Nota
Preliminar:
Uma
atitude constante nos debates modernos é a redução do oponente a
figura de Hitler. O filosofo Leo Strauss, em 1950, chamou a esta
postura de Reductio ad Hitlerum (cf. Natural Right and
History, c. II)
Por
se conhecer bem o peso psicológico desta comparação, passou-se a
abusar dela, em níveis demenciais, de modo que, a reductio ad
Hitlerum tornou-se o grande argumento de quem não tem argumento.
O
advogado Mike Goldwin observa
em seu afamado Goldwin’s Law
que na modernidade, a
medida que uma
discussão
avança, especialmente
discussões políticas e religiosas,
é comum,
a certa altura do debate, que
um dos lados –
especialmente o que se ver
mais desfavorecido – apelar
para a reductio ad Hitlerum.
Portanto, se você ainda não
foi rotulado com esta
infame pecha, prepare-se!
Mas
esta
postura retórica
tornou-se ainda mais insana
com a introdução daquilo que ouso chamar reductio ad
fascismum, quando toda
oposição à pautas esquerdistas é imediatamente classificada como
fascismo; desequilibrando, mesmo que parcialmente, o discurso do
oponente.
A
recorrência desta postura exige algumas reflexões
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É
clássica a atitude das massas acéfalas alinhadas em torno do ideal
marxista que ao ouvir qualquer discurso que desentoe do que foi
condicionado a crer na tertúlia revolucionária, aplica
imediatamente ao oponente a velha pecha de fascista.
Na
maioria das vezes o xingamento não faz nenhum sentido e o individuo
que o profere não faz a mínima ideia de seu significado, mas tal
redução é uma arma verbal que costuma ser muito eficaz para
neutralizar a ação do oponente.
A
inconsciência das turbas que se utilizam deste recurso lembra uma
famosa experiência da psicologia moderna realizada por Ivan Pavlov
(1849-1936). Pavlov tentou provar que algumas reações,
aparentemente biológicas, são auto-impostas ou forjadas por
relações condicionadas entre estímulos externos e respostas
internas (cf. Conditioned Reflexed: an investigation of the
physiolical activity of the cerebrl cortex).
Para
provar a teoria, Pavlov submeteu alguns cães a uma experiência, na
qual, a princípio notou uma relação entre a salivação (resposta
incondicionada) e a comida (estimulo incondicionado). A experiência
consistia em fazer os cães associarem a chegada da comida ao toque
de uma campainha (estimulo neutro – estimulo que não produz
resposta).
Com
a repetição diária daquela relação, com o tempo, os cães
começaram a salivar com o simples soar da campainha, mesmo que em
seguida não houvesse comida.
Pavlov
chamou a este comportamento de resposta condicionada, ou seja,
aprendida com a repetição exaustiva de uma relação entre dois
fatores incomuns.
A
técnica simples de Pavlov ajudou a descobrir a condicionalidade de
certas reações químicas, tornando a experiência um marco do
Behaviorismo.
O
problema é que as experiências de Pavlov deixaram de ser aplicados
em cães e passaram a ser aplicadas em massa, por décadas, as
reduzindo a um estado de dependência mórbida a um comando, mesmo
que este, fosse completamente absurdo, como vemos se reproduzir nas
ações e nos gritos de ordem característico das hordas
esquerdistas. Todos percebem a incongruência dos chavões e das
atitudes, menos os que os proferem.
Quase
um século após a experiências em Riazan, as conclusões de Pavlov
continuam sendo aplicadas em larga escala, sob novo cenário, e novos
instrumentos. No lugar da refeição canina, se colocou o
contraditório, que passa a ser estimulado com frequência
torturante, de modo que, com o tempo, os indivíduos condicionados,
passavam a fazer associações sem nexos, e acreditar na coerência
da associação.
A
associação constante entre expressões pejorativas a pessoas ou
grupos, mesmo que uma coisa não tenha a mínima relação com a
outra, fez as hordas revolucionárias agirem como os cães de Pavlov,
de modo que, basta ao antílope a frente soar a campainha diante do
oponente, que a matilha inteira se colocava a salivar raivosamente, e
proferir o insólito xingamento (fascista!), mesmo que não faça a
mínima ideia do que ele signifique, ou mesmo, do que esteja fazendo.
Mas
o que é esse tal fascismo?
O
termo fascista usado a torto e a direito pelos militantes de
esquerda, já perdeu completamente o sentido pelo uso indiscriminado,
e passou a ser usado como mero instrumento de pressão psicológica.
Ou seja, se você não é de esquerda, você é automaticamente
fascista!
Para
esquerda não importa o sentido de uma palavra, importa que ela pode
ser usada de forma arbitrária, e contrária a seu significado, como
arma verbal.
Por
exemplo: a esquerda pega as palavras mais bonitas de um idioma e as
aplica as coisas mais horrendas (como aborto; invasão de terras;
eutanásia, etc) para torná-las belas; ou pega os adjetivos mais
odiosos e os aplica a seus inimigos, com o fito de torná-los odiados
por todos. Esta tem sido a ponta de lança das esquerdas há décadas
(Palavras empregadas de forma arbitrária)
E
como caixa de ressonância para este delírio linguístico, se usam
as turbas ensandecidas de idiotas úteis, geralmente recrutados em
cursinhos populares, faculdades e escolas públicas, onde há décadas
o discurso marxista imperou.
Sempre
que questiono a um desses militantes que berram alucinadamente
palavras de ordens nos protestos sobre o que é fascismo, o indivíduo
se vê perdido em densas trevas, sua frio, tenta enrolar, mas não
esconde a patente ignorância em relação ao termo que aplica a
torto e a direito aos oponentes. E por certo, se conhecesse o termo
com o qual se esgrime, jamais o utilizaria tão irresponsavelmente.
Nenhuma
característica do que é classicamente conhecido como fascismo
se assemelha ao que se convencionou chamar modernamente de Direita. O
fascismo é um movimento estato-cêntrico, caracterizado por um
partido único de massa (como faz parte dos sonhos do Partido
Comunista em qualquer uma de suas ramificações), que se impunham
pela violência; pelo culto irrestrito a um líder (como fazem nos
partidos de esquerda com seus líderes); exaltação da coletividade
sobre a individualidade, e o tão conhecido espírito
corporativista.
Portanto,
um esquerdista ao xingar o oponente de “fascista”, nada mais faz
do que projetar sua própria imagem no adversário, cumprindo com
exatidão a velha máxima atribuída a Lenin: “Xingue-os do que
você é!” Portanto, qualquer xingamento que hoje você venha
aplicar a um esquerdista, amanhã ele aplicará a você. Esta tem
sido uma prática recorrente em suas ações.
Até
grandes combatentes do fascismo como Charles de Gaulle, e Winston
Churchill, receberam da esquerda o rotulo difamante de fascista.
Este último, antevendo que aquela atitude seria uma das marcas
características da esquerda nascente, afirmou profeticamente: “Os
fascistas do futuro, se chamarão a si mesmos de antifascistas”.
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Antes
de mais nada, cabe lembrar que o próprio Mussolini sempre recusou
rotular o fascismo dentro do clássico espectro político (Esquerda e
Direita). Mas, é importante lembrar também que, o que se entende
atualmente por Direita tem como uma de suas características
principais, a defesa de maior liberdade individual em relação ao
Estado; o total oposto do que foi o fascismo, que tinha como lema:
“Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada fora do Estado”.
Quem sempre esteve mais próximo deste lema?
Mas
este detalhe, obviamente, não basta para convencer um cérebro
esquerdista, entorpecido por décadas de pesada manipulação e
doutrinação ideológica, de que o fascismo tem origens marxistas. É
necessário recorrer a mais detalhes. Portanto, voltamos nossos olhos
ao pai do Fascismo: Benito Mussolini.
Benito
Mussolini (1883-1945) teve sua formação política desenvolvida
dentro da filosofia socialista. Desde a infância, sob a tutela do
pai Alessandro Mussolini, um fervoroso comunista, que inclusive lhe
deu o nome de Benito em homenagem ao revolucionário mexicano Benito
Suarez, até sua adesão formal ao Partido Socialista Italiano entre
1901 a 1914, onde chegou, inclusive, a liderá-lo em 1912.
Mussoline
ainda teve como sua grande inspiração ideológica o escritor e
sindicalista francês George Sorel (1847-1922), fundador de uma das
correntes revisionistas do marxismo clássico. Mussolini assimilou
devotamente as teses de Sorel, exposta em seu livro Reflexions sur
la violence, no qual defendia a tese de que a revolução do
proletariado deveria ser forjada por meio da violência. O fascismo
foi, sem dúvida, um dos braços mais famosos das teses de Sorel.
Em
contrapartida, alegam as esquerdas: “Mussolini perseguiu
comunistas!”
Ora,
e quem mais perseguiu comunistas na história senão os próprios
comunistas? Stalin perseguiu ferrenhamente os trotskistas, e por isso
Stalin deixou de ser considerado comunista?
A
verdade é que o fascismo quis se impor como uma doutrina original,
em oposição direta as suas raízes comunistas, algo corriqueiro
entre os movimentos comunistas.
Em
“La Dottrina del Fascismo” (1935), escrito por Mussolini e
Gentile (este último, um fervoroso hegeliano, como fora Marx),
dizia:
“O
fascismo é contra o socialismo [...] Mas, na órbita do Estado
organizador, o Fascismo quer que sejam reconhecidas as
exigências reais que deram origem aos movimentos socialista e
sindicalista, fazendo-as valer no sistema corporativo, que concilia
os diversos interesses na unidade do Estado” (Cap. I, VIII). E
no mesmo opusculo, se confessa que as fontes teóricas do fascismo
advém do socialismo.
O
ódio que o fascismo descarregou sobre o marxismo mais tarde, não
apaga toda influencia que este exerceu sobre sua origem. Não à toa
o fascismo fora chamado il figlio bastardo del comunismo
(O filho bastardo do comunismo).
Além
das conhecidas acusações de que o fascismo fora um movimento de
direita, ainda se levanta a afirmação absurda de que Mussolini era
católico. Algo ainda mais risível diante do conhecido
anti-catolicismo de Mussolini expresso em algumas de suas obras, como
as blasfemas Christo è Cittadino
(Cristo e cidadão) e
l’amante del cardinale (A
amante do Cardeal). Nas quais, o duce desfere
golpes terríveis à imagem de Cristo e a Igreja Católica.
No
entanto, apesar de seu anti-catolicismo, o ditador concebeu o
fascismo de forma religiosa – como toda a religião política:
“O
fascismo é uma concepção religiosa, onde o homem é encarado sob o
ponto de vista da sua relação com uma lei superior [...] elevando
(o individuo) a membro de uma sociedade espiritual [o fascismo]”.
(La Dottrina del Fascismo,
I, V)
Esta
sociedade espiritual deveria ter o Duce como deus, e o
fascismo como religião.
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Assim
como toda a esquerda, o fascismo é “anti-individualista”. O
estado deve ser a força motriz da consciência e da vontade humana.
Por isso, a massificação é uma das fortes características do
fascismo.
O
Fascismo fala em nome da liberdade, mas de uma liberdade tirânica.
Mussolini resume a liberdade fascista nestes termos:
“A
liberdade do Estado e do individuo no Estado, uma vez que, para o
fascista, tudo está concentrado no Estado e nada existe de humano ou
de espiritual, e muito menos tem valor, fora do Estado” (La
Dottrina del Fascismo, I,
VII). O fascismo é
assumidamente totalitário. Sem oposições, classes, somente um
Estado Soberano, controlado por um partido.
As
massas fascistas do tempo de Mussolini não diferem em nada das
atuais militâncias esquerdistas que vemos por aí gritando palavras
de ordem. Muitos desses acéfalos, crê piamente que está se
lançando contra o fascismo, sem perceber que estão combatente a
própria imagem projetada em seus inimigos e reproduzindo fielmente
os ideais que moveram o espírito de Benito Mussolini.
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Segundo
o Dictionnaire
Historique
des Fascismes
et du Nazisme
de
Serge Berstein e Pierre Milza:
“Não existe nenhuma definição universalmente aceita do fenômeno
fascista, nenhum consenso, por menor que seja, quanto à sua
abrangência, às suas origens ideológicas ou às modalidades de
ação que o caracterizam”.