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sexta-feira, 14 de maio de 2021

O dia em que uma oração mariana arrebatou o coração de Alexandre Dumas



        Alexandre Dumas não pode ser considerado nenhum exemplo de católico. No entanto, ele nos legou um dos mais sublimes relatos dos encantos que a devoção mariana irradiava em tempos pretéritos. Nos relatos de sua viagem a bordo do Le Speronare (nome que serviu de título à obra citada), o afamado autor francês relata a oração ao por-do-sol entoada por marinheiros na costa da Sicília que inebriou sua alma por alguns instantes. Eis o relato: 

“A Ave-Maria”. –– disse o capitão em alta voz. 

A estas palavras, cada qual saiu das escotilhas e dirigiu-se ao convés.

De um extremo ao outro da Itália, essa oração, que cai em uma hora solene, encerra o dia e abre a noite. [Na Itália, o Ângelus não é rezado necessariamente em hora fixa, às 18:00 horas, mas ao anoitecer] 

Esse momento do crepúsculo, em toda parte cheio de poesia, no mar é acrescido de uma santidade infinita. Essa misteriosa imensidade do ar envolvente e das ondas, esse sentimento profundo da fraqueza humana comparada ao poder onipotente de Deus, essa escuridão que avança, e durante a qual o perigo, sempre presente, vai crescer ainda mais, tudo isso predispõe o coração a uma melancolia religiosa, a uma confiança santa que soergue a alma nas asas da fé. Essa tarde, sobretudo o perigo do qual acabáramos de escapar e que nos era lembrado de tempos em tempos por uma onda encapelada ou mugidos longínquos.

Tudo inspirava à tripulação e a nós mesmos um profundo recolhimento. No momento em que nos juntávamos no convés, a noite começava a tornar-se mais espessa no oriente; as montanhas da Calábria e a ponta do cabo de Pelora perdiam sua bela cor azul para se confundir em uma tintura acinzentada que parecia descer do céu, como se estivesse caindo uma fina chuva de cinzas. Enquanto no ocidente, um pouco à direita do Arquipélago de Lipari, cujas ilhas de formas extravagantes destacavam-se com vigor sobre um horizonte de fogo, o sol alargado e listrado de longas faixas violetas começava a embeber a orla de seu disco no Mar Tirreno, que, cintilante e movimentado, parecia rolar ondas de ouro derretido.

Nesse momento, o piloto levantou-se, tomou em seus braços o filho do capitão, que pôs de joelhos sobre o teto da cabine; e, abandonando o leme como se a embarcação estivesse suficientemente dirigida pela oração, sustentou o menino para que o balanço não lhe fizesse perder o equilíbrio.

Esse grupo singular destacou-se logo sobre um fundo dourado, semelhante a uma pintura célebre; e com uma voz tão fraca, que apenas chegava até nós, e que, entretanto, acabava de subir até Deus, começou o menino a recitar a prece virginal que os marinheiros escutavam de joelhos e nós inclinados.

Eis uma dessas lembranças para as quais o pincel é fácil e a pena insuficiente. Eis uma dessas cenas que narração alguma pode descrever, que nenhum quadro pode reproduzir, porque sua grandeza está inteira no sentimento íntimo dos atores que a realizam. Para um leitor de viagens ou um amante das coisas do mar, não será senão uma criança que reza, homens que respondem e um navio que flutua.

Mas, para qualquer pessoa que tiver assistido a uma cena parecida, será um dos mais magníficos espetáculos que ela tenha visto, uma das mais magníficas lembranças que ela tenha guardado; será a fraqueza que reza, a imensidade que olha, e Deus que escuta”.

O relato de Dumas demonstra que, diante de um ato de verdadeira fé, poucos podem manter-se indiferentes.

sábado, 10 de abril de 2021

O Privilégio do Branco: Porque somente a sete mulheres é permitido usar branco diante do Papa

 


Rainha Helena do Montenegro, de Itália, e Princesa Herdeira Maria José da Bélgica usando indumentária branca na presença do Papa Pio XII no Palácio do Quirinal, a 27 de dezembro de 1939
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Por séculos se conserva uma tradição nos encontros oficiais com o Papa em distinguir algumas poucas mulheres com o uso do branco durante o encontro. A tradição conhecida como privilège du blanc (Privilégio do Branco), que consiste no uso de véu, mantilha e um vestido alvo, atualmente é reservado a apenas sete mulheres, que preenchem os requisitos para o uso da tradição. 

São elas: 

A Rainha Sofia da Espanha

A Rainha Paola da Belgas

Maria Teresa, grã-duquesa de Luxemburgo

A Princesa de Monaco

Rainha  Matilde da Belgica

Rainha Letizia da Espanha 

A Princesa de Napoles

Este privilégio é concedido apenas às soberanas católicas, com as seguintes condições: as mulheres devem professar publicamente a fé católica e serem casadas com monarcas católicos. Para a maioria das mulheres, nos encontros protocolares com o Sumo Pontífice, a cor oficial é o preto. 

 

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

A Apostasia de Roma segundo um Cardeal


Cardeal H. Edward Manning (1888, Inglaterra, 1892)


A apostasia da cidade de Roma através do vigário de Cristo, e sua destruição pelo Anticristo, pode ser um pensamento tão novo para muitos católicos que eu penso que seria bom recordar o texto dos teólogos de maior reputação. Primeiro, Malvenda que escreve expressamente sobre o assunto, e declara, assim como a opinião de Ribera, Gaspar Melus, Viegas, Suarez, Belarmino e Bosius que Roma deve apostatar da fé, afugentar o vigário de Cristo e retornar ao seu antigo paganismo. As palavras de Malvenda são: “Mas a própria Roma nos últimos tempos do fim do mundo retornará a sua antiga idolatria, grandeza e poder imperial. Ela expulsará seu pontífice, completamente apostata da fé cristã, perseguirá terrivelmente a Igreja, derramará o sangue dos mártires com mais crueldade do que nunca, e recuperará seu estado anterior de abundante riqueza, ou até maior do que tinha sob seus primeiros governantes”. 

Lessius diz: “nos tempos do Anticristo, Roma deverá ser destruída, como vemos abertamente no décimo terceiro capítulo do livro do Apocalipse;” e outra vez: “A mulher a quem vistes é a grande cidade, que tem o reino acima dos reis da terra, na qual é significada Roma em sua impiedade, tal como foi no tempo de São João, e deverá ser outra vez no fim do mundo.”  E Belarmino: “No tempo do Anticristo, Roma deverá ser desolada e queimada, como aprendemos do décimo sexto verso do décimo sétimo capítulo do Apocalipse.” Palavras nas quais o jesuíta Erbermann comenta como se segue: “Todos nós confessamos com Belarmino que o povo romano, um pouco antes do fim do mundo, retornará ao paganismo e expulsará o romano pontífice”. 

Viegas, sobre o capítulo XVIII do Apocalipse diz: “Roma, na última era do mundo, após ter apostatado da fé, alcançará grande poder e esplendor de riqueza, e sua influência será amplamente difundida por todo o mundo, e florescerá grandemente. Vivendo na luxúria e abundância de todas as coisas, ela cultuará ídolos e mergulhará em todo tipo de superstição, e prestará honra a falsos deuses. E por causa da vasta efusão do sangue dos mártires que foi derramado sob os imperadores, Deus irá vinga-los com mais severidade e justiça, e ela será totalmente destruída, e queimada por um terrível e tormentoso incêndio”.   

Finalmente, Cornélio, a lápide, resume o que pode ser dito como a interpretação comum dos apóstolos. Comentando sobre o mesmo capítulo XVIII do Apocalipse, ele diz: “Estas coisas são para ser entendidas da cidade de Roma, não aquela que é, nem aquela que foi, mas aquela que deverá ser no fim do mundo. Pois, a então cidade de Roma retornara à sua antiga glória, e da mesma forma a sua idolatria e outros pecados, e deverá ser tal qual ela foi no tempo de São João, sob Nero, Domitiano, Décio etc. Pois, de cristã ela deve se tornar outra vez pagã. Deve lançar fora o pontífice cristão e o fiel que adere a ele. Deverá perseguir e arrasá-los. Deverá rivalizar com a perseguições dos imperadores pagãos contra os cristãos... Pois, assim como vemos, Jerusalém foi primeiro pagã sob os cananeus; segundo, fiel sob os judeus; terceiro, cristã sob os apóstolos; quarto, pagã sob os romanos; e quinto, sarracena sob os turcos”.

Tal, eles acreditam, será a história de Roma: Pagã sob os imperadores; cristã sob os apóstolos; fiel sob os pontífices; apostata sob a Revolução e pagã sob o Anticristo. Somente Jerusalém poderia pecar tão formalmente e cair tão baixo; pois só Jerusalém foi tão escolhida, iluminada e consagrada. E como nenhum povo já foi tão intenso em suas perseguições a Jesus como os judeus, então eu temo que nenhum será mais implacável contra a fé do que os romanos.     


- Cardinal Henry Edward Manning, The Present Crisis of The Holy See tested by prophecies, London: Burns&Lambert, 1861. Tradução minha