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quinta-feira, 30 de junho de 2016

Uma crise estética


Por Erick Ferreira


    Os homens dos tempos modernos foram induzidos a apreciar como arte o absurdo, o tosco e o feio, através da chamada "arte moderna"; que exalta o absurdo e o desespero como princípios régios da hodierna criação artística. Assim, a arte moderna, coloca-se em direta oposição aos rigorosos critérios da estética e da metafísica que inspiravam a arte clássica. Princípios que tencionavam traduzir os anseios da alma por um sentido íntimo nas coisas [1] -- uma crença geral que acometia os homens antigos que viviam convencidos de que toda a existência é produto de um intelecto superior e que tudo está retamente ordenado para um fim sublime. Esses princípios da arte clássica foram hediondamente desprezados em nome de uma nova concepção, totalmente deslocada da racionalidade.

As concepções estéticas que  impulsionaram o gênio artístico de Michelangelo, Bernine, Da Vinci, Bach, Mozart, etc. estavam solidamente alicerçados sob os principios da filosofia clássica, que na busca do belo, concebiam a máxima finalidade de toda criação artística. 

O véu das virgens vestais, Raffaelle Monti

Assim nasceu a arte! De uma necessidade natural humana: a necessidade de contemplar e exprimir o belo. O belo que manifesta algumas de suas fagulhas na sutileza das formas, sons e cores da arte.

Em uma definição muito antiga, a arte foi chamada de recta ratio factibilium (a reta razão das criações), tudo isso para dizer que o artista busca um sentido nas coisas contra o desespero da condição decaída do homem. Parafraseando um grande teólogo do século XX, podemos dizer que "o mundo parece não conseguir entender-se sem a arte". 

Mas o que é o belo?

Os gregos antigos diziam que a beleza é "a expressão visível do bem". A união entre o conceito de bem e de belo era tão íntima que uma mesma palavra servia para referir-se a ambos: Kallos.

Sto Tomás de Áquino definia o belo como est id quod visum placet (aquilo que agrada a visão). De modo que se pode dizer que, a mesma sensação que nos causa o bem nos causa o belo.
Platão dizia que a beleza está na forma não na matéria, no eterno e não no corruptível. Portanto, não é possivel alcançar o belo materialmente, mas representá-lo vagamente, pois o belo transcende a matéria.
Seguindo estes princípios, a arte nos legou as mais impressionantes criações até o século XVIII.

Com o advento do século XIX, a arte deu um salto anti-metafísico, rompendo lamentavelmente com os principios estéticos que regiam a criação artística até então. 

Era o impressionismo que chegava com fúria bárbara, se lançando sobre os antigos cânones estéticos, e abalando tristemente o mundo da arte. 

O resultado desta derrocada foi trágico!

impressionismo se personificou com tal exatidão em um de seus maiores representantes, Vicent Van Gogh (1853-1890), cuja demência se traduzia em sua "arte" e se projetou nas produções subsequentes do impressionismo e suas vertentes.

Em 1917, seguindo os passos dos impressionistas, Marcel Duchamp choca o mundo ao expor em Nova York um urinol como sua obra prima. A "obra", intitulada fontain, se celebrizou, a ponto de ser eleita "a obra mais influente da arte moderna". Atualmente, a Fontain está avaliada em 3 milhões de Euros, mostrando com isso que, quanto mais uma obra contrariar os princípios clássicos da estética, mais valorizada será; quanto mais se distanciar do sentido de belo, mas ela será apreciada pelo mundo moderno.

Fontain, Marcel Duchamp

Nesta exposição chocante, Duchamp estabelece o principal objetivo da arte moderna: chocar! Mas chocar com o absurdo, exprimindo assim, uma total aversão a todo sentido que possa conter a existência.

Em 2006 um homem atacou a "obra prima" de Duchamp com um martelo. A polícia imediatamente o deteve, mas Duchamp explicou que o ato fazia parte da obra.

My Bed, Tracey Amin

Em 1999 a obra de Duchamp inspira outra obra grotesca dos tempos modernos: a tristemente afamada My bed de Tracey Emin, exposta na Tate Modern Gallery de Londres. A obra consistia numa cama desarrumada, com várias garrafas de vodka, preservativos e roupas manchadas de sangue. Durante a apresentação, dois homens nus invadiram a galeria, produzindo um "espetáculo inesperado". Consumiram as garrafas de vodka sobre a cama e se puseram a pular sobre ela. Os expectadores no ato, acreditando que o vandalismo fazia parte da exposição, aplaudiram extasiadamente o episódio. Mas de fato, o vandalismo fazia parte daquela obra, e fará parte de quase todas as obras da arte moderna. 
E o repertório de insanidades não se detém por aí, ela converge para um fosso cada vez mais profundo.

Em 2011, Michael Heizer finalizou sua "obra prima": Uma pedra bruta megalítica de 340 toneladas, exposta em Los Angeles, e já considerada uma das melhores obras da arte moderna.

Elevated Mass, Michael Heize

Todas estas manifestações irracionais que se convencionou chamar "arte moderna" alertam para os caminhos que a humanidade trilha, ou melhor, para os abismos que está sendo conduzida.

O homem moderno já está condicionado a uma perda gradual da noção estetico-cognitiva e uma das consequências mais graves disso é uma total aversão à beleza transcendente projetada nas coisas, posto que este é o abismo que a arte moderna quer conduzir a humanidade! A aversão ao belo!

Dessa questão nasce uma pergunta pertinente: É possível perder a capacidade de apreciar o belo?
Respondemos que sim! 

Quando o homem lança-se em um fosso de imoralidade e irracionalidade, perde a capacidade de apreciar o belo, pois sua visão se ofusca e sua razão se embota, retornando ao estado bárbaro. Os brutos não podem apreciar o belo, que exige consciência moral e reta razão para aprecia-lo! Portanto, somente homens racionais e morais possuem o senso do belo, ou podem desenvolvê-lo.

Sem este requisito, o homem cria sua própria concepção de beleza, como fazem os artistas modernos, baseado em seus mundos interiores, -- chafurdado de vícios --, de modo que, com a visão turva, o que era feio, a seus olhos, passa a ser belo, por lhe satisfazer pulsões desvairadas. E o que é mais agradável aos olhos de um psicopata senão tudo que lhe apetece os instintos, como a violência, o sexo...? 
Assim se forma uma grave psicopátia, característica de nossos tempos, algo que poderia ser chamado de kalofobia. [2]

O que será do homem sem a sublime e indispensável capacidade de apreciar o belo? Um desesperado! Um iconoclasta! Um bárbaro, etc.

Que caótico seria o mundo sem a arte! 

E é a este mundo caótico que a pseudo-arte moderna quer nos conduzir. Suas criações irracionais e disformes, exprimem a mais pura revolta contra todo o sentido. E isso é um poderoso antídoto para precipitar o homem no desespero e brindar o triunfo da barbárie. Pois, ao se tirar o sentido da vida, as leis morais, e a esperança metafísica... Se rompe a última fronteira que o separa das feras.

1. Hegel em seu "Curso de Estética (Vol. I) define a Estética como a "ciência do sentido". O termo provém do grego: "aisthesis", (percepção), de onde surge "aisthetikos", ou seja, "o que é capaz de perceber".
2. Kalofobia - junção das palavras gregas, kallos, beleza, e fobus, medo, aversão. Ou seja, aversão ao belo



domingo, 26 de junho de 2016

Os protestantes e a ascensão dos nazistas na Alemanha


    Sendo a Alemanha uma nação profundamente religiosa na época da ascensão de Hitler, de quem partiram os votos que o elevaram ao poder? Eis uma pergunta muito explorada nas decadas que se seguiram, e que motivou grandes injustíças e equívocos, nos quais, os católicos sempre saíram mais desfavorecidos.
Mas, alguns mapas estatísticos da época nos apresentam uma outra realidade. O historiador Erik von Kuehlt-Leddihn em seu livro Liberty or Equality (do qual, traduzimos partes anteriormente neste blog) apresenta alguns dados que nos mostram quem foram os maiores produtores de votos nazistas.

Após os mapas estatísticos, disponibilizamos mais um trecho traduzido da referida obra. 


porcentagem de votos nazistas, eleições de 31 de julho de 1932.
As áreas escuras do mapa mostram as regiões onde os nazistas tiveram maioria de votos. 
Áreas escuras do mapa mostram as regiões de maioria católica na época


    "A fim de chegar a um pleno entendimento dos aspectos profundos do nacional socialismo, fizemos alguns mapas estatísticos baseados na divisão do kreise1 alemão, mostrando a inter-relação de afiliações políticas e religiosas. 

Escolhemos como medida de comparação para a distribuição religiosa, o resultado do censo de 1934; e, como um índice para os votos nazistas, a eleição de 31 de julho de 1932 e março de 1933. (Este último foi decidido somente depois da deliberação prolongada. Mais duas eleições foram realizadas em novembro de 1932 e em março de 1933. A eleição de novembro mostrou um declínio dos votos nazistas, e não teve indicação máxima do potencial popular. As eleições de março foram realizadas sob a influência do incêndio de Reichstag,2 e também tivemos provas de que em certas áreas, especificamente no sudeste da Bavária, o resultado destas eleições foram fraudados).


          A comparação do mapa religioso com o mapa eleitoral demonstra, a primeira vista, que havia uma conexão muito óbvia entre os dois, e que as áreas protestantes, com raríssimas exceções, foram as maiores produtoras dos votos nazistas. Nos distritos protestantes onde os nazistas eram relativamente poucos, nós encontramos uma alta porcentagem de votos comunistas. Isto aconteceu especialmente na Saxônia Ocidental, e na Turíngia, com uma maioria de votos comunistas (a inclusão destas áreas, – ambas ao oeste do rio Elba –, na zona de ocupação soviética, colocando assim o domínio russo dentro de 120 milhas da fronteira holandesa, tinham, claramente, não só implicações estratégicas, mas políticas) Ainda assim, não se pode deixar de ficar impressionado com o aspecto religioso do mapa mostrando os votos nacionais socialistas. Um aspecto detectável somente após cálculos detalhados em relação aos votos comunistas.  E no mais, o comunismo, assim como o nacional socialismo, foram vigorosamente enfrentados pela Igreja Católica."


Notas:

1. Kreise, ou simplesmente Kreis é uma divisão administrativa de nível intermediário da Alemanha, entre os länder (estados federais) e os níves municipais.
2. O Incêndio de Reichstag foi o episódio ocorrido em 27 de fevereiro 1933, em que a sede do parlamento alemão, o Palácio de Reichstag, foi criminosamente incendiado. Este episódio foi essencial para a ascensão do nazismo na Alemanha. A culpa do incêndio recaiu sobre um ativista comunista da Holanda chamado Marinus van der Lubbe, mas até hoje não se sabe exatamente quem foi o autor do crime.




Fonte: Kuehlt-Leddihin, Erik von. Liberty or equality: the challenge of our time. Caldwel: The Caxton Printers, LTD, 1952.

p. 217-218

Tradução e notas: 

Erick Ferreira


segunda-feira, 13 de junho de 2016

As origens das ideologias totalitárias segundo Erik von Kuehnelt-Leddihn



Erik von Kuehnelt-Leddihn
(1909-1999)


       O nome chega a assustar os menos afeitos à língua germânica: Erik von Kuehnelt-Leddihn. Apesar do nome escabroso, Kuehnelt-Leddihn é um daqueles homens encantadores que a natureza costuma produzir raramente. Seu amigo William Buckley o definia como "o homem mais fascinante do mundo". Apesar do exagero da definição, Dr. Kuehnelt-Leddihn realmente era um homem excepcional. Intelectual de alta envergadura, falava oito línguas e conseguia ler em outras onze; historiador e jornalista; doutorou-se em ciências políticas pela universidade de Budapeste, e em Teologia pela universidade de Viena. Começou a publicar seus primeiros artigos ao 16 anos para um jornal de sua cidade.

Apesar de toda sua bagagem intelectual, Kuehlt-Leddihn é quase desconhecido no cenário acadêmico brasileiro. E não somente ignorado, diria até que seu pensamento fora banido pela intelligentzia, por representar um grande golpe a muitas de suas falácias. 

Um outro ponto marcante na vida do Dr. Kuehlt-Leddihn, que também não pode ser deixado de lado em qualquer coisa que se escreve a seu respeito, foi sua exuberante fé católica, Embora, esta fé tenha se eclipsado em partes por sua debandada ao liberalismo, (Dr. Kuehlt-Leddihn chegou a se auto proclamar “arqui-liberal”). A pesar disso, Dr. Kuehnelt-Leddihn sempre conservou devotado respeito à Igreja, chegando a defendê-la diversas vezes, especialmente em suas obras. Uma destas obras em que defende a Igreja de certas desonestidades intelectuais, é Liberty or equality: the challenge of our time (Liberdade ou igualdade: o desafio de nosso tempo), livro pouco conhecido em nosso país, com pouca, ou nenhuma edição brasileira (realmente desconheço se exista alguma), que ora apresentamos.

disponibilizamos um trecho da obra a nossos leitores.





Capítulo VI

HUS, LUTERO E O NACIONAL SOCIALISMO
A gênese de um movimento totalitário



Introdução


“Do ponto de vista da história das ideias, estamos convencidos de que Jan Hus1 exerceu alguma influência sobre Lutero, Mussolini, e sobre o partido Socialista Tcheco3 (o social-democrata). (Nós nos referimos aos precursores de Hus de forma muito superficial, já que quase todas as linhas da história conduzem a ele)
Lutero, por sua vez, junto com Calvino, através de um longo processo dialético, estimulou o crescimento da democracia moderna. A Revolução Francesa tem raízes que vão de Calvino, e talvez, também a Jansênio3. O Socialismo Tcheco gerou o Nacional Socialismo, que também assume alguma herança Hussita4 (Taboritas). Hus também inspirou o nacionalismo alemão do século XIX, e o nacionalismo alemão produziu Jahn5; Jahn influenciou Miroslav Tyrš6; Tyrš é a figura mais importante do nacionalismo tcheco. A democracia e o nacionalismo étnico operou na Europa mais rigorosamente.
Lutero é também um precursor de Hegel; Hegel é o mentor de Marx e Treitschke7, eis os inspiradores do socialismo, nacionalismo e estatismo. 

Marx deu sua doutrina à Alemanha, a Áustria, e de certo modo, ao Socialismo Tcheco. Treitschke, por outro lado, influenciou Schönerer8, e Schönerer influenciou Hitler.
Marx também está por trás do socialismo francês, que produziu Sorel9, que por sua vez, é admitidamente o pai espiritual do jovem socialista Mussolini, o admirador de Hus. E Mussolini influenciou Hitler.
          O Nacional Socialismo Tcheco (inspirado por Hus) provocou na Boêmia e na Moravia uma organização política Nacional Socialista entre os alemães destas duas províncias (O assim chamado Sudeto Alemão)10. Hitler, longe de ser o fundador do nazismo, apenas entrou em um pequeno, mas bem estabelecido movimento (até então)11.
       Quase todas estas ideologias – socialismo, nacionalismo étnico, fascismo, nacional socialismo dos tchecos, assim como dos alemães –, assumiram ser democráticas; mas nenhuma delas assumiu ser liberal. Todas foram hostis, de formas variadas, ao catolicismo. Todas tinham ancestrais em comum. Uma influenciou a outra intensamente, e sua pré-história não é senão uma repetição interminável e incessante de uma aliança incestual e endogâmica.

        Todas estas filosofias são anti-católicas, anti-monárquicas, e anti-tradicionais; elas se lançam unicamente para o futuro, querem construir uma nova sociedade, e se proclamam “iluminadas”. Elas se opõe à liberdade individual e são coletivistas; dividem os seres humanos em categorias especificas, e todas elas favorecem o surgimento de um Estado onipotente; elas são materialistas e se declaram “progressistas”. Tudo nelas tem afinidades com a Revolução Francesa. A maioria das lutas amargas que se travam entre elas é desesperada e impiedosa por conta de sua natureza fratricida. Elas não vêem no outro um estranho oponente. Mas, heresias se enfrentando com uma origem em comum”.


Notas:

1. Jan Hus (1369-1415) Reformador religioso tcheco. Um dos precursores de Lutero e Calvino. Foi excomungado oficialmente em 1410, e entregue ao braço secular que o condenou a fogueira.
2. Partido Socialista Tcheco ou Partido Social-democrata (Česka Strana Sociálně Demokratická) é um partido socialista fundado em 1878, inspirado na figura de Jan Hus, e que identifica como “centro-direita”.
3. Jansenius. (1585-1638) foi um heresiarca holandês. Fundador da heresia jansenista, que pregava uma moral rígida e ao mesmo tempo ineficaz, já que, para eles não importava o que se fizesse, os homens sempre serão incapazes de alcançar a misericórdia divina.  

4. Hussitas, ou Igreja Hussita, foi o movimento reformador e revolucionário que surgiu na Boêmia no século XV (Antes da rebelião de Lutero) inspirada por Jan Hus (1372-1452). O movimento mais tarde juntou-se as fileiras luteranas. Posteriormente, os Hussitas sofreram uma subdivisão interna em: Taboritas (radicais) e Utraquistas (moderados). Estes primeiros, seguidores radicais das ideias de Hus, causaram uma série de revoltas chamadas Guerras Hussitas (1419-1436). Que só foram debeladas quando os Utraquistas se uniram aos católicos para enfrenta-los.

5. Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852), foi um pedagogo e nacionalista alemão. Por ter sistematizado e transformado a ginástica em modalidade esportiva, é considerado o “pai da ginástica”. Criou a Associação Turnwerein, um clube de ginástica que acabou tornando-se centro de discussões políticas e  abrigo dos nacionalistas alemães.

6. Miroslav Tyrš (1832-1884) filosofo tcheco, historiador da arte, organizador e fundador do movimento Sokol autor de Hod Olympický 1868 (A festa olímpica) O zákonech kompozice v umění výtvarněm, 1873 (A Lei da composição na arte) O zákonu konvergence při tvoření uměleckém, 1880 (A lei da convergência na criação artística) entre outras obras sobre arte.

7. Heinrich von Treitschke (1834-1896) foi um historiador, escritor e político, e acima de tudo, nacionalista alemão. Membro do Reichstag durante o Império Alemão.

8. Georg Ritter von Schönerer (1842-1921) foi um nacionalista radical, antissemita, e político que influenciou o pensamento de Adolf Hitler. Fundou o Partido Pangermânico na Áustria.

9. Georges Sorel (1847-1922) teórico francês do sindicalismo revolucionário, marxista, e com algumas influencias anarquistas. É considerado a maior influência de Benito Mussolini.

10. Região que correspondia na época a 30.000 km2 da então Checoslováquia (atualmente República Tcheca e Eslováquia). Nesta região nasceu o Partido Alemão dos Sudetos, que reivindicou a adesão ao terceiro Reich. Acontecimento que culminou na chamada “Crise dos Sudetos” em 1938. Um dos acontecimentos que precederam a ascensão do Nacional Socialismo na Alemanha.

11. Hitler assumiu o controle do NSDAP em 1920, mas antes de sua ascensão, o nazismo já existia como ideologia de caráter nacionalista, eugenista e antissemita no pensamento dos supracitados autores, como expõe Kuehlt-leddihn. 




KUEHLT-LEDDIHN, Erik von. 
Liberty or equality: the challenge of our time. 
Caldwell: The Caxton Printers, LTD, 1952.
Cap. 6, p. 209-211.

Tradução e Notas:
Erick Ferreira

domingo, 5 de junho de 2016

99 anos de Fátima e muita coisa a se esclarecer


por Erick Ferreira

Há exatos 16 anos, o Santo Padre o Papa João Paulo II tornava público uma das questões mais intrigantes dos últimos séculos: o Terceiro Segredo de Fátima.

E a revelação, carregada de expectativas, causou indizível decepção a multidão que se comprimia para a solene revelação em Roma
Quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o fim do mundo ou sobre o futuro a se desenrolar na história, certamente ficará desiludido, escreveu o Cardeal Ratzinger na ocasião. E de fato, desilusão era a palavra a traduzir o sentimento de todos em relação às indecifráveis palavras que ora se apresentavam como o tão aguardado "Terceiro Segredo de Fátima".

Cardeais Bertone e Ratzinger na ocasião da apresentação do terceiro segredo

16 anos depois daquele histórico e emblemático 26 de Junho de 2000, as inquietações e desconfianças em torno do "Segredo"  revelado não se desfizeram, ao contrário, só aumentaram com o tempo, e as respostas  apresentadas aos inevitaveis questionamentos que nasciam não se mostravam muito  satisfatórias.

A grandiosidade do evento que fora Fátima e a expectativa que sua mensagem causava não poderia encerrar-se como algo, que nas palavras do próprio Cardeal Ratzinger, "não revelavam nenhum grande mistério, ou rasgasse o véu do futuro". Era decepcionante demais para os ânimos inquietos da humanidade. A longa expectativa estava reduzida a nada? Se sim, por que tanta resistência em revelar este "Segredo"? Resistência que se estendeu por quase um século. E por que Nossa Senhora, que sempre fora tão clara em suas mensagens, não se faria entender naquela que é talvez a maior revelação mariana da história? 
São perguntas inevitáveis que nasciam constantemente.

O modo como aquele envelope branco chegou a nós, está em volto em mais mistérios do que o próprio mistério nele contido (sic)

Sabe-se que no ano de 1943, enquanto irmã Lúcia estava no convento das irmãs doroteias na Espanha, uma ordem formal do bispo de Leiria, D. José da Silva, lhe foi enviada para que escrevesse a terceira parte do Segredo. 
Na ocasião, Ir. Lúcia estava gravemente enferma, e junto a enfermidade corporal, padecia de terrível angustia, de modo que seu estado lhe impossibilitava escrever. 
Lúcia demorou cerca de três meses para concluir aquelas poucas linhas que atualmente conhecemos como o "Terceiro  Segredo". Encerrando o texto só em janeiro de 1944.

Ao terminar, enviou a D. José da Silva com uma advertência: "...este (o terceiro segredo) será lido ao mundo inteiro após a sua morte ou em 1960,  o que quer que acontecesse primeiro". 
Quando questionada porquê o segredo deveria ser revelado somente em 1960, Ir. Lúcia respondia: "Porque a Santíssima Virgem assim o deseja". 

D. José da Silva, ao receber o envelope com o segredo, temeu a responsabilidade da matéria, e recusou-se a conhecer seu conteúdo, enviando-o imediatamente ao Vaticano, onde fora guardado no arquivo secreto do Santo Ofício.

Primeira folha do manuscrito enviado por Lúcia a D. José da Silva

Em Roma, Pio XII reinava soberano no sólio de Pedro, e demonstrou claros interesses em dar a conhecer ao mundo o conteúdo do Segredo assim que chegasse a data marcada para a sua revelação (1960). 
Porém, um acontecimento "inesperado" muda repentinamente os rumos daquele episódio: a morte de Pio XII no dia 9 de Outubro de 1958. Deixando a seu sucessor a tarefa de revelar ao mundo o tão esperado "Terceiro Segredo de Fátima".

Chegando a data da revelação pública, por algum imprevisto, o sucessor de Pio XII, o papa João XXIII, adia a revelação do "Segredo", causando grandes especulações mundo a fora. 
Conta-se que após a leitura, o Papa João XXIII teria dito aos seus assistentes: "Questo non è per i nostri tempi" (Isso não é para o nosso tempo). Verdade ou não, aquele estranho imprevisto merece boas explicações.

O Vaticano no dia 8 de fevereiro emitiu nota oficial à imprensa declarando que o conteúdo do segredo não seria revelado, e um dos motivos alegados, lançava certa confusão sobre as aparições:
"Apesar de a Igreja reconhecer as aparições de Fátima, não se compromete a garantir a veracidade do que os três pequenos pastores dizem ter ouvido de Nossa Senhora", dizia a nota. Assim o "segredo" permaneceu no silêncio dos arquivos secretos do Santo Ofício até o dia 27 de março de 1965, quando o sucessor de João XXIII, o Papa Paulo VI requereu ao Santo ofício que o enviasse o conteúdo do segredo. Este teve conhecimento do conteúdo, porém, mais uma vez se recusou a revelá-lo, aumentando ainda mais as expectativas e as especulações.

16 anos depois, um acontecimento trágico ocorre em Roma, colocando o "segredo" de Fatima no centro de discussões: O atentado sofrido pelo Papa João Paulo II no dia 13 de Maio de 1981, dia de Nossa Senhora de Fátima e de suas aparições.

Na ocasião, o papa alega ter sido salvo pela "mão materna de Nossa Senhora" que "desviou a trajetória da bala". 
Talvez, motivado pelo acontecimento, o papa deseja conhecer o conteúdo do segredo, porém, ao conhecê-lo, como acontecera anteriormente com seus predecessores, se recusa a revelá-lo. Mas, resolve cumprir solenemente um dos pedidos feitos pela Santíssima Virgem: a Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria em 1984, conforme dispõe a Segunda Parte do Segredo: 
“..., virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz...”

Mas, o tão aguardado "Terceiro Segredo" iria permanecer no silêncio por mais algum tempo.
Mas, as pressões a partir daquele trágico 13 de Maio de 1981 aumentaram vertiginosamente, e o Vaticano via-se intimado a revelar ao mundo o conteúdo do segredo. 
Passando-se dez anos após os atentados de 1981, em visita a Fátima no ano 2000, o papa João Paulo II decide tornar público o conteúdo do segredo.

Na ocasião em que o conteúdo fora apresentado pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, os Cardeais Ratzinger e Sodano se arriscaram a tecer uma interpretação da mensagem. O cardeal Sodano se antecipando, afirmou: "Os acontecimentos a que faz referência a terceira parte do segredo pertencem ao passado". Afirmação que é reiterada pelo Cardeal Ratzinger: "Os diversos acontecimentos na medida em que são apresentados, pertencem ao passado".

Tentou-se convencer o mundo que o evento Fátima alí se encerrava com a revelação do terceiro segredo. Porém, nove anos depois, o cardeal Ratzinger ia ao local das aparições, agora como Bento XVI, e de forma inequívoca afirma: "Iludir-se-ia quem pensasse que a mensagem de Fátima esteja concluída" (Homília, 11 de maio de 2010, Fátima). Três anos depois daquela visita à Fátima, Bento XVI renuncia.

Pastorinhos de Fátima.
Da esquerda para a direita: Lúcia, Francisco e Jacinta

16 anos após aquela revelação pública, e quase 100 anos das inenarráveis aparições de Fátima, a questão ainda parece pendente para a humanidade, e o mundo volta a se perguntar: Foi de fato revelado o terceiro segredo? E há muitas razões para fazer este questionamento.
A Igreja não parece a mesma. O mundo vive uma grave crise de fé tal qual não se teve noticia na história. O presente parece assumir contornos assustadores; a dessacralização atingiu seu vértice e invade todos os ambientes, inclusive o seio da Igreja, e isso não seria objeto de alerta da Santíssima Virgem? Que segredos estariam por trás de tantos fatos inexplicáveis em torno daquele pequeno envelope?

Em meio a este grande imbroglio que se tornou a mensagem de Fátima e seu trajeto até os nossos dias, muitas lácunas ficaram em branco: A inexplicável relutância de quatro pontifices (excluindo João Paulo I); e tantos eventos misteriosos que envolveram este percurso e ainda inquietam a humanidade exigem sérios esclarecimentos. Mas, como "não há nada que esteja oculto que não venha a ser manifesto" (S. Marcos 4, 22), aguardamos ansiosos o dia em que todas as lacunas sejam preenchidas, quer nesta vida ou na outra... Mas com uma certeza: Enquanto as "contracenas" deste evento não forem esclarecidas, a mensagem profética de Fátima não estará encerrada.