos de confusão. O chamado clero
refratário (aqueles que fiéis à Igreja, se recusaram prestar juramento a
República).
Um exemplo histórico de como esse evento afetou a vida dos
fiéis, encontramos na biografia de São João Maria Vianney escrita pelo Pe.
Francis Trochu:
“A igreja continuou aberta, pois
veio outro sacerdote, enviado pelo novo bispo de Lyon, um certo Lamourette,
amigo de Mirabeau, nomeado pela constituição, sem mandato de Roma, em lugar do
venerável Mons. Marbeuf. O novo cura, assim como o novo bispo, haviam prestado
o juramento; mas como poderia suspeitar a boa gente de Dardilly que a
Constituição Civil, da qual ignoravam talvez até o próprio nome, pudesse conduzi-la
ao cisma e à heresia? Nenhuma mudança aparente se havia operado, quer nas
cerimônias, quer nos costumes paroquiais. As pessoas simples de coração
assistiram por algum tempo, sem escrúpulos à missa do “padre juramentado”. Do
mesmo modo procedeu com toda a boa fé Mateus Vianney, a esposa e os filhos.”
Mas, note-se a diferença daquele tipo de fiel, dos tempos de
S. João Maria Vianney. Não tardou muito para eles perceberem que havia algo errado
naquelas missas.
Continua o biografo:
“Entretanto, abriram-se lhe os
olhos. Catarina, a mais velha das filhas, posto que naquela época não contasse
mais de doze anos, foi a primeira a pressentir o perigo. No púlpito, o novo
pároco nem sempre tratava dos mesmos assuntos como o Pe. Rey (o pároco afastado
pelos revolucionários). Os termos cidadãos,
civismo, constituição, pontilhavam suas homilias. Às vezes descambava em
ataques aos seus sucessores. Cada vez mais o fluxo de pessoas à igreja era
menos homogênea e, apesar disso, mais minguado do que outrora; pessoas muito
piedosas não compareciam mais aos ofícios divinos. Onde, pois, ouviam missa nos
dias de festa? Pelo contrário, iam outros que nunca haviam frequentado o
templo. Catarina sentiu certos receios e os manifestou à mãe.”
A um verdadeiro católico, tudo que foge a normalidade de sua
fé, mesmo vindo de um sacerdote, não passa despercebido.
Note-se ainda que a situação descrita é muito semelhante ao
que se verifica hoje, com um agravante: naquele tempo, não há registro que o
clero juramentado possuísse os níveis de depravação que se verifica no clero
moderno. No entanto, ninguém parece perceber nada de estranho em tudo isso.
O que teria ocorrido com o senso dos fiéis? A resposta é
simples: gerações foram formadas dentro das mudanças impostas pelo Vaticano II,
sem jamais conhecer o verdadeiro catolicismo; seus costumes e seu clero
original. É muito mais difícil exigir a um católico moderno que tenha a
percepção da pequena Catarina Vianney. No entanto, ninguém pode ser desculpado plenamente,
já que, a qualquer católico, realmente fiel e comprometido com sua fé, sempre
ficará uma lacuna no ar, nas falas, nos gestos, e na vida de suas paróquias. A
falta de reverência do clero perante o santíssimo sacramento, a estranha
vaidade e materialismo de pessoas que supostamente teriam professado votos
evangélicos; a negligência de bispos perante questões que afetam a fé; e a
covardia, até de um papa, diante do mundo anti-católico.
Tudo isso, é de uma clareza irresistível a qualquer um, que
tenha horror as trevas.