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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Venit Adoremus!




"Deixemos para trás as baixas concupiscências da carne e vamos à Belém do alto, ou seja, a casa do pão, não fabricado, mas descido do céu" 
(S. Beda, Venerável. Sermão de Natal)


"Não havia lugar para eles na estalagem"  
( Luc 2, 7)





                                    * * *                                                             

     Naquela noite, aquele santo casal, buscava abrigo para a hora mais sublime da humanidade. A encarnação do Verbo Divino. O Emanuel prometido desde tempos imemoriais. Aquele de que fala as Escrituras que "traria o principado em seus ombros"  (Is 9, 6) e "sentaria sôbre o trono de Davi" (Is 9, 7) . 
Com menções tão honrosas, quem poderia supor que este menino viria de forma tão simples? Não tinha nem lugar para nascer. 

Quem imaginaria que ao invés de um palácio real, ele nasceria numa gruta; ao invés da grandiosa Jerusalém, ele viria da pequenina Belém?

As cenas do Evangelho são cenas que se perpetuam na história. Não havia lugar para eles na estalagem daquele tempo e, há lugar nas estalagens dos tempos modernos? 
Em nosso século Cristo foi banido de todos os ambientes e da maioria dos corações. 
Nestes tempos então passamos a entender porque Jesus nasceu numa pobre gruta. Porque o mundo não o quis em seu meio. O mundo O rejeitou naquela noite, e O rejeitaria em todos os seus séculos; o baniria para os seus reconditos estabulos, catacumbas, para às suas periferias.

Nesta noite mística, todos tem seu lugar. Tu também estavas lá! Ou nos pastores que vinham de longe para adorar o menino, -- que tinham o coração voltados para o alto e puderam reconhecer o sinal de Deus naquela noite --, ou nos donos da estalagem que estavam demasiadamente ocupados com lucros, e  recusaram dar pousada a Cristo. No ímpio Heródes que vomitava ódio contra o Menino, ou nos escribas indiferentes a todos os sinais do céu.

Quem encontrará o Menino para adorá-lo nesta noite? Os que tem olhos e coração voltado para o céu. "As coisas do alto" de que fala S. Paulo. Todos naquela noite tinham os olhos e os corações fixos na terra, só aqueles pastores, de terra longínqua, tinham o coração voltado para o céu e, puderam ser guiados a presença da Divina Majestade. 

  Os homens daquela época -- e desta -- estão demasiadamente cheios de si, e vazios de Deus, tão ocupados, que não tem tempo para contemplar o céu nesta noite santa! O céu transcendente, e o céu imanente que há em si. Só os puros e interiores veem sua estrela no oriente! "vimos sua estrela no oriente e viemos adorá-lo" (Mat 2., 2).


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Mas nesta noite queremos contemplar o Menino como os pastores e cantar como os anjos e  trazer a sua presença o ouro da caridade, o incenso da oração e a mirra da humildade. 

E chorar nossa imensa indignidade. Talvez por isso neste santo lugar, também teve espaço para os animais. Queremos derramar nossas lágrimas sobre aquelas santas palhas que receberam o santo corpo de Nosso Senhor, por tão grande misericordia com os homens! 

Gloria in exclesis Deo.
Queremos entoar um canto de amor, com os anjos e toda criação ao Deus Criador, que se faz homem. Cantare amantis est - cantar é próprio de quem ama, dizia Sto Agostinho.

 Voltemos, como os pastores, o coração para o céu, -- sursum corda!

Venite adoremus! O pão do céu, que nasce em Belém, a casa do pão, que nesta noite entende o seu significado.

Abençoado e santo natal a todos!


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Sacerdote de Jesus Cristo






Sacerdote de Jesus Cristo,
Imagina que o Senhor te fala da maneira mais tocante, como ao povo judeu: 'Dize-me que mal te fiz? Ou antes, que bem tenho deixado de te fazer? 

Tirei-te do meio do mundo,
Escolhi-te entre tantos seculares,
Para te fazer meu sacerdote,
Meu ministro, meu amigo,
E tu, por um interesse miserável, por um vil prazer,
De novo me pregaste na cruz

Pela minha parte, todas as manhãs no deserto desta vida,
Te tenho saciado com o maná celeste,
Isto é, com a minha carne divina e com o meu sangue.
E tu tens me esbofetado, flagelado por tuas palavras e ações imodestas,

Escolhi-te como um vinho que devia fazer as minhas delicias;
Por isso infundi na tua alma tantas luzes e graças, Para que produzisses frutos doces e preciosos,
E tu só me tens dado frutos amargos.

Fiz-te rei... Eleivei-te mesmo acima de tosos os reis da terra,
E tu coroaste-me de espinhos,
Com os teus maus pensamentos consentidos.
Cheguei a fazer-te meu vigário,
E entreguei-te as chaves do céu,
E fiz de ti um deus,
E tu, desprezastes as minhas graças, a minha amizade,
Crucificaste-me de novo.



(Sto Afonso Maria de Ligório, A Selva, I parte, Exort)