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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A Sodomia na visão de um santo


"Tal vício busca destruir as muralhas da pátria celeste e tornar redivivos os muros da Sodoma calcinada".

por São Pedro Damião

São Pedro Damião


Nesta obra que tem mais de 900 anos, São Pedro Damião (1007-1075), bispo e doutor da Igreja, pinta em suas verdadeiras cores a face hedionda da Sodomia, chamado pelas Escrituras de ato "abominável" (cf. Lev 18, 22). 

O Liber Gomorrhianus, escrito pelo santo entre 1049 e 1051, nasceu em resposta as graves desordens que se cometiam por usurpadores das sagradas ordens, que se infiltraram outrora, como hoje, entre as fileiras do clero e dos leigos. 

A linguagem severa com que o santo se expressa reflete a gravidade deste ato e dos tempos vividos... Naquele tempo (séc. XI) a devassidão atingia níveis tão alarmantes que o Papa Leão IX (1049-1954) chegou a afirmar: "Mundus totus in maligno positus erat" (Todo o mundo jaz sob o poder do maligno).

Este discurso, realista e severo, contrasta clamorosamente com o silêncio pesaroso, na Igreja dos tempos modernos, sobre o assunto... Ouçamos com atenção a voz deste santo que conhece tão bem a realidade espiritual de que fala.


***

"Este vício não é absolutamente comparável a nenhum outro, porque supera a todos em enormidade. 

Este vício produz, com efeito, a morte dos corpos e a destruíção das almas. Polui a carne, extingue a luz da inteligência, expulsa o Espírito Santo do templo do coração do homem nele introduzindo o diabo que é o instigador da luxúria; conduz ao erro, subtrai totalmente a verdade da alma enganada, prepara armadilhas para os que nele caem; abri-lhes o inferno, fecha-lhes a porta do céu. Torna herdeiros da infernal Babilônia aqueles que eram cidadãos da Jerusalém celeste, transformando-os de estrelas do céu à palhas do fogo eterno, arranca o membro da Igreja e o lança no voraz incêndio da geena ardente.
Tal vício busca destruir as muralhas da pátria celeste e tornar redivivos os muros da Sodoma calcinada. 
Ele, com efeito, viola a temperança, mata a pureza, jugula a castidade, trucida a virgindade, que é irrecuperável, com a espada da mais infame união. 
Tudo infecta, tudo mácula, tudo polui, e tanto quanto está em si, nada deixa puro, nada alheio à imundicie, nada limpo. Para os puros, como diz o apóstolo, tudo é puro, mas para os impuros e infiéis, nada é puro, pois estão contaminados o seu espírito e a sua consciência (cf Tit 1, 15).
Este vício expulsa do coro da assembléia eclesiástica e obriga a unir-se com os energúmenos e com os que trabalham com o diabo, separa a alma de Deus para ligá-la aos demônios.
Essa pestilíssima rainha dos sodomitas torna os que obedecem as leis de sua tirânia torpes aos homens e odiaveis a Deus. Impõe nefanda guerra contra Deus e obriga a alistar-se na milícia dos espíritos malignos; separa do consórcio dos anjos e, privando-a de sua nobreza, impinge à alma infeliz o jugo do seu próprio domínio. Despoja seus sequazes das armas da virtude e os expõe, para que sejam transpassados aos dardos de todos os vícios. Humilha na Igreja, condena no fórum, conspurca secretamente, desonra em público, corrói a cosciência como um verme, queima a carne como fogo.

Arde a mísera carne com o furor da luxúria, treme a fria inteligência com o rancor da suspeita, e no peito do homem infeliz agita-se um caos como que infernal, sendo ele atormentado por tantos aguilhões da consciência quanto é torturado pelos suplícios das penas. Sim, tão logo a venenosíssima serpente tiver cravado os dentes na alma infeliz, imediatamente fica ela privada de sentidos, desprovida de memória, embota-se o gume de sua inteligência, esquece-se de Deus e até de si mesmo.

Com efeito, essa peste destrói os fundamentos da fé, desfibra as forças da esperança, dissipa os vinculos da caridade, aniquila a justíça, solapa a fortaleza, elimina a esperança, embota o gume da prudência.

E que mais direi, uma vez que ela expulsa do templo do coração humano toda força das virtudes e aí introduz, -- como que arrancando as trancas das portas --, toda a barbárie dos vícios! 
Com efeito, aquele a quem essa atrocíssima besta tenha engolido, entre suas faces cruentas, impede-lhe, com o peso de suas correntes, a prática de todas as boas obras, precipitando-a em todos os despenhadeiros de sua péssima maldade. 

Assim, tão logo alguém tenha caído nesse abismo de extrema perdição, torna-se um desterrado da pátria celeste, separa-se do corpo de Cristo, é confundido pela autoridade de toda a Igreja, condenado pelo juízo de todos os Santos Padres, desprezado entre os homens na terra, reprovado pela sociedade dos cidadãos do Céu, cria para si uma terra de ferro e um céu de bronze. De um lado, não consegue levantar-se, agravado que está pelo peso do seu crime; de outro, não consegue mais esconder seu mal no esconderijo da ignorância, não pode ser feliz enquanto vive, nem ter esperança quando morre, porque, agora, é obrigado a sofrer o opróbrio da derrisão dos homens e, depois, o tormento da condenação eterna".





(Migne, Petrus Damiani,
Liber Gomorrhianus, 
c. 16: 1049 ou 1051: 175-177)


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Ideologia de Gênero: A Subversão do Homem


Introdução

Estamos em face de uma gravíssima e radical rebelião contra a natureza humana, tal qual não se vira igual na história. A famigerada "Ideologia de Gênero" que apareceu sorrateiramente entre as pautas políticas internacionais é o resultado de um processo lento e gradual que se desenvolveu silenciosamente nos laboratórios revolucionários até seu despontar espalhafatoso em nossos dias. 

O termo "gênero", aqui utilizado, vai além de seu sentido  gramatical. Ele é o epiteto de uma reinterpretação sociológica da natureza humana. Em seu sentido gramatical, "gênero" é uma forma de classificação de seres e objetos dentro da condição feminina, masculina ou neutra, mas não é este o sentido que os ideólogos de gênero se utilizam nessa reinterpretação. Para eles, gênero é uma oposição ao sexo biológico, fazendo-se crer que, não somente, ninguém nasce homem ou mulher, mas, que não há um homem ou uma mulher, no sentido objetivo, mas apenas no mundo das ideias em conjunto com outras variedades de condições identitárias a critério do sujeito.
 Portanto, para os ideólogos de Gênero toda a determinação biológica, neurológica e anatômica humana não são fatores determinantes para a definição de uma identidade, pois somente fatores psicológicos e volitivos podem definir esta identidade. Em outras palavras, a vontade do sujeito deve estar acima da realidade biológica e o ser homem ou mulher é objeto de escolha individual. Para os ideólogos de gênero os indivíduos podem se criar e recriar livremente conforme seus desejos e caprichos.
Em síntese, a ideologia de gênero nega que o homem possua uma natureza definida naturalmente; tudo é fruto de construções sociais. Assim cria-se uma cisão entre o físico e o psicológico; entre a vontade e a realidade. Por isso vemos esta ideologia nefasta como a total subversão do homem. 


Um breve percurso histórico 


Karl Marx (1818-1883)

Para se traçar um breve histórico da constituição desta ideologia, é necessário voltar os olhos a Marx e Engels, que no longínquo século XIX lançaram as bases de uma reinterpretação histórica da constituição família e do papel masculino e feminino na sociedade.

      Marx, no entardecer de sua vida, amadureceu sua tese sobre as razões da desigualdade entre os homens, voltando os olhos à célula mater da sociedade. Cabe observar aqui que as conclusões teóricas de um autor costumam ser influenciadas pelo transcurso prático de sua vida, e neste sentido, Marx não fugiu a esta regra. O histórico familiar do ideólogo alemão exerceu forte influencia em suas conclusões, como veremos mais adiante. 

     Em sua obra inacabada (concluída e publicada por Engels) A Origem da família, da Propriedade Privada e do Estado (1884), Marx seguindo as teorias de um sociólogo americano chamado Lewis Henry Morgan, adere a tese da promiscuidade original da humanidade e, por conseguinte, a ausência de papeis definidos entre os sexos. Mas, a ausência de papeis definidos entre os sexos significa também, a ausência de uma entidade familiar monogâmica, nos moldes que hoje conhecemos, onde os sexos desempenham seus papeis na criação da prole.  
Por isso, a primeira das teses apresentadas em seu livro coloca a família moderna e monogâmica como o resultado de um processo de dominação de uma classe sobre outra. Tal como se percebe no seguinte trecho: 
"A família 'individual' moderna baseia-se na escravidão doméstica, franca ou dissimulada da mulher, e a sociedade moderna é uma massa cujas moléculas são as famílias individuais (...) na família, o homem é o burguês e a mulher o proletariado".(ENGELS, 1984, p. 80)
Neste sentido, se formulou a teoria da "dominação masculina" como ponto basilar da sociedade patriarcal:
 "O desmoronamento do direito materno, a grande derrota histórica do sexo feminino em todo mundo; o homem apoderou-se também da direção da casa; a mulher viu-se degradada; convertida em servidora, em escrava da luxúria do homem, em simples instrumento de reprodução" (Ibidem, p 61).
Marx aqui, também, assume um tom "humanístico", ao encenar uma pretensa preocupação com a condição da mulher dentro do matrimônio. Mas, na verdade, Marx estava traçando, inconscientemente, um auto-retrato. Ele era o homem opressor que ele mesmo descreve em sua teoria! Marx explorou a esposa Jenny por 16 anos; explorou a empregada Helena Demuth, com quem teve um Filho que nunca assumiu. Marx era o marido opressor, a "figura patriarcal" que retratava hediondamente em seus escritos. 
Neste ponto, sua hipocrisia nos revela uma característica comum da personalidade revolucionária: o revolucionário se vê acima de toda crítica; se crê um ser iluminado, portador da solução para todos os males da humanidade... Mas nunca excogita a hipótese de que o grande opressor que descreve e combate, habita também em seu ser. 

Influenciado, claramente, por seu histórico familiar, Marx concebeu, em sua mente obscura, "a entidade familiar como a origem de toda a desigualdade entre os homens...". Diz ele:
"A família moderna contém em si o germe, não apenas da escravidão (servitus) como também da servidão, [...] encerra, em miniatura, todos os antagonismos que se desenvolveram mais adiante, na sociedade e em seu estado" (Idem, p. 62).
E em outra parte, Engels, referindo-se e citando o co-autor, afirma:
"Num velho manuscrito inédito redigido em 1846 por Marx e por mim encontro a seguinte frase: 'A primeira divisão do trabalho é a que se faz entre o homem e a mulher para a procriação dos filhos'. Hoje posso acrescentar: 'O primeiro antagonismo de classes que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher na monogamia; e a primeira opressão de classes, com a opressão do sexo feminino pelo masculino" (Idem, p. 70-71)
Marx apontou assim a inimiga, a família, a primeira bastilha a ser derrubada nesta insana revolução. E como se daria este processo de demolição de uma entidade opressora como aquela, da qual, todos, inclusive ele, estão ancorados? A resposta ficaria implícita em sua obra: retornando ao estágio inicial, em que ele chama "comunismo sexual" ou "promiscuidade original". Para Marx, nas sociedades primitivas "imperava o comércio sexual promíscuo, de modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem a todas as mulheres" (ENGELS, p. 31). E era esse o estado original da sociedade que foi "corrompido" pelo patriarcalismo e pelo triunfo do capitalismo.

Mas esta foi sua visão tardia, pouco visitada por seus epígonos -- os marxistas clássicos --, que se concentraram exclusivamente nas primeiras fases de seu pensamento, caracterizado pelo economicismo, o domínio estatal dos meios de produção, a construção da sociedade sem classes mediante a ditadura do proletariado, a crítica ao capital e a transformação da estrutura econômica e política da sociedade, etc. 

A missão de retomar a tese esquecida de Engels e Marx caberia a outro movimento que não se identificaria plenamente como marxista. Era a Escola de Frankfurt e as feministas modernas.

O Redescobrir de Marx


Kate Millet

Coube inicialmente as feministas do chamado "feminismo socialista" dos anos 60 e 70 compreender esta concepção tardia de Marx e aprofundá-la.

Kate Millet entendeu muito bem esta última descoberta que seria determinante aos rumos do pensamento marxista e na ideologia que irá ganhar corpo com o decorrer do tempo. Escreve ela em 1970:
"O grande valor da contribuição de Engels [e Marx] para a Revolução Sexual reside na sua análise do casamento patriarcal e da família... Na submissão do feminino ao masculino. Engels, assim como Marx, compreendeu o protótipo histórico e conceitual de todos os subsequentes sistemas de poder; de todas as relações econômicas opressoras e o próprio fato da opressão em si (...) Para que uma revolução sexual progredisse, seria necessário uma transformação social verdadeiramente radical e a alteração do matrimônio e da família como foram conhecidas através de toda história". 
(MILLET, 1970. p. 157). 
Deste pensamento deriva a conclusão feminista da família como "a gênese da psicologia do poder", que seria tema central das ideólogas de gênero. Por este motivo, esta instituição, a família, precisa ser destruída para o raiar da revolução no mundo.

Marx havendo apontado o grande empecilho (a família) para a revolução, não apontou -- ou não teve tempo para isso --, os meios para destruí-la. Millet começa a encontrar os meios para este fim... Porém, não cabe a ela o 'mérito' da questão... Ela dá alguns passos para o nascer da terrível ideologia que pretende destruir a entidade familiar.  


Para Marx, assim como para as feministas, as restrições que existem hoje ao incesto, zoofilia, pedofilia e demais aberrações sexuais não eram proibidas no começo da humanidade. Para ele, a sexualidade era totalmente livre e descompromissada e não culminavam em contrato matrimonial.
"Não só na época primitiva, irmã e irmão eram marido e mulher, como também, -- como acontece ainda hoje em muitos povos --, era lícito o comércio sexual entre pais e filhos" (ENGELS, p. 36). 
Logo, para Marx, está realidade primitiva foi a condição natural do homem e todas as subsequentes instituições e proibições foram criações culturais com objetivos de dominar e resguardar a instituição familiar, fonte da "psicologia do poder".


Shulamith Firestone (1945-2012)

Portanto a legalização de práticas bestiais é uma das fases necessárias neste processo de dissolução da família e construção da sociedade marxista.

Aprofundando e levando ao extremo o pensamento de Marx, surge nos anos 70, Shulamith Firestone com um aberrante estudo sobre a revolução marxista no campo da transformação estrutural e paradigmática da sociedade.

Em sua obra principal, A Dialética do Sexo, Firestone expõe abertamente as fases deste maléfico plano:
"Eis aqui algumas sugestões do sistema alternativo: A libertação das mulheres da tirania de sua biologia reprodutiva por todos os meios disponíveis e a ampliação da função reprodutiva e educativa a toda a sociedade globalmente considerada (...) Estamos falando de uma mudança radical! Libertar as mulheres de sua biologia significa ameaçar a unidade social, que está organizada em torno da sua reprodução biológica e da sujeição das mulheres ao seu destino biológico: A família (...) a total autodeterminação, incluindo a dependência econômica, tanto das mulheres quanto das crianças (...) é por isso que precisamos falar de um socialismo feminista (...) com isso, atacamos a família em uma frente dupla. Contestando aquilo em torno de que ela está organizada: A reprodução das espécies pelas mulheres, e sua consequência, a dependência fisíca das mulheres e das crianças... Eliminar estas condições já seria suficiente para destruir a família, que produz a 'psicologia do poder', contudo, nós a destruíremos mais! 
(...) A total integração das crianças em todos os níveis da sociedade (...) todas aquelas instituíções que segregam os sexos ou separam as crianças da sociedade adulta, por exemplo, a escola elementar, devem ser destruídas. Abaixo a escola! (...) e se as distinções culturais entre homens e mulheres e entre adultos e crianças forem destruídas, nós não precisaremos mais da repressão sexual que mantém estas classes diferenciadas, sendo pela primeira vez possível a liberdade sexual natural (...) Assim chegaremos à liberdade sexual para que todas as mulheres e crianças possam usar a sua sexualidade como quiserem. Não haverá mais nenhuma razão para não ser assim (...) em nossa nova sociedade, a humanidade poderá finalmente voltar à sua sexualidade natural 'polimorficamente diversa'. Serão permitidas todas as formas de sexualidade. A mente plenamente sexuada tornar-se-ia universal"
(FIRESTONE, p. 258-262)
Pois bem, o retorno ao estado primitivo de total liberdade sexual, descrito por Marx, é organizado e levado as últimas consequências por Firestone.  Destruindo os supostos tabus criados pela "sociedade machista", que criminalizou estas formas de sexualidade que hoje são marginalizadas como bestiais e criminosas, teremos o fim da família e o retorno a natureza real do homem, que foi reprimida por culturas opressoras, como gostam de exclamar as feministas. 

Esta revolução que pretende culminar com a total destruição da civilização ocidental e suas bases cristãs, está em pleno curso, e podemos ver seus claros reflexos em nosso cotidiano.
Um destes reflexos: Equiparar todas as espécies de uniões, por mais incongruentes e criminosas que sejam, já está estabelecida quase que irreversivelmente. 

Depois, estas mesmas espécies de uniões serão destruídas pela mesma revolução que as legalizou, criando um ambiente de total liberdade sem compromissos, conforme a sociedade primitiva, onde a sexualidade era plenamente livre e sem nenhuma restrição ou consequências criminais.

As pessoas poderão se relacionar sexualmente com quem, ou o quê, suas perversidades determinarem, sem precisar criar vinculos ou serem criminalizadas por seus abusos.

Assim, a entidade familiar será um mero vinculo obsoleto sem razão de ser. Portanto, a destruição da família é só uma parte da sociedade insana e bestial idealizadas por estes revolucionários (ou sociopatas). 

O Caso Reimer

A tarefa de dar nome àquela estranha concepção ideológica que nascia nos meios revolucionários, (com Marx, Millet, Firestone e CIA. LTDA) partiu do sexólogo estadunidense John Money.

O termo (gênero, do inglês gender) aqui empregado, foi usado por Money para designar uma percepção psicológica independente da realidade anatômica e biológica que seria responsável pelas "preferencias sexuais" de cada individuo. 


John Money

Segundo Money, os indivíduos nascem completamente neutros em relação a sexualidade; é a sociedade que impõe uma identidade  masculina ou feminina.

Fatores como a genitalidade e anatomia são detalhes insignificantes na construção desta identidade. 
Portanto, a identidade sexual poderia ser escolhida ou moldada livre e independentemente do sexo biológico.

Porém, esta teoria precisava de um dado experimental para ser respeitada no meio científico. E esta oportunidade apareceu em 1965, ao chegar ao conhecimento do Dr. Money uma tragédia ocorrida com um dos gêmeos, de um casal canadense (Janet e John Reimer). 

Bruce e Brian, (como se chamavam os gêmeos) aos 8 meses tiveram que ser submetidos a uma cirurgia de fimose... E por motivos não esclarecidos, durante a operação de Brian, os médicos utilizaram um eletrocauterizador em vez de bisturi, e acabaram destruíndo o orgão genital de Brian. 
A família arrasada com o acontecido, encontrou nas teorias de John Money a forma de superar o trauma do filho.

John Money, recebeu o casal com grande alegria por ver naquela tragédia a chance de provar sua teoria ao mundo.
Sugeriu transformar Brian em Brenda, e criá-lo como menina.
Uma cirurgia de mudança de sexo foi feita em Brian, e doses diárias de estrógeno lhe foram aplicadas para o desenvolvimento de características femininas.
E daí por diante o menino passou a ser criado como menina até os 14 anos. 


Brian Reimer, como Brenda

John Money registrou a experiência como um sucesso, e passou a divulgá-la e publicar inumeros artigos sobre ela.
Mas em certo período, Money, calou-se totalmente sobre o caso, e isto despertou suspeitas, especialmente em um especialista da Universidade do Havaí, Dr. Milton Diamond, que resolveu investigar o caso com a colaboração de outro especialista, o Dr. Keith Sigsmund.

Durante a investigação, os dois cientistas fizeram descobertas surpreendentes sobre o caso "Brenda".
Estas descobertas foram publicadas em um artigo intitulado Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine. 

No artigo, os pesquisadores revelam uma realidade totalmente diferente da descrita por John Money.  
Descobriram que "Brenda" desde os dois anos se rebelava contra a forma com que a criavam; rejeitava as roupas e os brinquedos femininos; tinha comportamentos claramente masculinos, etc. A situação agravava-se a cada dia, a ponto de não restar outra saída aos pais e aos psiquiatras que acompanhavam o caso, senão, revelar a macabra experiência a que submeteram Brian para tornar-se Brenda.

Após a revelação bombástica, Brian iniciou uma série de procedimentos para reverter aquela terrível situação. Se submeteu a inumeras intervenções cirurgicas, para restaurar sua verdadeira identidade sexual, decidiu chamar-se "David", e casou-se.
Porém, lhes restaram graves consequências da monstruosa experiência, como uma tendência depressiva que o levou a sucessivas tentativas de suicídio; a primeira aos 20 anos.
Sua esposa, não suportando o constante estado depressivo de David, o abandona. Seu pai se lança de vez no alcoolismo; seu irmão Bruce se suícida. 
E neste pulular de tragédias; David, aos 38 anos; se suícisa com um tiro no peito. 

Eis o resumo de uma tragédia que começou com a Ideologia de Gênero. 

Não obstante o fracasso da experiência de Money, a terrível ideologia definida por ele, foi levada adiante e recebe alguns retoques do psiquiatra Robert Stoller, que cria uma falsa distinção entre sexo e "gênero". E no final na decada de 90, a feminista Judith Butler, influênciada pelos trabalhos de Karl Korch, Louis Althusser e outros teóricos da escola revisionista de Frankfurt, e todos os autores  aqui referidos, deu acabamento final à esta maléfica tese.


Judith Butler

E decisivamente aplica à Ideologia de Gênero os princípios do desconstrutivismo de Derrida e Foucauld, que postula que existe uma única realidade universal: a linguagem. Não existe o objeto e o sujeito, só existe o discurso.
É esta mesma corrente teórica que dá origem aos termos que constroem uma nova realidade em nossos dias.

Lembrando que a Ideologia de Gênero é só parte desta nova realidade que se constrói por cima de toda uma cultura que fundou a civilização ocidental, e deu origem aos costumes e instituíções que regem o nosso cotidiano.
Desfazendo-se, ou dando novo sentido aos termos que dão nome as coisas, constroe-se pouco a pouco os muros da "nova sociedade" dos sonhos revolucionários de Marx, Firestone et caterva, através da criação de uma nova linguagem e por conseguinte, de uma nova consciência.

A Ideologia de Gênero é uma total negação da realidade objetiva.
Neste sentido, Butler afirma:
"O gênero é sempre um feito, ainda que não seja obra de um sujeito tido como preexistente à obra. No desáfio de repensar as categorias de gênero fora da metafísica da substância, é mister considerar a relevância da afirmação de Nietzsche em genealogia da moral, de que 'não há ser' por trás do fazer, do realizar, do tornar-se; o 'fazer' é uma mera ficção acrescentada à ação -- a ação é o tudo. Numa aplicação que o próprio Nietzsche não teria antecipado ou aprovado, nós afirmamos, como corolário: 'Não há identidade de Gênero por trás das expressões; essa identidade é performativamente constituída, pelas próprias 'expressões' tidas como seus resultados". 
(BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade, 8 ed. Civilização Brasileira, 2015, p. 56)
Em síntese, o que Butler esta afirmando é que: Não existe o ser! Isso mesmo que você leu. 

Aqui se revela outra face da Ideologia de Gênero: a negação dos direitos individuais.
Pois, se o individuo não existe, não pode reclamar direitos, não pode ser reconhecido pelo que não é! Pois ele pode ser muita coisa, sem ao mesmo tempo ser nada. 
O 'ser' para Butler é um constante 'devir' (vir a ser). 
Eis o grave conflito ontológico em que coloca o homem a confusa ideologia de gênero! 

O percurso final da Ideologia de Gênero: Capitalistas e Marxistas em aliança... 

Esta hedionda trama , cuidadosamente elaborada nos laboratórios marxistas, passa a ser inserida no ambiente político internacional de forma inesperada.

A medida que a Ideologia de Gênero ia se formando nos recantos revolucionários, entre os metacapitalistas das grandes fundações internacionais surgia uma preocupação premente: a explosão demográfica no mundo.

Para controlar e estudar esta explosão, John Rockefeller III, funda o Population Council (Conselho Populacional). Um orgão totalmente voltado as questões demográficas.


Ao mesmo tempo que os metacapitalistas se preocupavam em encontrar soluções para o "problema" demográfico, os marxistas trabalhavam na Ideologia de Gênero para destruir a instituíção familiar e construir a sociedade marxista.


Kingsley Davis

Em 1967, o ex-presidente do Conselho Populacional, Kingsley Davis (1908-1997), um demográfo de orientação marxista, pública um artigo onde criticava as políticas de controle populacional até então adotadas e, sugeria uma profunda mudança na própria estrutura da sociedade. Mudança que ele chamava de "institucional".

Em outras palavras, Davis entendeu que era necessário uma mudança radical nas consciências, especificamente, das mulheres, em relação à reprodução.

As críticas e sugestões de Davis não foram bem recebidas pelo Conselho Populacional... E Kingsley Davis foi esquecido na luta demográfica, até o ano de 1967, quando o Conselho Populacional constatou que de fato as políticas populacionais adotadas (aborto, esterilização, DIU etc...) não estavam surtindo efeito na luta pelo controle demográfico.


Adrienne Germain

Então, entra em cena uma discípula de Davis, Adrienne Germain, que é contratada pelo Conselho Populacional, como a portadora de uma suposta saída para a "crise" demográfica no mundo. E esta, solução, era simplesmente uma nova afirmação das teses de seu mestre (Kingsley Davis): a necessidade de uma profunda transformação nas consciências. E está solução, na verdade, estava nas mãos dos marxistas, especificamente das feministas e sua Ideologia de Gênero.

Ao encontrarem-se estas duas perspectivas (a marxista e a metacapitalista), a nova sociedade dos sonhos marxistas, parecia finalmente viável.
Assim, capitalistas e marxistas se juntam por um objetivo comum, ou melhor, por objetivos distintos, mas com o mesmo resultado: a destruíção da família e, por conseguinte, das bases culturais da civilização ocidental.

Os liberais das fundações internacionais tinham o capital para financiar a ideologia e os marxistas tinham  o meio para os objetivos metacapitalistas de controle populacional.

Assim, financiadas pelas grandes fundações internacionais (McCarthur, Ford, Rockeffeller et caterva), as feministas chegaram em Pequim na IV Conferência da Mulher, e conseguiram incluir o maléfico termo (gênero) na pauta da Conferência, que passou despercebido, sem qualquer definição considerável, pelos delegados que analisaram e votaram o texto final. 



Porém, o difundir do termo pelo mundo, sem uma definição precisa, e cada vez mais distante do seu sentido gramatical, levou alguns juristas a empreenderem um minucioso estudo sobre o "suspeito" termo implantado em Pequim.

O estudo empreendido pelos juristas lhes revelou a hedionda trama por trás daquela "simples" terminologia: A negação total de todo um fator natural, ou melhor, a negação do homem.

Quem poderia supor que aquele inofensivo termo, aparentemente tirado do ambiente gramatical, na verdade escondia esta escabrosa tese!

Com a verdadeira face revelada, alguns anos depois, na Conferência de Yogyakarta (Indonésia) em 2006, o termo maliciosamente mascarado em Pequim é definido e claramente imposto em sua pauta à todas as nações.
Em seus princípios, define a Conferência de Yogyakarta:
"Compreendemos a identidade de gênero como estando referida a 'experiência interna, individual e profundamente sentida que cada pessoa tem em relação ao gênero que pode ou não corresponder ao sexo biológico atribuído no nascimento, incluíndo-se aí o sentimento pessoal do corpo que pode envolver por livre escolha a modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgico ou outros; e outras expressões de gênero, inclusive o modo de vestir, o modo de falar e certos maneirismo". 
(Introdução, p. 6)
E algumas páginas adiante impõe:
"Os Estados deverão tomar todas as medidas legislativas, administrativas e de outros tipos que sejam necessários para respeitar plenamente e reconhecer legalmente a identidade de gênero 'autodefinida' por cada pessoa". (Princípio 3, letra B, p. 13). 
A partir desta conferência, o termo começa a figurar na pauta de todos os estados do mundo; alguns até passam a adotá-lo na sua legislação, como a Suécia.

E no Brasil, os primeiros grandes grupos de estudos em Ideologia de Gênero surgem em 2006, mas só  em 2013 aparece na pauta política como proposta para reger toda a educação no país através do PNE (2014).

Rejeitado pelo Congresso em 2014, o MEC, através do CONAE, tenta, arbitrariamente impôr a ideologia rejeitada aos municipios e aos estados através dos PME (Plano Municipal de Educação) e PEE (Plano Estadual de Educação).

Percebe-se que esta maléfica ideologia trata-se de "uma urgência" globalista com prazo determinado, e  não cessará enquanto a família, entidade natural e divina, não for completamente abolida.
  
Quem pensa que estes são os passos finais de um processo, engana-se, estes são os primeiros passos para a total subversão do homem e da sociedade.
Precisamos antepor a contra-revolução urgentemente a este projeto sórdido, reafirmando a família natural plenamente, em seus aspectos mais sagrados; o homem e a mulher em suas dimensões naturais, e a moral judaico-cristã na qual está alicerçada a cultura ocidental. Se isto não for feito Deus salvará seu povo assim mesmo... Pois nada pode destruir os projetos naturais estabelecidos por Deus... Porém, Deus triunfará sem você que não lutou por seus direitos; que não resistiu ao maléfico projeto de subversão da humanidade.

Se eles pretendem destruir o homem em sua totalidade, nós precisamos reconstruí-lo e reafirmá-lo conforme o modelo natural e divino. 


Unum cuore, et anima una

Cordialmente em Cristo

Erick Ferreira


Bibliografia:

ENGELS, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Trad: Leandro Konder. 9 ed. Civilização Brasileira, 1984.

MILLET, Kate. Política Sexual. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1979.

FIRESTONE, Shulamith. La Dialectica de los Sexos: Em Defesa de la Revoluccion Feminista, Editorial Kayrós, Barcelona, 1976.

BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão de Identidade. 8 ed. Civilização Brasileira, 2005.

PRINCIPIOS DE YOGYAKARTA


domingo, 20 de setembro de 2015

O Esplendor da Verdade



Não há manjar mais saboroso para a alma do que conhecer a verdade
(Lactâncio, de fals. rel., lib. I, Cap 1)


              A verdade é o nosso impulsor e nosso tesouro. Trazê-la no coração é nossa honra; espalhá-la, nossa alegria. Pois, conforme ensinou o doutor angélico: “levar os homens ao conhecimento da verdade é o maior benefício que podemos lhes prestar”. E fazermos desta afirmação nosso lema.

A nada, os homens buscam com mais ardor, do que este tesouro imperecível que vem do alto. O homem busca com ardor a verdade porque a verdade constitui a felicidade de sua alma. "Ultima felicitas hominis est in cxontemplatione veritatis". [1]

Todo homem tem desejo natural de conhecer a verdade, e uma das provas incontestáveis disso, ensina Sto Agostinho, é que “embora haja muitos homens que gostam de enganar, nenhum deles gosta de ser enganado”. [2]

O que faz os homens investigarem os oceanos, o universo e as profundezas da terra, senão a busca pela verdade!
Portanto, a busca pela verdade, constitui uma a aspiracao mais intima do homem. Mas, esta busca é drasticamente afetada pelo fato de o homem trazer em si a grave consequência do pecado original, chamada “patologia do conhecimento”.
E esta patologia espiritual afetou no homem a capacidade de ver, e conhecer claramente, as coisas como de fato elas são. 
A visão é ofuscada por um egoísmo delirante, de modo que, o homem, ao invés de ver as coisas como elas são, as vê como ele é!

Por isso, a otimista Pollyanna, -- ilustre personagem de Eleanor Porter --, via o mundo todo cor de rosa, enquanto o pessimista Scrooge, -- de Charles Dickens --, o via todo cinzento. Porque viam conforme seus corações. 
Portanto, filosoficamente falando, a patologia do conhecimento é uma distorção da análise objetiva, e às vezes conflita com a realidade subjetiva, gerando assim as graves distorções de conhecimento que legou tantos erros filosóficos. E exemplos não nos faltam: Marx, Descartes, Kant, Foucault, Freud, Sartre etc.

Apesar desta visão turva, o homem nunca perdeu a nostalgia interior de conhecer o que é verdade, de modo que, o que não é verdadeiro o inquieta e insatisfaz, e o leva a buscar algo além. Assim passa a perseguir a verdade em seus reflexos, e convencidos de haver encontrado a verdade, confundem o vulto com a presença. 

A verdade só pode ser encontrada no interior do homem!

Em nenhum lugar se pode chegar mais perto da verdade do que no interior do homem. In interiore homine habitat veritas [3]

Neste sentido continua o doctor máximus: “Os homens saem para fazer turismo, para admirar o pico das montanhas, o barulho das ondas, o fácil e copioso curso dos rios, as revoluções e o giro dos astros, mas nunca olham para dentro de si mesmo”. [4]
Sim, os homens ignoram o seu interior e anseiam conhecer a verdade. Investigam o universo, e desconhecem a si mesmos.

A primeira questão que deveria nos envolver é esta: "quem somos?".

Era esta a interrogação esculpida no mítico templo dos delfos: “Nosce te ipsum?” – conhece-te a ti mesmo?  --Para assinalar que os homens, desde os estados primitivos se inquietavam com o profundo mistério que habitava em suas almas.

Como pretende o homem chegar ao conhecimento da verdade se desconhece a si mesmo? A verdade se encontra no interior e somente o homem interior a pode encontra-la!

A oração é o caminho que Deus dispôs para o homem mergulhar em si, e encontrar-se com o mistério inefável de sua existência.
No recinto sagrado de seu ser, onde arde a chama sagrada da verdade, o homem ao encontrar-se consigo, encontra-se com Deus, e Deus é a verdade!

Como encontrará tal verdade o homem dissipado e sensual do século XXI? Que vive imerso na confusão das metrópoles?  

O barulho lancinante das cidades não satisfaz a alma; o coração tem sede do infinito que se oculta em seu interior. Às vezes, no inquietante cotidiano, o ser sente os frêmitos da alma clamando: ‘‘Precisa encontrar-te’’.

Eis o que é a oração, primeiramente, um encontro consigo. 
Portanto, estar longe da oração e da meditação, é estar longe de si mesmo. E quão angustiante, é andar perdido!                                                        
No mundo há centenas de intelectuais frustrados, porque conhecem tantas coisas, mas desconhecem seus interiores. 

Lembra piedosamente das páginas da Imitação: ‘‘Por certo, agrada mais a Deus, o humilde camponês que serve a Deus, do que o filosofo soberbo que observa o curso dos astros, mas se descuida de si mesmo’’ [5].


Verdades Modernas


     O mundo moderno segue uma estranha concepção de verdade. Ou melhor, de verdades, que em suma não existem. Esta é a loucura que o subjetivismo causou no ser, uma desordem ontológica, diríamos.

O subjetivismo Kantiano, que postula não haver verdade objetiva, mas unicamente “Verdades” subjetivas, lançou a humanidade nas mais densas trevas, ao abolir certezas, criou a ditadura das incertezas. Conforme a máxima sofista, "o homem passou a ser a medida de todas as coisas”.

A verdade na definição tomista é a adequação da ideia do sujeito ao objeto, mas para Kant é o inverso: A verdade é a adaptação do objeto a ideia do sujeito. Portanto, cada um é dono de sua própria verdade!

Tal subjetivismo criou a Babel dos tempos modernos, onde muitas verdades figuram sem a universalidade da verdade. Este subjetivismo foi objeto de grande preocupação de João Paulo II expresso em sua encíclica Splendor Veritatis:

“Em algumas correntes do pensamento moderno, chegou-se a exaltar a liberdade até ao ponto de se tornar um absoluto, que seria as fontes dos valores [...] atribuíram-se à consciência individual as prerrogativas de instância suprema do juízo moral, que decide categórica e infalivelmente o bem e o mal. À afirmação do dever de seguir a própria consciência foi indevidamente acrescentada aquela outra de que o juízo moral é verdadeiro pelo (simples) fato de provir da consciência [...] tende-se a conceder à consciência do individuo o privilegio de estabelecer autonomamente os critérios do bem e do mal”. [6]

A verdade subjetiva de Kant é a autentica tradução do alarido insano dos hospícios, onde todos falam, mas ninguém se entende.

Sobre a verdade, não podemos opinar. Assim como a morte é uma verdade inexorável, onde, aceitando ou não, ela jamais deixará de existir. Assim, os fatos não depende do que cada um acha. A verdade está além do querer dos homens. A existência de Deus, por exemplo, é uma verdade experimental. ‘‘Ex nihil, nihilo fiat’’ – do nada, nada se faz. 
Mas, como o subjetivismo não se apoia em fatos, mas na consciência individual, cada um pode criar sua própria verdade. Logo, desta triste confusão do pensamento humano (o subjetivismo) só se conclui uma verdade: não há verdade!

O que é a verdade?

A mesma pergunta que ecoou dos lábios de Pilatos há mais de dois milênios: O que é a verdade? (Jo 19, 38) ressoa ao longo dos séculos em tantas filosofias vãs e efemeras. “Ego sum veritas”, - responde o Divino Mestre ao longo dos séculos à estas filosofias.

A verdade não é uma ideia... É uma pessoa!  Uma pessoa pela qual, milhares de homens e mulheres não temeram renunciar tudo e até abraçar a morte. 
S. Justino, mártir dos primeiros séculos, com toda a convicção e ardor de sua alma professou a verdade pela qual viveu e morreu: ‘‘Só no cristianismo encontrei a única filosofia segura e vantajosa.’’ [7] 

O cristianismo não é uma efêmera corrente filosófica, é uma ciência eterna e inesgotável. Foi a mesma doutrina que abrasou o coração de Pedro, o humilde pescador da Galiléia,  a morrer na cruz há mais de dois mil anos, e Maximiliano Kolbe, a se imolar num campo de concentração nazista do século XX. 
20 séculos distanciam o humilde pescador da Galiléia, do humilde frade polonês, mas a mesma verdade os impeliu ao martírio. 
Este é o cristianismo, uma verdade eterna e imutável que gerou milhares de doutores, virgens e mártires, e que está de pé há mais de dois mil anos porque foi edificado sobre a firme rocha da verdade, que não é uma ideia, mas uma pessoa: Jesus Cristo.


Notas:

1. Sto Tomás de Áquino. Suma contra os gentios, III, 37
2. Sto Agostinho. Confissões, C, 23, 33.
3. Sto Agostinho. De vera religione, XXXIX, 72
4. Sto Agostinho. Confissões. Livro X, cap. VIII.
5. Imitação de Cristo. Cap. I, I
6. S. S João Paulo II. Veritatis Splendor, n. 32.
7. S. Justino, mártir. Diálogo com Trifão, 8, 2.


domingo, 13 de setembro de 2015

A Primavera da Vida: Uma Palavra Amiga aos Jovens




 Dizem que a primavera é a mais bela das estações e que a beleza que nela irradia não contemplamos igual em outras estações. Ela enche os campos de flores; dá brilho e majestade aos céus, enche os mares de vida. 

Por assemelharem esta estação com a juventude, chamam-na os poetas de "primavera da vida", por nela contemplarem uma fecundidade e um brilho singular; um brilho que raramente se reproduz com o mesmo fulgor em outras fases da vida...

Na juventude tudo é novo... E o novo sempre é surpreendente. 

A vida floresce e no peito aflora também o perigoso impeto das paixões, que turva a visão. 

Ante o amplo horizonte que se desfrauda majestosamente, um insinuante grito de liberdade ecoa do coração do jovem, louco por desbravar este mar de novidades que se apresenta. 

És jovem, e queres a felicidade... Mas a indecisão te tomara o coração constantemente... É necessário tomar uma posição... Não podes ficar indeciso... 

Então a inconfundível voz de Deus se apresentará a ti, de muitos modos, com sua proposta inescusável:

"Ponho diante de ti a vida e o bem, e doutra parte, a morte e o mal [...] escolhe pois a vida, para que vivas..." (Deut 30, 15. 19).

Porém, também, haverá um grito de rebelião, insinuante, vindo do mundo; do demônio; da carne decaída, te convidando a exceder os limites demarcados por Deus... E repetir o grito que irrompe das profundezas infernais: "Non serviam" (Jer 2, 20), 

Há uma estoria que traduz muito bem a condição de muitos jovens que se veem divididos entre o bem e o mal.

Conta-se que certa ocasião um jovem teve um sonho, e viu duas multidões separadas por um grande muro... E sobre o muro estava ele.
De um lado, estava a Divina Majestade e toda a côrte celeste, que fazia pedidos insistentes para que o jovem descesse do muro e viesse para o lado de Deus. 
Do outro lado do muro, estava satanás e seus sequazes... Porém, em silêncio olhando para o jovem... 
O silêncio de satanás chamou a atenção do jovem. E resolveu perguntar porquê ele estava calado enquanto Deus insistia tanto para que ele descesse do muro e viesse para o seu lado? 
Satanás respondeu de forma breve e clara:
"Porque o muro me pertence!".

Estas duas multidões estão diante de ti: Deus e toda a corte celeste... E de outro lado, satanás, seus demônios e seus muitos asseclas mundanos... Não podes ficar em cima do muro, pois o muro já é uma escolha!

É nesta atmosfera bélica, onde um campo de batalha se ergue em teu coração, que terás está interrogação na alma: "A quem queres servir?" (Jos 24, 15). Não poderás ficar indiferente a esta pergunta, que te inquietará a vida inteira! Não poderás permanecer alheio a estes apelos que vem desses dois lados do muro... De Deus e do demônio... 

A primavera da vida

Há uma grande questão que rege a estação das flores: se a primavera não for bela, o verão passará sem colheitas... 

Se a primavera da tua vida não for vivida com pureza, teu futuro será esteril. Se o terreno do teu coração não for bem cultivado para receber as flores da virtude, ele se encherá das ervas daninhas do vício. 

Não podes esquivar-te da escolha entre o bem e o mal, pois ela sempre estará diante de ti.

E no caminho do mal, quando se dá o primeiro passo, será difícil não dar o segundo, o terceiro, e o último e definitivo, que te precipitará eternamente em seus abismos. E lá permanecerá até o fim, conforme, alerta as escrituras:

"O jovem mesmo ao envelhecer, não se afastará do caminho trilhado na juventude" -- Adolescens iuxta viam suam etiam cum senuerit non recedet ab ea - (Prov 22, 6).

A beleza da juventude está na pureza com que é vivida. Se, no entanto, cedes aos instintos bestiais que começam a aflorar neste "corpo de morte", estás sujeito a ruína!

Que radiante é a primavera!

Nesta idade critica, muitos atrativos surgirão. Mas não se engane com a superficie colorida com que a impureza se apresentará. Por baixo dela esconde-se um tenebroso pântano. E não se engane com a austera aparência da castidade... Por baixo dela se esconde o paraíso. 

Quantos atraídos pela festiva aparência com que a impureza se apresentava inicialmente, hoje atormentam-se com sua horrenda face... O jardim superficialmente florido, tornou-se pântano escuro e lodoso; aquela fachada luminosa e alegre caiu, restando as tristes ruínas de um castelo sombrio e sordido. 

E agora, às escuras, confrontando a verdadeira face da impureza, vem o sentimento nostalgico daquelas aureas moradas de esplendor real, daquela paz interior que um dia repousou em seus corações e foi perdida pela sordidez do vício.

Não é este o tormento que acomete a tantos jovens nas macas de hospitais, nos cárceres, na invalidez, vítimas da impureza?

A impureza "sempre" se apresentará a ti atraente, mas destrutiva. Quantas vidas não foram  destruídas por ela?

A pureza, porém, apresentar-se-a a ti modesta, mas santificante. Vêde a beleza e integridade que ela irradia nos rostos e carateres juvenis! Beleza e integridade que a impureza não pode oferecer.

A impureza destrói a vontade, transforma os bons em maus... Vêde Henrique VIII, rei da Inglaterra, que de defensor da Igreja tornou-se seu implacável perseguidor. Quem foi o autor de tal transformação? A impureza...

O que serás amanhã, depende muito da pureza de vida que levas hoje... Se começastes a enveredar pelo caminho da impureza, é questão de tempo para te transformar em um fascinora inimigo de Deus... E o impuro não consegue ser bom por muito tempo... Uma hora ou outra o vício triumfa...

A impureza é a grande algoz da juventude

A juventude é mole como a cera para inclinar-se ao vício, dizia Horácio (cf Horat. Art Poet., v. 163), e tu, jovem... Que te deparas por todos os lados com os insistentes apelos do mundo com seus atrativos fugazes, querendo te introduzir em seus caminhos sordidos; Tu, por seres altamente impressionável, deixa te levar facilmente por estes atrativos, mesmo que sejam enganosos e destrutivos... 

Tudo que cheira a aventura encanta os corações juvenis... Porém, quantos não se perderam nesta busca insana de aventura? Quantos, hoje, amargam seus irreparaveis estragos? Jovens, como tu, que em busca de liberdade, hoje se vêem chafurdados na triste escravidão dos vícios, e lamentam-se amargamente pelo que perderam. A Liberdade interior.



Bem-aventurado Pier Giorgio Frasatti, escalando montanha


Acima desta atmosfera triste e degradante, se eleva uma condição mais sublime, a vida pura, onde almas heróicas se lançam qual chamas para o alto, verso l'alto... Como o lema de vida de Pier Giorgio Frassatti, um jovem de carater, que com ânimo varonil venceu o mundo  lançando-se para o alto... 
Em sua lápide se encontra lavrado a tradução mais fiel de sua existência... "Descansa dignamente entre os anjos". Interroga-te se tua sepultura será digna de semelhante epitáfio. 

Lembra-te do coração florido, da paz da consciência pura, de Deus, de seus santos, de seus anjos, da Virgem puríssima.... E esquece o demônio e seus asseclas mundanos. 

Embora o mal tende a ser mais insinuante, há sempre o grito encorajador de Deus: "Jovem, sê forte!".

Um coração inquieto

O jovem, como todo ser humano, vive inquieto porque foi criado para Deus, e seu coração estará inquieto enquanto não repousar n'Ele - Fecisti nos, Domine, ad Te, et inquietum es cor nostrum  donec requiescat in te. (Sto Agostinho. Confissões. 1, 1). 

Nunca irás te conformar com este mundo que passa, nem com sua falsa esperança.

Tudo isso não pode satisfazer teu coração que anseia pelo infinito. Fostes feito para a eternidade, para as coisas do alto (Col 3, 1-3), sê como a águia, que se renova e se eleva para o alto, não sejas como o porco chafurdado na lama, e incapaz de elevar os olhos ao céu...

Só a verdade satisfaz o coração! 

Este desejo de liberdade que arde no coração humano, precisa de verdade para se mover. Sem a verdade, a liberdade move-se as cegas e não chega a lugar nenhum. "Sem o conhecimento da verdade, a liberdade desvirtua-se de seu fim", ensina Bento XVI.

Cristo abriu o verdadeiro caminho da liberdade.
A liberdade que o mundo oferece nada mais é que escravidão. Vede quantas vítimas desta falsa liberdade encontras por toda parte!

Só é livre quem ama, quem é puro, quem é integro...
A liberdade interior é uma exigência da alma que não pode ser calada...
O homem move-se espontanemete quando encontra algo que o atraí e sucita desejo. 
"E o que pode a alma desejar mais ardentemente do que a verdade?" (cf. Sto Agostinho. In Iohannis Evangelium Tractatus, 26, 5), questiona o doctor maximus e completa o doctor angélico: "É com efeito, natural ao homem  aspirar ao conhecimento da verdade" (cf. Sto Tomás de Áquino. De malo, IX, 1)

Esta busca interior só é satisfeita quando se encontra com aquele que é "Caminho, Verdade e Vida" (Jo 14, 6)

Caro, Jovem, em nenhum lugar encontrará repouso para teu coração inquieto, senão em Cristo, "Podes procurar tudo longe dele, mas sempre encontrará somente o nada...". 

"Porque nada existe senão n'Ele e para Ele" (Col 1, 16)